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Após 40 anos, equipes podem se enfrentar em decisão |
São
Paulo, 10 de abril, por volta das 22h... estava levemente bêbado. Uma bola de
futebol é colocada na marca do pênalti. Ele fica parada, esperando ser
carinhosamente agredida por algum jogador da Ponte Preta. "Time não está predestinado a ir à final, não tem jeito', diz um amigo.
Após
ser tocada pelo sujeito, a pelota decola e vai parar no fundo das redes,
levando ao pleno delírio jogadores e torcedores da Macaca. Ao mesmo tempo, corintianos se
emocionam. Uma mistura de medo e felicidade nos toma por completo: depois de 40
anos, o timão tem possibilidade de enfrentar a Ponte numa final de paulistão!
Bem,
para que isso aconteça, é claro, o Timão precisa fazer a lição de casa e vencer
o São Paulo, no domingo, fora de casa. Coincidentemente, o Timão também ganhou
do Tricolor naquele ano de 1977... que sofrimento!
E
a Ponte?
A
Macaca precisa bater o Palmeiras como em 77.
História
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Festa alvinegra, no terceiro jogo |
No
rádio, Osmar Santos emprestava sua voz para o espetáculo. “Olha a festa do
Brasil! Você enche de lágrimas os olhos desse povo, você enche de felicidade o
coração dessa gente, Corinthians”, berrou o narrador.
Basílio
acabara de fazer o gol do título, e a massa alvinegra se libertou dos 23 anos
de jejum. Loucos, os 86.677 torcedores quase levaram o Morumbi ao chão. A casa
Tricolor era repleta de corintianos, que aos 36 min puderam extravasar: o Timão
estava fora da fila.
O
jornalista Celso Unzette, autor de pesquisas sobre a história do Corinthians,
lembrou que a maioria torcedores alvinegros eram pessoas que vieram tentar a vida em
São Paulo, e se identificavam com a luta. “O clube é um fenômeno social que é
resultado da luta de resistência’, define o jornalista.
“Ter
participado daquele título foi maravilhoso, sabíamos do anseio da torcida em
acabar com aquilo. Acabamos aglutinando toda aquela energia, aquela ansiedade,
e conseguimos dar o retorno com o título. Isso não tem preço”, diz Wladimir.
Último título, vice campeonato e família
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No jejum, Corinthians perdeu título de 74 para o seu maior rival |
1954...
nesse ano o Corinthians conquistara o último título. Depois disso, nada. Pior:
a torcida alvinegra, loucamente apaixonada, teve de lidar com dolorosas
derrotas, como a do Paulista de 1974, onde o alvinegro perdera para seu maior
rival, o Palmeiras.
“Tinha
um grupo, uma família formada pelo Oswaldo Brandão e pelo Vicente Matheus, que
fez com que nós alcançássemos esse objetivo”, relata Brasília, autor do gol que
dera o título ao Timão.
O
time de Brandão começou bem o campeonato, mas a equipe tinha de ir voar no segundo
turno porque o Botafogo venceu o primeiro turno. E fora justamente isso que aconteceu.
Nas
primeiras quatro partidas, o time alvinegro paulistano perdeu duas. O time
perseguia a vitória desesperadamente. Como não havia outra saída, o time venceu
Botafogo, Portuguesa e São Paulo. “Agora é com vocês”, disse Brandão à equipe.
A decisão
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Decisão teve três jogos |
Primeiro
duelo... o Corinthians conseguiu vencer a Ponte. “Fui na raça dividir a bola
com o goleiro Carlos e ela explodiu no corpo dele e batei com força no meu
rosto... foi parar no fundo do gol da Ponte”, contou Palhinha, autor do gol.
Segundo
confronto... recorde de público: 138.032 torcedores. Majoritariamente
corintianos, que suplicavam pelo fim do jejum e pediam fervorosamente por um
empate. O título, enfim, estava pertíssimo.
Aos
42 minutos do primeiro tempo, Vaguinho abriu o placar e fez a Fiel,
ensandecida, gritar como uma lunática após ver seu ídolo. Faltavam 23
minutos... Dicá empatou. O 1 a 1 deixava o título no Parque São Jorge, mas Rui
Rei virou aos 38 minutos e calor o maior público da história do Morumbi.
Terceiro jogo
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Ufa! acabou o jejum |
13
de outubro, de 1977... “o Corinthians vira explosão e vira o maior espetáculo
do território brasileiro! Corinthians, você acima de tudo é a alma desse povo!
Você liga a imagem do sorriso de felicidade das raízes do povo! Corinthians,
hoje a cidade é do povo! Tem que ter festa alvinegra! Tem que cobrir as ruas da
cidade com paixão e loucura! Com felicidade, que desabrocha e contagia o povo
pelas avenidas! Basílio, Basílio, Basílio! Trinta e sete minutos do segundo
tempo!, narrava Osmar Santos.
De
fato, foi a explosão de milhões de apaixonados, tão maltratados pelas decepções
que permeavam o Corinthians. O sofrimento, é claro, continuou todo o campeonato
paulista de 1977. No último jogo, foram necessários 81 minutos para que Basílio
anotasse o gol alvinegro.
“Eu
me acho um escolhido, porque se for analisar, tivemos duas oportunidades, que
foi o lance com Vaguinho, com Wladimir e finalizamos comigo. Algo estava
preparado e eu não sabia, e nós não tínhamos nem essa dimensão referente a
nossa conquistada”, diz Basílio, emocionadamente, em entrevista ao portal
Terra.