domingo, 19 de julho de 2015

Ensaio com alguns cigarros e The Doors na vitrola

Essa geração e seus costumes patéticos. Twitter, whatsapp, facebook, tinder e instragram. No mundo de hoje, os jovens conversam pelas redes sociais. Cara a cara, corpo-a-corpo, não há. E até hoje ainda não consegui encontrar o motivo. Facilidade? Porra. Vai dizer que é preferível conversar com uma garota por whatsapp a pessoalmente? Se a resposta for “sim”, o mundo deve estar perdido mesmo. E eu ranzinza de demais (aos 19 anos).

Tenho 19 anos. Bebo sempre que posso. E escrevo quando sinto que as palavras estão batendo à porta de meu cérebro. Vou ao computador. Redigo sentenças simples. Nunca gostei de complicar a linguagem. Todos têm direito de entender o que escrevo. Contudo, sinto-me excluído. A vida tornou-se um espetáculo. Estamos num palco, encenando sei lá o quê, esperando que alguém curta nossas merdas nas redes sócias. Eu rio. Os homens estão mais concentrados em tirar fotos, e pouco preocupados de quê. Sempre haverá uma selfie. Ou melhor: um babaca com um celular nas mãos, procurando o momento inoportuno para apertar o botão.

Recentemente, lembro-me de estar no pronto, esperando o coletivo. Até aí, tudo bem. Faço isso há dezenove anos. Escola, casa; depois faculdade, casa e rua à noite. Acendi um cigarro. Observei as pessoas ao meu lado, e nada demais. Havia uns caras conversando alguma merda qualquer. E eu não tinha sequer algum interesse na prosa alheia. Continuei a tragar meu cigarro. Depois, joguei-o ao chão e pisei em cima. Uma garota de olhos verdes, cabelo moreno, com roupa justa, viera em minha direção, com o dedo em riste.

- Que porra você acabou de fazer?! – bradou a moça.

-Só paguei o cigarro – respondi, com um sorriso safado no canto da boca.

- E você, então, costuma apagar essa merda no chão mesmo.

- Apago sempre no lugar mais próximo.

- Hum. Que babaca!

Impressionado, medi-a de cima a baixo. Parei em seus olhos. Encarei-os, com o mesmo sorriso safado no canto da boca. Ela continuou:

- O meio-ambiente agradece, se você cuidar dele, sabia?

- E você, cuida dele?

- Tento.

- Pô, pelo jeito que falou, achei que era guardiã da natureza, que queria salvar o planeta.

- E quero!

O ônibus chegou. Ela foi para a outra entrada. Eu entrei pelos fundos. Não a vi. Havia mais ou menos umas 70 pessoas dentro do coletivo. Estava calor, e a camiseta dos Rolling Stones que eu vestia, escorria suor.

Comecei a refletir acerca da contemporaneidade. Celulares, tablets, internet. As pessoas vivem diariamente com essas ferramentas. Se algo acontece com elas, ficam estranhas, estressadas. Então, tudo se torna motivo para discussão. Como argumento, os senhores da tecnologia afirmam que não há como guiar a vida, sem os aparatos eletrônicos. Eu prefiro deixar meu cérebro livre. E jamais nego uma conversa cara-a-cara. Simplesmente porque não dá.

Há pouco tempo, eu ainda convivia com um desses celulares que apenas fazem ligação. Era um LG, preto. Depois, evoluí. E fui assaltado, com direito a arma apontada em minha têmpora. Recuei. Senti as mãos tremeram, enquanto o ladrão caminhava a passos lentos, sorrindo, com 10 reais, minha carteira e celular. “Que porra é essa: compro um celular moderno, o cara vem e me rouba”, pensava, buscando explicação plausível para entender a epidemia dos smartphones e iphones.

Minha geração está condenada a seguir em empregos que odeiam. Por quê? Simples: não tem coragem de abrir mão das ferramentas e aparatos tecnológicos. Eles chegam em casa, e vão direto para a tela do celular, conversar, frivolamente, com mulheres. Vomitam frases feitas e chavões. Os jovens da geração XVIDEOS não sabem como conquistar uma dama. Não tem um papo profundo. Músicas? “BARA BARA BERE BERE”, cantam. Floyd, Stones, Doors nunca ouviram.

- Beck, muda esse teu estilo – dizem os pessimistas.

- Mudar pra quê? Pra ser mais um? – respondo.

- Não seja diferente dos outros.

- Então quer dizer que tenho de ser iguais a eles, como eles?

- Não é isso.

- Então o quê é?

- Você é muito arrogante.

Dostoievski, em Notas do Subterrâneo, escreveu que o ócio é a mãe de todos os vícios. Faz sentido. Nietzsche disse que Dostoievski é o único psicólogo em que confia. Mas eu quero viver como Henry Miller. Quero sentar-me, sem compromisso, e esperar. Quero apenas viver, sem a pressão do tempo, do dinheiro. Precisamo-nos de um tempo para nós. Ninguém suporta a solidão. O homem é um ser contraditório. Ele enxerga nos outros os problemas que não vê em si.

Tudo é possível. Até consegui concluir esse texto.