segunda-feira, 25 de maio de 2015

A beleza da vida

Enquanto escrevo, a noite desponta no céu. Terminei a frase, deu-me vontade de fumar um cigarro, arejar o pensamento e colocá-lo em ordem. Saí de frente do computador. Enchi uma xícara de café, bebi-a e abri a porta de casa. Ao fechá-la, deparo-me com uma garota. “Olá” – digo. “Tudo bem” – responde ela. Abri um sorriso no canto da boca e segui até a guarita do meu condomínio.

Final de tarde. Calor, preguiça e um texto para escrever. Sempre deixo meus afazeres para depois, e quando chega o dia de entregá-los, fico desesperado. Resmungo e nada resolve. Mas foda-se, a vida é assim. Alguns querem dinheiro, carros, status, eu quero apenas uma boceta e se possível um uísque original para adocicar a transa. Dei uma volta na esquina. “Podia beber hoje, né” – pensei, alimentando uma hipótese, que têm chances de se concretizar. Levei as mãos ao bolso, e encontrei uma cédula de cinco reais. Dava uma cerveja e um cigarro solto. Fui até a distribuidora de bebida e comprei-os.

Caminhando de volta à minha casa, eu pensava em como terminar aquele texto. Precisava pelos menos mandar algo para o jornal. Eles haviam me mandado um e-mail. Nem lhes respondi. Hoje, sem ter escapatória, sentei-me em frente ao computador e escrevi. O ensaio – sobre a contracultura que seria pulicado no caderno opinião pública do Diário do Cerrado – dava-me trabalho.

Levei minha mão ao trinco da porta e girei-a. Entrei em casa, tirei meu tênis e apaguei o cigarro no cinzeiro. Finalizei meu texto. Ele estava com forma e harmonia. “Agora está faltando a birita” – pensei. Recorri ao telefone. Nada. Todos tinham alguma desculpa. “Hoje não dá, amanhã tenho que trabalhar” – falavam sem entusiasmo. “E daí, eu também tenho” – afirmava caindo na gargalhada. Eu não iria ficar sem beber, disso tinha certeza. Estava buscando uma alternativa para biritar. Tudo é motivo para a bebida. Bebemos na alegria. Bebemos na tristeza. Bebemos para afogar as lágrimas. Bebemos para comemorar a solidão, a monotonia. Bebemos por porra nenhuma. A gente bebe, simplesmente.

Peguei minha mochila e coloquei dois livros dentro dela. Eu tinha de devolvê-los para Rogério. O cara cobrava-me em todo momento. Não podia me ver na rua que vinha com sua voz trêmula e rouca: “Cadê meus livros, filha da puta”. “Calma porra, estou lendo” – sussurrei com as cordas vocais repletas de tabaco, maconha e álcool.

Saí de casa por volta das 20h da noite. Rogério morava perto da Avenida Independência, no Setor Vila Nova. Em frente ao seu condomínio, havia um bar. O dono do boteco já me conhecia e sempre tinha um comentário na ponta da língua. “E aí corintiano safado. O quê você vai roubar?”. Quase sempre optava pela risada. “Me dá uma Antarctica” – pedi, enquanto esperava Rogério – “tenho de lubrificar a palavra”. Após dez minutos, o sujeito apareceu. “Estou sem dinheiro. Não consegui nada, nada” – disse com tristeza no olhar. “Acho que nem vou beber nada”. Balancei os braços demonstrando meus pêsames. “Pode deixar que vou beber por você, cara” – provoquei.

Rogério deu-me as costas e fora embora. Com 50 reais na carteira, eu não iria para casa sem mulher. Iria atrás delas. E falaria palavras de conforto. Eu sei o que elas querem ouvir. Talvez declame algum poema. Ou cante Touch Me.

Sinto o cheio de boceta.

- e aí Mano Jaynes – gritou Selton, com o sorriso que lhe era caraterístico no fundo do rosto – vamos chapar?

Como não havia outra escolha, aceitei o convite.

Selton pediu uma cerveja. Silas, rapidamente, trouxe-a. Selton morou em Portugal durante dez anos. Seu sotaque ainda é um pouco lusitano. Ele é uma figura rara entre os homens. Se colocar vinte pessoas ao seu lado, ninguém será igual a ele. A energia, a facilidade para protagonizar histórias bizarras, faz de Selton um cara único. Com ele é assim: ou você vira seu amigo, ou odeia-lhe. Ele fala ininterruptamente na mesa do bar. Selton carrega consigo o furor da boemia, a loucura da vida, a clareza à bebida e quaisquer tipos de entorpecentes.

Bebemos quatro garrafas de cerveja, e ele sugeriu:

- vamos num bar ali embaixo? Só tem bandido!

- claro, por que não?

Ele dera uma risada e emendara:

- vou buscar um uísque em casa. Daqui a pouco eu volto, de boa?

- de boa – repeti – traga para mim, por favor, uma blusa. Tá frio – pedi, tremendo o corpo, quando o vento do centro-oeste contagiavam meus ossos.

Coloquei as mãos no bolso da calça. Uma criança e uma senhora passaram por mim, e ninguém disse nada. Apenas fitaram-me.

Selton apareceu após alguns minutos, com uma dose, gentil, de uísque em mãos. “Tome um gole” – ofereceu. A bebida desceu leve, suave e bravamente pela minha traqueia.

Bâbados, andávamos no meio da rua, gargalhando e falando palavras misteriosas para os ares. 
Chegamos ao bar. A música que saía da jukebox era um sertanejo universitário. Comecei a sentir os sintomas de náusea. Então Selton, brilhantemente, dera-me cinco reais e disse:

- coloque um som pra nós.

Eu peguei o dinheiro e fui até a máquina. Permanecei por alguns minutos tentando entender como se faz para manuseá-la. Quando descobri, chegou um cara ao meu lado e encarou-me profundamente. De fato, o lugar dava medo. As pessoas, todas, tinham uma expressão brava e triste. Eles simulavam feições de durões, mas não passavam de seres ensandecidos, monótonos e solitários – que assim como eu, estão na noite, atrás de bebida e mulher. Selecionei Tim Maia, Planet Hemp e Raul Seixas; Selton pediu mais um litro de cerveja. “Viva, viva, viva a sociedade alternativa/Viva a sociedade alternativa” – cantava Raul. Tive a impressão de que tudo mundo soltou-se quando a canção entoou no boteco. No intervalo de uma música à outra, um amigo de Selton chegara. O sujeito tinha aparência comportada. Falava pouco e quase nunca fazia uma brincadeira. Era o tipo de pessoa que a qualquer momento pode tirar uma arma e pôr em sua têmpora. Tinha o aperto de mão forte e robusto. “Há umas garotas na mesa ali, vamos sentar lá?” – propôs o cara. Sem pestanejar, levantamo-nos e fomos. Distribuí beijos nos rostos das moças e sentei-me ao lado de uma delas.

Sem falar nada, minha mão roçou as pernas da moça que estava sentada próxima de mim. Então tardei a falar junto ao ouvido. As palavras soavam ofensivas. Porém, ela retribuíra. Tocara em meu pau, e ele subira. “Aqui não” – murmurou em meu ouvido, com as mãos dentro de minha calça. Uma garota que sentava-se em meu lado, olhara com espanto. Nada disse.

- vamos sair daqui – disse, enquanto sinalizava para Selton – a gente pode conversar num lugar mais a vontade.

- tudo bem.

Andamos cerca de duas quadras. Ela parou e beijou-me. Enquanto eu sentia seus lábios, suas mãos agarravam meu caralho. Em pouco tempo, ele estava duro, pronto para a foda. Ela notou a ereção e logo desabotoou o zíper da calça, mergulhando em minha rola. Eu só via o movimento de sua cabeça, sendo iluminado por um poste que havia em cima de nós. Quando saciou um pouco, eu virei-a de quatro e enfiei meu pau naquela bocetinha e um cara passou rindo. Eu a bimbava, ali mesmo, na rua. Um guarda parou. 

Tentei tirar o caralho de dentro da boceta, mas não dera tempo. O policial observou-me e falou:

- dando uma trepada no meio da rua, cara?

Sem graça, concordei com a cabeça.

- mas você sabe que é crime, né – disse com segundas intenções. – eu posso levá-los para a delegacia – completou.

Eu acendi um cigarro e pensei em como iria sair deste problema. Cogitei várias desculpas. Depois cheguei à conclusão de que nenhuma o convenceria.

- seria bom se você molhasse minha mão, não? – sugeriu o policial de forma sarcástica. – a vida tá difícil para todo mundo. Com a crise financeira, a gente não sabe o que fazer para viver com dignidade.

Por um momento considerei mandá-lo à merda. Contudo, entreguei ao guarda uma nota de 20 reais. Ele a principio resmungara. Eu vesti as minhas calças, a garota também vestiu as suas e fomos caminhando, devagar.

“Você é maluco demais, mocinho” – disse-me ela. – “Cê não viu nada ainda, não” – completei.

Olhares, risadas e beijos para todos os lados.

As mulheres são a beleza da vida.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sinônimo de vida pública

Iris Rezende vestia camisa Lacoste listrada e usava calça jeans de brim escuro. Calçava sapatos sociais pretos e lustrosos. Em seus pulsos havia um relógio prateado. Ele falou para nós o seguirem. Imediatamente, Iris perguntou qual sala era melhor. Respondemos que seria a última. “Ela é melhor mesmo. Aqui ficamos escondidos” - disse entre sorrisos e ligeireza.

Iris contara sobre o começo da vida política, quando ainda era presidente do Grêmio Estudantil no Colégio Liceu. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG), na década de 1950. Segundo ele, o curso de Direito é o único que pode auxiliar um político. Paralelo ao Liceu, Iris concursava Contabilidade na Escola Técnica de Comércio de Campinas. Foi presidente dos dois grêmios. Decidiu, neste período, que a trilharia o caminho da política.

Nailton de Oliveira, ex-prefeito de Bom Jardim de Goiás, afirmou que Iris Rezende é “patrimônio vivo e histórico” de Goiás. “Sempre terá eleitor que o respeitará” – reconheceu -  "o adversário sabe de sua força”.

Por conta do sotaque interiorano, tinha vergonha do modo como falava. Aprimorou a retórica e a oratória durante a faculdade. Candidatou-se ao grêmio, no Liceu, sem nem saber o que fazia o presidente da agremiação. Participou do movimento estudantil dos estudantes secundaristas. Viajou a Fortaleza e Rio de Janeiro, com aviões da FAB. “Viajávamos com aviões da FAB. Aqueles que andavam pelo céu” - detalhou.

Em 1958, elegeu-se vereador de Goiânia, pelo PTB. “Na época a Igreja Católica era detentora da maioria dos fiéis. Eu fui o primeiro evangélico a destacar-se na política. Nunca neguei a minha condição de evangélico.” - contou.

Neste instante, seu telefone tocara:

- estou dando uma entrevista para uma comissão de estudantes de Jornalismo. Mas o senhor pode vir aqui, não tem problema - disse Iris ao Dr. Walter, que em poucos minutos chegara ao escritório, onde fazíamos a entrevista.

- vou a Brasília. Venho aqui, amanhã cedo, para tomarmos um café - falou Dr. Walter.

- tudo bem - respondeu Iris.

“Em 1962, elegi-me deputado estadual. Fui o mais votado da História, até então. Quando eleito, apoiei o governador Mauro Borges” - disse. Iris era deputado quando os militares deram o golpe. Ele dissera que Mauro Borges e Leonel Brizola – então governador do Rio Grande do Sul – levantaram a “bandeira” ao João Goulart (Jango) e queriam que ele assumisse a presidência.

Jango assumira a presidência, e o sistema parlamentarista fora instituído no Brasil, com Tancredo Neves como Primeiro Ministro. Porém, o regime perdurou pouco. Jango retornara a ter plenos poderes, após plebiscito. Segundo especialistas, o erro dele deu-se no Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Lá, afirmara que iria acelerar as Reformas de Base (urbana, agrária e educacional). A elite, obviamente, se preocupou e saiu às ruas, pedindo intervenção militar. Na Praça da Sé, em São Paulo, milhares de pessoas protestaram, no episódio que ficara conhecido como “Marcha com Deus pela Família”.

Ele afirmou que toda ditadura é trágica. “Seja de direita ou de esquerda” – ressaltou - “o ideal mesmo é a democracia”. No decorrer da conversa demonstrou-se inconformado com a falta de politização do jovem. “O jovem tem de se interessar por política. Através dela é que se muda. Seja como candidato ou simplesmente na militância, eu aconselho os jovens a participarem da política” - assegurou.

“Esse pouco interesse por política” - continuou - “é herança da ditadura. Ditaduras, geralmente são elitistas, e a militar nem se fala”- completou. Para Iris várias gerações foram prejudicadas por conta do autoritarismo que vigorou no Brasil de 1964 a 1985. Os reflexos, de acordo com o ex-governador, se estendem até os dias de hoje. “Quando eu estudava no ensino secundário, nós éramos todos juntos. Sabíamos das falhas um do outro. Aí vem a ditadura e muda tudo. Ninguém tinha contato com ninguém” - frisou.

Iris elegeu-se prefeito pela primeira vez, em 1966, pelo MDB - partido de oposição ao regime militar. Neste governo, idealizou o mutirão de limpezas que trouxe da “roça”. Asfaltou os principais bairros de Goiânia, como os setores Oeste, Sul, Aeroporto e Bairro Popular. Criou o parque Multirama, cujos brinquedos vieram da Alemanha e dos EUA. Realizou festas de inaugurações, como a da Avenida Anhanguera, em Campinas. “Foram gestos bem pensados de construção da imagem de homem público” – disse Cileide  Alves, em dissertação de mestrado.

Em 1969, teve seus direitos políticos cassados por 10 anos. Ele acha que sua aceitação pela população incomodou os militares. Ele já estava em campanha nas ruas, com cartazes e santinhos. “Iris eleito, povo satisfeito” e “Bom para 70” – eram os jargões que circulavam pela cidade.

A primeira manifestação das Diretas Já fora em Goiânia. Iris falara em discurso, que se eleito, iria fazer uma mobilização. Cerca de 500 mil pessoas participaram do ato, na primeira vez. Na segunda oportunidade, o número de pessoas subiu para 700 mil, segundo a PM.

Ulisses Guimarães, expoente do MDB à época, ligou-o e parabenizou-o pela iniciativa. “Não é justo que tantos Senadores e Deputados se desloquem para prestigiar o movimento. Digam – referindo-se aos líderes – o nome e o Estado que são” – discursou num dos primeiros comícios pelas Diretas Já, realizado em 1984, na Praça Cívica. 

Nas eleições de 1998, Marconi abriu processo contra Iris no Ministério Público. “Durante seis anos o Ministério Público desgraçou a minha vida” - revelou. Nada foi provado contra ele. Mas Marconi seguia agredindo-o, e Iris recorria à sessão de carta dos leitores de O Popular para se defender. “Liguei para o governador (Marconi) e lhe disse: o que provaram contra mim? Nada!” - relatou.

"Só a Dona Iris sabe" - disseram membros que PMDB goiano, que estavam no escritório de Iris. Será que ele se aventurará a mais uma eleição? 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Frases curtas

Graciosa dama. Teus olhos cegam-me. Perco-me no emaranhado deles. Sinto-os a penetrar minha alma, e sacudi-la. Teu peito parece uma cítara, anseio em tocá-lo. Teu coração bate neste ventre onde o sexo és vivo. Deixe-me intimidado. A tua voz, suave, leve, solta, leva-me a outra dimensão introspectiva. Eu sonho em beijá-la. Eu queria beijá-la. Eu quero beijá-la. Talvez seja uma simples paranoia de um bêbado. Ou não. É difícil falar dessas coisas. A vida impõe-nos assuntos complexos. E nós evitamos. Alguns tentam arranjar explicações psicanalíticas, políticas – intelectualizam – a sua derrota. Eu apenas sigo em frente. Encho meu copo com algum destilado. Bebo. Gosto da vida de bêbado. Vivo para a criação. “Os inteligentes não nutrem expectativas”, escreveu Dostoievski - o melhor psicólogo, segundo Nietzsche. Vamos brindar o amor, graciosa dama. Penso nas avenidas do teu corpo. Penso no caminho de tuas pernas. Os teus lábios, polpudos, desejo-os, simplesmente. Angario percorrer o teu caminho. Entrar em tua alma e deixar minha marca dentro de ti. Diga-me teu nome, por favor, dama misteriosa. 

terça-feira, 12 de maio de 2015

Pra quê?

A música. Claro, jamais pode faltar. O que seria da vida sem a representação sonora? Os instrumentos representam a realidade. Eles expressam sentimento, seja de repulsa ou de resolução das convenções. Ouvimos um som. E é bom degustá-lo.

Nada soluciona os problemas. Tentamos domá-los, mas o esforço é em vão. Então bebemos, porque é a única solução. Enchemos copos e mais copos de destilados. Fodemos. E amamos. Apaixonamo-nos, para no final, dizermos: “acabou”. O quê acabou? A vida? Não crie expectativas. Nem tudo vale a pena. Viver é a arte de saber lidar com os outros. 

Morrison acertou: "as pessoas são estranhas". Vivem em função de expectativas baratas e superficiais. Não pensam, nem agem. Pedem por revolução, sem olhar ao lado. Revolução, revolução, revolução... porra!

Henry Miller, em Sexus – a crucificação encarnada – disse que adorava a boceta de sua ex-mulher. Ela olhou-o, com ares de desprezo e repulsa, e falou-lhe: “Tenho nojo de você”. Miller retrucou, educadamente: “A sua boceta é o que tem de melhor”. O escritor apenas cultiva histórias na vida para escrevê-las. "Por que você ainda continua me amando?", perguntou a ex-mulher. "Ninguém está amando aqui. Isso é paixão. Que mal há nisso", retrucou Miller.

Vivemos e criamos ideias. Nutrimos valores fúteis para entramos na roda. Executamos, executamos e executamos pensamentos de outros. Bebemos. E conversamos e discutimos sobre o mundo e a realidade.

Sociedade do consumo e do individualismo. Os burocratas entram em seus carros luxuosos e sobem os vidros. Ali, eles ficam isolados da realidade cruel e injusta. “São todos uns vagabundos”, bradam, protegidos pelos seus ternos de mil reais.

Tudo é ilusão. Por que definimo-nos como de esquerda e de direita? Se não lermos o best-seller, somos classificados como incultos. “Que capa viajada”, mostrou-me uma garota, na sua felicidade e futilidade elitista.

Foda-se. Vivas à sua maneira. Prefiras dialética ao pragmatismo. Cultives arte a ciência. Entendas a vida. Faças sexo.

A arte nasce aí.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

É disso que escritor precisa

José não queria saber de trabalhar. Escrevia, escrevia e escrevia. E frequentemente participava de concursos literários, cujo resultado ele já esperava. “Seus textos são muito obscenos, cara”, diziam os amigos. Mas José continuava a escrevê-los mesmo assim: eróticos, pesados, sexuais. Assim eram os escritos. Não pensava na complexidade da gramática. Optava pelo sujeito, verbo e predicado. “Essas frases longas, não servem pra nada”, afirmava.

- e aí Zé, quando que vai sair aquele texto fodástico? – diziam os mais próximos.

– não sei - respondia, sem dar a mínima para os devaneios dos colegas.

- cara, larga essa merda. Faça outra coisa da vida. Ultimamente você fica só sentado em frente ao 
computador, batendo nas teclas. Enquanto isso, várias bocetas estão aí, bem na sua cara.

Ele refletiu. Pensou por noites e dias, enquanto enchia a cara de madrugada. “Quero ser escritor. Mas todos me rejeitam, porra”, pensava introspectivamente. “O quê há de errado com meus textos?”. Nem Zé sabia a resposta:

- acho que vou deixar a literatura de lado. Não é pra mim essa coisa de texto.

- mas....

- não tem ‘mas’, não. Quero fazer algo útil!

- e escrever não é ‘útil’? – disse João, na mesa do bar, simbolizando as aspas com os dedos.

- é, mas de que adianta escrever para caralho, se ninguém me lê?

- ué, desde quando cê precisa de alguém que o leia?

Veio-lhe a cabeça os mestres. Bukowski foi anos sem ninguém publicar-lhe. E neste período, passara a acreditar que era um gênio. Oscar Wilde afirmou que a arte é individualista e que todo artista não deve pensar em seu público.

Zé levantara da mesa.

- me dê uma dose de Velho Barrero – pediu, gentilmente, com a voz suave, ao garçom – preciso beber! – exclamou, alterando, imediatamente, a tonalidade da voz.

O barman viera com o copo transbordando. A bebida, felicidade do escritor. “Bukowski também faria a mesma coisa”, imaginou.

Bebericou o destilado. Fez careta e sentou-se à mesa com João.

- vou embora – disse a João – agora sairá o livro.

- pô, tudo bem, cê que sabe...

Por alguns instantes, os dois ficaram se olhando. Ninguém disse nada. Zé quebrou o silêncio:

- preciso escrever.

- então vai.

- cê não sabe como é complicado ficar semanas sem escrever nada.

- suma daqui!

Zé fora embora, resmungando. Parou num bar, comprou uma garrafa de conhaque e saiu predestinado a escrever um texto, que em sua mente, iria abrir-lhe as portas para o reconhecimento do mercado literário.

Enquanto caminhava pelas calçadas esburacadas da cidade, ele parou, acendeu um cigarro e continuou a jornada. Não tinha carro, porque acredita que não servia para nada. E também não tinha dinheiro para comprá-lo. 

Uma voz cálida chamou-lhe na escuridão da noite. Ele virou o rosto e deu um sorriso, sem enxergar quem era. A garota foi se aproximando:

- não lembra de mim? – perguntou.

Zé olhou-a e emendou:

- lembro, lembro.

Alice estava deslumbrante. Cabelos soltos, balançando ao vento. Cigarro entre os dedos e olhar sedutor. As unhas da mão estavam coloridas por um vermelho cintilante. Ela era sinônimo de delicadeza. Zé, bêbado, com a voz arrastada de destilados baratos, chamou-a para ir a sua casa ouvir um disco.

Na verdade, Zé encontrava-se tomado por intenções sexuais. “Quero fodê-la toda”, divagava. Alice, também sabia o que lhe podia acontecer. Quando se bebe, os fatos se desenrolam com uma velocidade alucinante. Zé pôs a mão no bolso. Tirou um cigarro, acendeu-o. Um beijo dera nela. Alice observou o fundo da retina dele.

- que porra é essa? – questionou Alice.

- o quê foi? – disse Zé, se fazendo de idiota.

- como assim, cê me beija no meio da rua. Não te vejo há mil anos, e você me fez uma merda dessas. Pirou, cara?

Novamente, ele estava preso no emaranhado de sua mente. O quê dizer? Como falar? Quando falar? Será que agora é o momento? Zé não sabia de nada. O tempo parecia ter congelo quando ele a beijou.

Zé sugeriu, num ato de brilhantismo e Inteligência raros:

- vamos lá pra casa, a gente pode ouvir um blues, beber um pouco e nos amar. O quê acha?

- me parece uma proposta convincente – rebateu, sem deixá-lo colocar o raciocínio no lugar.

Ela aceitou o convite.

Eles passaram por um semáforo e logo viraram à direta, numa rua deserta. As casas dali eram todas soturnas. Não havia ninguém na rua. Zé morava numa casa sombria.

- chegamos – disse ele.

Alice abriu um sorriso.

Quando ele terminara de fechar a porta, ela empurrou-o sobre a cama que estava encostada na parede da sala. Zé batera com a cabeça. E Alice fora pra cima dele. Tirara sua roupa. Beijara-lhe o corpo todo, com a feição de quem está gostando.

Zé caíra na boceta dela, imediatamente. Chupara-a com respeito, responsabilidade e dignidade. Então, quando ela já estava toda molhada, ele meteu. Enfiou calma, tranquila, serenamente, lutando para não interromper a transa com uma gozada indesejada.

Alice gemia.

E Zé seguia a meter.

- que boceta gostosa, caralho!

Alguns minutos depois, ele explodiu dentro dela. Ambos se abraçaram e beijaram-se.

BB.King cantava Summer in the city na vitrola.

É disso que um escritor precisa.

sábado, 9 de maio de 2015

Ensaio de um jovem estudante

Começo esse texto sem saber como irei termina-lo. Dizem que arquitetamos o nosso pensamento – sobretudo quando escrevemos. Mas vou fugir à regra. Gosto de pensar, divagar no emaranhado de minha mente. Penso e amo – porque o amor é à base da vida. Às vezes coloco um disco para tocar. Geralmente perambulo no rock psicodélico – pois considero-me um solitário da geração do amor. Adoro ouvir o teclado de Manzarek. A poesia de Morrison. Para mim, The Doors é inigualável. Gosto de apreciá-lo.

Vou ao meu maço de Marlboro e ponho um na boca. Acendo-o e fumo. Olho para as paredes que me cercam. Elas não me dizem muitas coisas. Porém, finjo prestar atenção em algo que não sei bem ao certo o que é. Preciso – como a humanidade – da ignorância. O saber incomoda. Quem quer pôr seus valores em cheque? Ninguém. As pessoas pedem nas ruas, nos bares, no trabalho, na vida, por sossego. Mas elas não querem uma tranquilidade convencional. Elas estão cercadas pelo medo. Não amam. “Eu te adoro”, quase nunca falam. E tem medo. Não conseguem chutar o balde e dizer: “Hoje vou encher a cara até amanhecer o dia”. Se fizerem isso, ficarão, provavelmente, desempregadas. E aí, como irão pagar as contas, no final do mês? E o carro, que os faz transar com mulheres peitudas, bundudas e gostosas quem o financiará?

The Doors – o álbum – acabou. Vou ao acervo do youtube e procuro um som para finalizar este texto. Acho que ele está bom. Há tempos não conseguia escrever uma ideia original. Eu lia os caras fodas, e queria reproduzi-los. Escrevi linhas e linhas, sem nenhum verbo, sequer, ser de minha autoria. Porém, como disse Morrison, a copia salvou-me. Agora, livre da repetição, penso numa garota que está presente, há algum tempo, em minha vida. Seus cabelos loiros levam-me para o paraíso. Queria falar sílabas de conforto em seu ouvido, mas tudo o que me vem à cabeça são alucinações de um rapaz que cursa jornalismo, e é um pé rapado.

O telefone toca. “Caralho, não vou conseguir terminar isso aqui”, cogitei, por um momento. Deixei-o tocar. Recorrei à geladeira. Havia uma cerveja. Abri, e ouvi o estralo da latinha. Provavelmente, os vizinhos também o ouviram. “Foda-se”, pensei. Hoje beberei, sem compromisso, nem amargura. Quero beber para celebrar o amor e a vitória e a arte, tão esquecida. Grace Slick parou de cantar. Reproduzia a apresentação do Jefferson Airplane, no festival de Woodstock, em 1969, em meu computador. “Somebody to love”, cantara Slick, em minhas caixas de som. Novamente, o telefone tocou. “Que porra é essa”, disse a mim mesmo. Não queria atendê-lo. Nem fazia questão de escutar brincadeiras idiotas de gente igualmente. Eu queria amar. Queria sexo. Queria um corpo feminino, nu, ao meu lado. Achei melhor não atender o telefone.

A vida imita a arte? Não, talvez. A ficção é a realidade melhorada, dizia Bukowski. O velho safado escrevera vários contos, ensaios, romances e poemas. Ele produziu, e tivera seus textos rejeitados. Meu escrito, senti, está ótimo. Alguns vão chocar-se. Eu quero que eles se fodam. Eu sei escrever, eu acho. Pelo menos assim dizem-me. Escrevo porque gosto. Se um dia eu tornar-me um sujeito corajoso, virarei escritor. Por enquanto, vou à faculdade e ouço palavras nada confortáveis dos professores, cujo ensinamentos são para tornamo-nos seres capitalistas. Dizem que não teremos tempo para nada e assim temos contato com o medo. Mas será que os 'mestres' sabem escrever um conto original? Não. E sabe por quê? Porque eles vivem a acreditar que a pirâmide invertida é a salvação dos textos jornalísticos. Este tipo de texto não precisa de criatividade. “Que porra é criatividade”, devem conservar nas rodas de amigos. “O jornalismo não precisa ser maçante”, afirmou uma professora. Ela sabe que a comunicação – e o jornalismo está inserido aí – não precisa ser algo cansativo, repetitivo, que não foge da fórmula das aspas e dos personagens baratos e clichês. Sábia.

Deixemos este assunto de lado. Ele não vale a pena.

Meu cigarro acabou. A vida está a acabar? Não sei. Certas coisas não são para nós entendermos. Conformamo-nos com o raciocínio simplista. E assim vivemos: sem questionar, aceitando tudo o que nos dizem para fazer. Eles – os senhores da moral – frisam que se seguirmos seus ‘conselhos’, a vida será leve. Quando deparo-me com isto, preciso deixar as palavras entrar por um ouvido e sair pelo outro. Quem eles pensam que são? 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A noite promete

De um lado da mesa estava Rogério. Do outro Ângela. Ela olhava para o rosto dele, que levara à boca um cigarro. Ele pôs fogo nele. E levantou-se da mesa e caminhara em direção à geladeira. Abria-a e pegara uma cerveja.

- de novo você está a beber, querido? – questionou Ângela – não aguento mais olhar para a sua fisionomia e ver o álcool. Você é o álcool em carne e osso, porra! – exclamou, raivosa e furiosa, culpando a bebida pelos problemas que havia na vida.

- vou, sim. Eu gosto de beber, entenda. Aliás, acho que você deveria fazer o mesmo. Beba, vai se sentir melhor – disse Rogério.

- não, não. Prefiro a minha sobriedade. Ela não tem preço. Não há nada que pague.

Rogério jogara a bituca do cigarro no cinzeiro:

- olha aí, ainda fica sujando toda a casa com essa merda.

- meu Deus, mulher, me respeita, por favor. – afirmou Rogério, com ares de perplexidade – teu pai nunca te ensinou isso, né. Por isso, vai vê, é assim.

- assim como? – interrogou.

- assim, chata, autoritária.

- autoritária? Eu? Acho que você anda usando drogas demais e lendo essas merdas aí.

Ele fora ao seu livro de poesias. Folheou-o e parou num poema de Whitman. O texto prendeu-o sobre o sofá.

- não falta nada, mas faltaria tudo, se faltasse o sexo – escreveu o poeta em Folhas da Relva – isso que é arte, minha filha. Esse lixo que costuma ouvir, não serve para nada. Só para desviar o foco das pessoas dos problemas que as cercam – ponderou.

O telefone tocara. Ângela fora até ele, e atendeu-o:

- vamos sair?

- quem está falando?

- Claudinho...

- Claudinho, seu filha da puta, suma daqui – ordenou ela – você é que fica enchendo o cu daquele porra do 
Rogério todos os dias. Aposto que estava ligando para ele – finalizou.

- não, não. Estou ligando para você mesmo.

- fala...

- quero transar contigo!

- como?

- quero te comer!

Ela desligou o telefone. E sentara em cima de Rogério, que trôpego ficou sem entender.

- meu amor, eu quero essa tua pica grande dentro de minha bocetinha.

Rogério levantou-se e refletira: “hoje a noite promete”, disse.