Namorar é bom. Isso é quase tudo
que sei sobre o amor. Nunca soube muito bem como me comportar diante da mulher
amada – ou qualquer outra mulher que me direcionasse um olhar cintilante e
florescente. Os encontros com a dama pretendida eram um trabalho jocoso que
transitava entre insegurança e excitação. Do tipo que me fazia pensar: “vou com
a minha velha camiseta dos Rolling Stones, ou com uma camisa social que têm os
botões todos em plena atividade?”.
Em minha inexperiente cachola de
amante aprendiz pululam questões de cunho fervilhante. Por incrível que pareça,
sempre surgem dúvidas e perplexidades relacionadas à vestimenta. Quando li Ofício de viver, do Pavese – um misógino
doidão que não podia viver sem o charme feminino -, comecei a me atentar pros sinas
práticos do corpo delas, como o olhar, por exemplo, a característica e o sinal
mais sublime do ser feminino.
Foda mesmo é quando você tá na
mesa, a conversa fluindo e, de repente, bate aquele tesão incontrolável. O
maço de cigarro vai embora como se fosse a última musica do Let it be. Controlar o desejo sexual,
pondero, é uma atitude que requer certa experiência do cara – e alguns diálogos
consigo mesmo, digo, com seu desvairado psiquismo.
O que eu devo fazer? Devo cair de
boca aqui mesmo? Ou na sala do seu apê, ou do meu apê, que é um lugar
sossegado, pois meus velhos estão viajando? Dá pra pitar um du bão e ouvir um
The Doors, ou qualquer outro som, cê que manda, gatinha.
Ou, também, a gente pode assistir
àquele filme do Godard, sabe? Ah, cê não curte cinema cabeça? É chato, eu sei.
Mas podemos, sem problemas, ver uma comédia romântica, estilo Woody Allen. O
estilão dele é do caralho, né? Mas vamos evitar os clichês hollywoodianos, que
como diz o Jabor, num raro texto em que achei bom, prostituiu Aristóteles, cuja
mocinha morre de câncer no final, quando todos os obstáculos do casal pareciam superados.
Esses filmes fazem escorrer
algumas lágrimas deste camarada bebum que vos escreve. Outono em Nova Iorque é um desses. Chorei pacas quando o vi. Tava
meio bêbado, ainda. Imagine a cena. Dizem que homem que é homem não pode chorar
em hipótese alguma. Lorota pra boi-dormir, cara. Homem chora, sim. Outro dia vi
o Marcelo Rubens Paiva, numa crônica, falar que chora facilmente. Confesso que
ao findar a leitura, senti-me livre como uma criança que joga bola com os
amigos, após a aula.
Mas, e depois do filme? Fumaremos
um cigarro? Ou vamos direto pro sexo?
Cansei de me perder em questões
ridículas como essas. Ao mesmo tempo, intuía, no fundo do meu raso e
superficial entendimento dos meandros femininos, que vestir as mais adequadas
roupas, adotar rebuscadas maneiras, ver tal e qual filme, ouvir este ou aquele
disco, comer neste ou naquele restaurante, beber naquele bar decente ou naquela
espelunca, não ia mudar grandes coisas no psicossomatismo da mulher desejada. A
química do amor é espetacularmente misteriosa. É um jogo cujo objetivo é ser subjetivo.
Deu pra enteder? Porra nenhuma, não. Em todo caso, vale a pena ficar atento as
dicas e conversas das amigas mais íntimas.
Dia desses, folheando uma revista
feminina na sala de espera do meu médico, topei com uma “consultora
sentimental” dando dicas primorosas sobre como um homem deve ser e estar ao lado
da dama que ele corteja. A lista, meu amigo, é longa. Deveria tê-la lido alguns
anos antes. Evitaria inúmeros transtornos.
Pra começo de conversa, nada de
banho de loja antes de encontrar a mina. Nem de negligência indumentária. A
regra básica é o meio-termo: arrumadinho, mas sem exibicionismo. E é bom
maneirar com os palavrões, porra. Tampouco é recomendável jogar na conversa
assuntos cujo entendimento se restringe a quem tem phd em Ciências Sociais, na
USP. A puta da realidade fica pra depois – se houver um depois. O papo
cabeçudo, quiçá, nem deve ser colocado em pauta, sobre a possibilidade de ela
lhe deixar chupando dedo junto de sua dialética marxista.
Até de etiqueta sexual a tal da
consultora falava. O recado era basicamente: não vá com sede ao pote, de modo
que você deve respeitar o tempo dela, não invente posições que requerem certo
malabarismo, não fique bradando sacanagens baratas ao pé do ouvido da moça na
hora do lesco-lesco, jamais dispense camisinha, nem diga que é uma lúbrica
merda transar com o pau revestido, não a induza a notas positivas sua performance
sexual. Não demonstre, jamais, afoiteza em vazar depois da foda. E por aí
seguia a preleção da consultora sentimental.
Fiquei, confesso, um pouco
deprimido ao ler aquilo tudo, que me soava como um murro bem no meio das minhas
convicções machistóides, jorrada, reconheço, aos borbotões na mesa do boteco e,
inclusive, saudada e apoiada pelos companheiros de birita.
Por fim, corri os olhos sobre as
dicas da consultora, com considerável pressa, pra ver se encontrava alguma
coisa em que me sobressaísse.
Achei um, finalmente:
“O homem tem quer ser limpinho,
de preferência emanando um discretíssimo perfume masculino à base de madeiras
aromáticas.”
Bem, tirando as “madeiras
aromáticas”, acho que posso ser considerado, tranquilamente, um cara limpinho.
Não dispenso meu básico chuveiro diário. Ainda mais com esse calor surreal que
faz em Goiânia. Calor este que deixaria Salvador Dalí cabisbaixo. Agora de uma
coisa posso me gabar: as mulheres já me xingaram de tudo e mais um pouco, com e
sem razão, mas nunca pintei de fedido. Não que eu tivesse ouvido, pelo menos.
Como cantavam os Beatles:
“Something in the way she moves/Attracts me like no other lover”.