segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Minha porta de entrada ao rock

Barão em 1989
Algumas bandas são fundamentais. Barão Vermelho, pra mim, é o melhor conjunto do rock and roll nacional. Através deles, descobri a essência do rock, e o próprio rock. Meu mundo musical abriu-se. Passei admirar Janis Joplin, Jefferson Airplane, Rolling Stones, Led Zepplin, Pink Floyd e a enxergar a sociedade sobre uma nova perspectiva. Passei a criticar tudo.

Lembro-me da primeira vez em que ouvi Frejat, Guto Goffi, Maurico Barros e Dé. Era no álbum Carne Crua, de 1994. Sem Cazuza nos vocais, que havia morrido há 4 anos. Mas era um disco influenciado pelo Grunge. Tinha uma sonoridade única, pesada. Porém, sensacional. Meus bons amigos, está nele. Foi o single e o carro-chefe do trabalho. Tocou incessantemente nas rádios pelo Brasil. Outra música, igualmente bela, é a faixa Daqui por diante. Não se trata de um sucesso radiofônico, mas sim, de uma das mais significantes músicas do disco. E da carreira do Barão.

Após Carne Crua, decidi aprofundar-me na obra do conjunto. Descobri os trabalhos da época de Cazuza. Primeiramente, Barão Vermelho, primeiro disco. Registro primordial e tipicamente adolescente, como disse Frejat, no programa Ao Som do Vinil, de Charles Gavin: “É o registro perfeito de um monte de garotos tocando em um estúdio, sem ter a menor ideia de como se faz isso”. É o Barão na sua originalidade. Depois veio Barão Vermelho 2. Segundo Guto Goffi, Mauricio Barros e Dé, trata-se de um disco frio. Nele havia Pro dia nascer Feliz, hino da geração 80.

No ano seguinte, 1984, o Barão lançou Maior Abandonado. Outro disco que marcou-me. Ouvia-o incessantemente na adolescência. Adorava ouvir Cazuza cantar “mais uma dose/é claro que eu estou fim/ a noite nunca tem fim/ por que a gente é assim? Confesso que não entendia a letra muito bem. Ficava imaginando o Barão, nos idos de 82, 83, 84. Queria ter uma banda. Só que eu morava em uma cidade do interior, que ninguém (a não ser este cronista) ouvia rock.

Em um natal, cujo ano não me recordo, fui presenteado com o DVD Barão Vermelho no Rock in Rio de 85. Decorei o marking of, tamanha a frequência com que o escutava. Com o passar dos anos, passei a compreender a importância daquela apresentação para a História do Brasil. Os barões tocaram no dia em que Tancredo Neves fora eleito, pelo colégio eleitoral, presidente da república. Recentemente, falei sobre o show com certo afinco em uma aula na faculdade. Comecei a discorrer, e não parei. Disse sobre a banda. Sobre a linguagem do rock. Todos me olhavam, sobretudo meus amigos. Mas, como todo fã, não estava nem aí.

No entanto, o disco mais importante do Barão, na minha humilde ótica de fã, é o Barão Ao vivo, de 1989. Um ano antes, eles haviam lançado Carnaval. Os cariocas deixaram às rádios, depois que Cazuza saiu. Carnaval apresentou o caminho. E é um álbum em que os rapazes flertaram com o Hard Rock. Pense e Dance fora a música de trabalho do disco. Já Barão Ao Vivo é a junção da veia roqueira de Carnaval, com o preciosismo que eles tem ao vivo. O disco reúne os principais clássicos do conjunto, até ali. Bete Balanço, Ponto Fraco, Por que a gente é assim, Não amo ninguém, Pro dia nascer feliz ganharam arranjos diferentes, pesados, roqueiros.

Ao longo desses anos, em que o mundo do rock clareou os meus dias, repudiei qualquer critica ao Barão. Defendo-os e não tenho o mínimo pudor disso. Aliás, acho que fã de verdade, deve fazê-lo. Barão é rock. Falem o que quiserem, não estou nem aí. Não mudará a minha convicção. Viva o Barão, porra!


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Há 24 anos, a música chorava


Há 24 anos, a música sofrera um golpe. John Lennon, o rebelde beatle foi apunhalado por um lunático chamado Mark Chapman, que disparou vários tiros contra si. Lennon caíra, morto. A música, escorria lágrimas, e sentia a dor da perda de um dos maiores talentos artísticos do século XX.

Juntamente com McCartney, formou uma das maiores parcerias da história do rock. Compôs vários sucessos. Vendeu milhares de discos. E disse, tudo aquilo que o mundo queria falar, mas de certo modo, não podia. Lennon brilhou. E como toda estrela, apagou.

Agora, 24 anos depois, resta-nos, simplesmente admirar as suas composições. Através delas podemos perpetuá-lo em nossas mentes e corações. Lennon, faz falta no mundo careta e desenfreado de hoje.

Em 1972, em plena Guerra do Vietnã, abordou uma temática pouco convencional para a época: o feminismo. Em Some times in New York, tratara sobre a hipocrisia machista. O disco contou com a participação de Yoko Ono, acusada de ser a causa da separação daquela que é tida como a melhor banda de rock and rol de todos os tempos, os Beatles.

Durante sua careira, cantou psicodelia. Participou da Invasão Britânica, no início dos anos 60. Tomou LSD. Bebeu. Inconformou-se com o mundo, como toda mente genial. Separou-se dos Beatles, em 1970. Mas o último disco gravado com os rapazes de Liverpool, Abby Road, de 1969, prenunciava que o fim estava próximo.

Na década de 70, lançou-se em carreira solo. Manifestou-se contra a violência, como a notória fotografia de 1969, em que está sob a companhia de Yoko Ono, deitado sobre uma cama, em protesto contra a guerra. Lennon era assim. E ainda bem. O mundo, só tem a agradece-lo, por um dia ter pisado sobre a Terra.

Artista rebelde, poderia contentar-se com uma vida típica da classe média. Mas a sua mente inquieta, não deixou-o. Ele estava predestinado a seguir os trilhos da música e da arte. Casou, pela primeira vez, em 1965, com Cynthia Powell. Porém, o destino lhe reservara outra companheira. Yoko Ono, artista plástica e, assim como ele, detentora de uma consciência política, seria a mulher de sua vida.

Em 8 de dezembro de 1980, em Nova Iorque, John Lennon foi surpreendido. Um fã veio em sua direção, pediu um autografo. O músico deu. E logo em seguida, levou cerca de oito tiros.


Lágrimas. Tristeza. O mundo perdeu um gênio. A música, igualmente. Como consolo, ligamos a vitrola. Lennon, eternamente será lembrado. 

Some times in New York disco 1: https://www.youtube.com/watch?v=CkrSa7FpdLM
Some times in New York disco 2: https://www.youtube.com/watch?v=OK8oR8N_Ozg

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Barão Ao Vivo


O mais roqueiro dos álbuns da discografia baronica. Barão Ao Vivo, foi lançado em 1989. Gravado nos dias 1,2 e 3 de setembro de 1989, o disco reúne os principais sucessos do grupo, como Ponto Fraco e Por quê a gente é assim. Ouve espaço, até, para um cover de Satisfaction, dos Stones, com Ezequiel Neves – Zeca Jagger –, no backing vocal.

O disco

Ponto Fraco – “Agora é o seguinte, o rock and roll vai rolar, e é direto”, advertiu Frejat, logo no início do álbum.
O riff, conduzido por duas guitarras, dita a música. Fernando Magalhães, cuja influência é o The Who, auxiliou o líder baronico nas cordas.

Carne de Pescoço – Oriunda do segundo disco, Barão Vermelho 2, de 1983, Carne de Pescoço é aquela faixa que denunciou a intenção do disco. Rock and roll, do começo ao fim.
Riff sem frescura e enérgico. Bem ao estilo Barão Vermelho de tocar.

Pense e Dance – Primeiro rit nacional após a saída de Cazuza. Esta faixa recolocou o Barão no lugar que sempre o pertenceu: a elite do rock nacional.
De autoria de Dé, Guto Goffi e Frejat, a faixa é totalmente dance. Muito boa.

Bete Balanço – Um dos riffs mais conhecidos do rock nacional. Integrou o LP Maior Abandonado, de 1984, premiado com disco de ouro, por ter vendido mais de 100 mil cópias.

Cazuza a compôs para o filme homônimo. O longa tinha Deborah Bloch, como a Bete, protagonista da narrativa.

Frejat, guitarrista a época, foi responsável pelo solo mais conhecido da geração 80. Deu-lhe uma roupagem, neste disco, viril, pesada, tocante. Indispensável aos shows dos Barões.

Não amo ninguém – é um blues. Também faz parte do disco Maior Abandonado.
Em Barão Ao Vivo, enriquecera por conta das duas guitarras, leves, mas ao sempre tempo, agressivas.

Por quê a gente é assim – “Espero que vocês estejam tão sedentos de rock and roll, quanto vocês tão de álcool”, bradou Frejat.

Com riff carregado, os Barões a transformaram em uma canção pulsante. É inegável: ela mexe no fundo. 

Atinge os sentimentos boêmios dos fãs. Qual conhecer de Frejat e cia, que não conhece-a?

Rock do cachorro morto – é uma das faixas novas. Pesada, alegre e raivosa. Os Barões surpreender, e conseguiram.

Quem você pensa que é? – Outra composição nova. Assim como a anterior, nessa há uma guitarra que dita as regras.

Satisfaction – Este é o cover dos Stones. O grupo carioca batizou-a com a identidade baronica. Além da sintonia entre Frejat, Guto e Dé, Zecca Jagger também participou dela. Faz o backing vocal, e teve o nome no encarte do LP.

Lente – “Essa faixa, é uma ponte aérea entre Frejat e Arnaldo Antunes”. Abriu o último LP, Carnaval de 1988. Riff clássico, cuja sonoridade lembra o hard rock.

Bagatelas – Do disco Declare Guerra. Faz pouco sucesso e tornou-se desconhecida, praticamente. Apenas os fãs vibrados no Barão a conhecem.

Torre de Babel – Single de Declare Guerra, o primeiro álbum do Barão sem Cazuza, que saíra do grupo, alguns meses após o Rock in Rio, de 1985.

O disco vendeu apenas 15 mil cópias. Foi o início de um período complicado para os Barões. Eles ficarem longe das rádios, apenas retornando ao clico do sucesso, em 1990, com o disco Na calada da noite.

Formação

Frejat – Voz e guitarra

Dé - Baixo

Guto Goffi - Bateira

Fernando Magalhaes - Guitarra

Peninha – Percussão

Zeca Jagger – Backing Vocal em Satisfaction

domingo, 2 de novembro de 2014

Dez dias que abalaram o mundo



Dez dias que abalaram o mundo, escrito por John Reed, é tido como o relato mais fiel e preciso da Revolução Russa. O autor, socialista convicto, escreveu uma profunda reportagem sobre tudo o que vivenciou durante a áurea revolucionária. Em 1981, houve um filme sobre a sua vida. O longa, estrelado por Diane Keaton e Warren Beattly, chama-se Reds.

Logo no início da obra, Reed retoma os acontecimentos que antecederam a Revolução. Durante os dois primeiros capítulos, o foco da trama era esclarecer o leitor sobre o contexto da época. Sobre o livro, o próprio Reed falara o seguinte:

“Este livro é um pedaço da história, da história como eu a vi”. Assim inicia-se a obra.

No entanto, o capítulo mais vibrante entre todos, é sem dúvida, o que trata da ação dos revolucionários. Intitulada de ‘Frente Revolucionária’, Reed nesta parte, tratara sobre os desdobramentos da Revolução na sociedade russa, sobretudo em Petrogrado. Ainda somos apresentados a atuação dos jornais russos do período, especialmente o Padva cuja visão era extremamente burguesa.

Quando a população saiu às ruas, o periódico socialista ‘Palavra do Povo’, dispunha da seguinte manchete: “Governo operário e camponês? Ele só será reconhecido pelos inimigos”.

Foi assim, neste contexto, que Reed brilhantemente relatou a ação revolucionária. Único e formidável, Dez dias que abalaram o mundo é obrigatório, sobretudo a quem quer se aprofundar na Revolução Russa.

Reds:

O filme conta a história do jornalista John Reed, autor de Dez dias que abalaram o mundo, desde o período em que trabalhava no jornal socialista The Masses, no início do século XX, até a fundação do Partido Comunista dos Estados Unidos. O longa ainda aborda a participação de John na Revolução, sua relação com lideranças e conflitos internos na então Rússia.

Após a Revolução, John sempre fora tratado como um herói, pela URSS. Morreu em Moscou, aos 44 anos, vítima de tifo. John Reed foi o único estrangeiro que morreu na URSS e teve seu corpo sepultado com grandes honras nas muralhas do Kremlin, ao lado do mausoléu de Lenin.




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Jornalismo gonzo

Hunter Thompson
 Marcus Vinícius Beck


Hunter Thompson nasceu em 1937, em Kentucky. Sua escrita é tida como ousada e extravagante. Foi criador do jornalismo gonzo, estilo que acrescentava técnicas literárias ao texto jornalístico. Escreveu para a Rolling Stones, nos anos 70. A sua obra de maior sucesso, ‘Medos e delírios em Las Vegas’, foi publicada na revista, em partes, durante a década de 70. Lançou ainda ‘Hells Angels’, em 1967. Neste livro, relatou a experiência e o dia-a-dia da gangue de motociclistas homônima.

Morreu no dia 18 de fevereiro de 2005, exatamente como Hemingway, com um tiro na cabeça. Antes de matar-se, escreveu uma carta em que contara o motivo da escolha. Thompson disse que vivera mais do que deseja. O jornalista tinha expectativas de viver até os 50 anos. Morreu aos 67 anos. 


Jornalismo Gonzo

Thompson é aclamado como o ‘pai do jornalismo gonzo’. Este estilo primava pela vivencia do jornalista dentro do fato, interagindo com o meio e tendo autonomia para poder interferir na história. Thompson utilizava essencialmente o uso da primeira pessoa em suas reportagens. Hells Angels é considerado a primeira experiência gonzo. Hunter tornou-se um dos membros da gangue. Consumiu drogas com os rapazes, e quando descobriram a sua verdadeira identidade, apanhou. 
Sobre a sua convivência com os membros, disse que não sabia se era um deles, ou se era um jornalista que estava investigando os Hells Angels.

Medos e Delírios conta em detalhes, o uso desenfreado de entorpecentes por parte de Thompson e seu advogado, Dr. Gonzo. O livro começa com as seguintes palavras: “as drogas começaram a fazer efeito quando estávamos no meio do deserto”. O objetivo da viajem era cobrir uma corrida de motocicletas que acontecia em Las Vegas. Entretanto, a corrida jamais fora citada durante o texto. A temática da obra girou em torno do sonho americano, como disse Thompson, posteriormente: “veja como é, estávamos sem dinheiro, sem expectativas para o final de semana, quando recebo uma ligação. Era um sujeito de Nova York me dizendo para ir a Lãs Vegas, com tudo pago, para escrever sobre uma corrida de motocicletas. Somente um idiota recusaria isso”.

Alguns teóricos, afirmam que Thompson não fazia jornalismo. Em seus textos não há presença do Lead, mecanismo essencial à estrutura da notícia, tal como é recorrente no jornalismo praticado hoje. Este jornalismo, tem grande influência do mercado capitalista. Notícias são escritas com o propósito de vender. E o jornalista vive pressionado pelo tempo, sobretudo aquele jornalismo considerado ‘diário’.

Devido à pouca quantidade de estudos acerca do tema, o jornalismo gonzo é pouco difundido nas faculdades de Jornalismo pelo Brasil. Arthur Verissimo, passou a escrever para a Revista Trip, no final dos anos 90, e é tido como um dos expoentes do jornalismo gonzo no Brasil. Em seus textos, é notável a descrição detalhada de suas viagens alucinadas ao redor do mundo. Devido ao sucesso, o jornalista conseguira um quadro no popular ‘Programa do Ratinho’, no SBT. 

Medos e Delírios em Las Vegas


Com o propósito de cobrir uma corrida de motocicletas no deserto, Raoul Duke e Dr. Gonzo partem para Las Vegas. Para a viagem, os dois tinham uma enorme quantidade de entorpecentes. Desde LSD até cocaína. Logo na primeira frase do texto, Thompson fala: “As drogas começaram a fazer efeito enquanto estávamos no deserto”.


Hunter Thompson não cobriu a corrida. Durante toda a obra, sequer mencionou-a. Sem matéria para a revista, revolveu focar no sonho americano. E assim constitui-se a áurea da obra: a busca pelo sonho americano e o seu entendimento.


Hells Angels


Em Hells Angels, Hunter Thompson descreve a gangue de motociclistas homônima. O jornalista acompanhou o dia-a-dia dos motoqueiros, durante um ano. Consumiu drogas com os membros. Praticou furtos e roubos. E uma série de atividades ilícitas.

No decorrer do livro, disse que em certo momento, não sabia se era um jornalista investigando uma gangue, ou se era um membro do grupo.

Quando a verdadeira identidade foi descoberta, Hunter Thompson levou uma surra. O autor descreve minuciosamente o acontecimento, em uma prosa ácida e ousada. Nunca se fizera um jornalismo assim. Nunca, em uma reportagem, narrou-se o fato em primeiro pessoa, no centro da trama.

Alguns teóricos, afirmam que o jornalismo gonzo é literatura. E nada tem de jornalismo. Entretanto, com Hemingway e Fitzgerald, como influencia, Thompson foi ao coração da sociedade americana, como fez seu mestre em ‘O grande Gatsby’. 


Hunter Thompson surpreendeu a todos. Estava com 22 anos quando iniciou Rum: Diário de um jornalista bêbado. Havia desembarcado, assim como Paul Kemp – protagonista da obra – há pouco em San Juan, Porto Rico, para trabalhar como jornalista, em um jornal de esportes. Ambos queriam deixar para trás a correria de Nova Iorque.

Conhecido pelo seu estilo gonzo, o mundo da literatura desabou quando deparou-se com Diário de um jornalista bêbado. Thompson, deixa transparecer o seu estilo fortemente influenciado por Hemingway, com frases curtas, marcantes e violentas. Após ficar 40 anos guardado na gaveta, em 1998 o mundo conheceu aquele livro que é tido como o mais literário de sua obra.

A cada capítulo vivemos as aventuras de Kemp, em um jornal prestes a fechar. Essa situação dá uma pitada de humor e descontração na obra. Os personagens, nada muito complexo, foram descritos de forma leve e suave. O uso de metáforas, também, deixou a prosa deliciosa.

Em 2010, Diário de um jornalista bêbado chegou aos cinemas. Johnny Deep deu vida a Paul Kemp. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Minha razão de viver - Samuel Wainer

Capa do livro
Samuel Wainer esteve no lugar certo, na hora certa. Cobriu o julgamento dos generais nazistas, em 1945, após o término da guerra. Trabalhou para o império midiático de Assis Chateaubriand. Dirigiu o última Hora, jornal que dava sustentação ao governo de Getúlio Vargas, durante o breve período democrático pelo qual o país passou, na década de 1950. Teve Carlos Lacerda como inimigo número um. Caminhou lado a lado com o poder. E morreu pobre, em 1980, como um assalariado do jornal Folha de São Paulo.

MINHA RAZÃO DE VIVER

Minha razão de viver é a sua autobiografia. Lançada postumamente, a obra fora editada e revista pela sua filha Pinky Wainer. No o prólogo, o jornalista Augusto Nunes, escreve que “grandes repórteres quase sempre se transformam em relevantes testemunhas da Histórias, e à luz dos relatos fica mais fácil compreendem como foi certa época num determinado país, e como eram os homens a quem coube desempenhar papéis decisivos, e como se deram exatamente os fatos”. Wainer, faz par deste seleto clube.

Soube como poucos usar a imprensa a seu favor, e de seus interesses. No decorrer da obra, o jornalista afirma que jamais pensou em ficar rico. Segundo Wainer, todo o dinheiro que ganhava ia para a redação, em investimentos em equipamentos modernos. Porém, é notório a sua intenção de se aproximar do poder. Quando criou o Última Hora, havia sido demitido dos Diários Associados, jornal que integrava a cadeia midiática de Chateaubriand, que por sua vez, tivera alguns desentendimentos com Getúlio Vargas, durante o Estado Novo.

Nessa época Wainer se disponibilizou a criar um órgão que apoiasse a política getulista. Com fontes dentro do Palácio do Catete, Wainer conseguira atingir a grande massa. Algum tempo depois, na Última Hora, passaram a contribuir Nelson Rodrigues, Paulo Francis, Otto Lara Resende e grandes nomes da imprensa do período.

Enquanto isso, Lacerda o atacava na Tribuna da Imprensa. Lacerda praticava uma espécie de ‘jornalismo militante’. Atrelado aos setores mais reacionários do Congresso Nacional, diariamente Wainer era acusado por ele. Houve até um incidente envolvendo a nacionalidade do proprietário da Última Hora. Lacerda acreditava que Wainer havia nascido na Bessarabia. Segundo a legislação da época, quem era naturalizado não poderia ser proprietário de nenhum meio de comunicação.

Em 1964, prevendo um golpe da direita, Wainer se preparava para seguir ao exilo. Viveu na França durante alguns anos. Retornou ao Brasil, e vendeu a Última Hora, em 1972. Voltou a trabalhar na Folha de São Paulo, em 1975. Foi editor assistente da Carta Editorial e da Editora Três. Contribuiu, ainda, para a consolidação do semanário Aqui São Paulo, entre 1975 e 1978.


Como disse Paulo Francis: “É difícil imaginar alguém com algo mais na cabeça do que cabelos não lendo Samuel Wainer – Minha Razão de ViverMemórias de um Repórter”. É isso aí. Ler Samuel Wainer é indispensável aos amantes da Histórias e aos jovens jornalistas. 

domingo, 28 de setembro de 2014

Ernest Hemingway, o pugilista das letras


Ernest Hemingway, nasceu 21 de julho de 1899 e morreu em 2 de julho de 1961. Viveu em Paris durante a explosão da Geração Perdida. Na capital francesa, conviveu com Scott Fitzgerald, cuja relação fora relatada na obra póstuma ‘Festa em Paris’.

Com porte físico de pugilista, Hemingway era um escritor sensível. Em sua escrita, utilizava o mínimo possível os adjetivos. Suas orações e períodos eram curtos, se aproximando muito da linguagem jornalística.

Seu primeiro romance do sucesso foi ‘O Sol também se levanta’, lançado no ápice da Geração Perdida, no final da década de 1920. Na obra, Hemingway relata um grupo de boêmios ingleses e americanos. A trama da história se desenvolve em Paris e Pamplona. O protagonista é Jacob Barnes, um repórter que volta impotente da Primeira da Guerra e acaba se apaixonando por Lady Brett Ashley, moça fútil que tratava os homens como objetos.

Nota-se que Hemingway criou personagens complicados para ‘O sol também se levanta’, relatando assim, uma geração desiludida com os malefícios acarretados pela guerra. A solidão e morte, temas recorrentes durante a narrativa Hemingwana, são abordados de forma brilhante neste livro.

Ao cobrir a Guerra Cívil espanhola, como jornalista do North American Newspaper Alliance, acabou por aliar-se às forças republicanas que combatiam o fascismo. Este viria a ser o enredo de ‘Por que os sinos dobram’, sua obra-prima, que foi adaptada ao cinema, em 1942.

Foi agraciado com o Nobel da Literatura, na década de 1950, por conta de ‘O velho e o mar’.


Na manhã de 2 de julho de 1961, Ketchum, em Idaho, Hemingway se apoderou de um fuzil de caça e disparou contra a sua cabeça. Seu corpo encontra-se no cemitério de Ketchum, nos EUA. 

sábado, 27 de setembro de 2014

A alma do homem sob o socialismo - Oscar Wilde

"Não se pode medir um homem pelo que ele faz. Um homem pode seguir a lei e ser desprezível. Pode violar a lei, e no entanto ser justo. Pode ser mau, sem nunca ter feito nada de mau. Pode cometer um pecado contra a sociedade, e no entanto alcançar por meio desse pecado a verdadeira perfeição." Oscar Wilde



Oscar Wilde, o grande romancista inglês, marcou a cultura ocidental no final do século XIX. Com seu jeito elegante e libertador, Wilde escreveu seu nome na história das letras. 

Em A alma do homem sob o socialismo, à luz dos acontecimentos do século XIX, Wilde trata o socialismo como uma opção para a humanidade. Porém, para isso, faz-se necessário, que a individualidade seja mantida. Para o artista qualquer espécie de autoridade e propriedade está na causa de todas as deformações sociais.

“Não há necessidade alguma de separar o monarca da plebe: toda autoridade é igualmente má. Há três espécies de déspota. Há o que tiraniza o corpo. Há o que tiraniza a alma. O primeiro chama-se Príncipe. O segundo chama-se Para. O terceiro chama-se povo.”

Assim como em O retrato de Dorian Gray, em A alma do homem sob o socialismo, nos prendemos na prosa wildiana. Naquele havia a traços filosóficos, envolvendo a estética e a maldade humana. Neste, por sua vez, há uma crítica feroz a sociedade e seus desdobramentos em vários segmentos, incluindo a arte.

Segundo Wilde, o artista deixa de ser artista em prol de um trabalho mais acessível a população. O autor ainda citou os romancistas ingleses, como Dickens, para reforçar a sua crença.

“Uma obra de arte é o resultado singular de um temperamento singular. Sua beleza provém de ser o que o autor é, e nada tem a ver com as outras pessoas querem o que querem”


Oscar Wilde é isto: beleza e elegância, em altas doses em sua prosa libertadora e encantadora. 

domingo, 21 de setembro de 2014

Highway 61 Revisited - Bod Dylan

Capa
Em Highway 61 Revisited, Bob Dylan uniu a música folk com rock e blues. Lançado em 1965, o álbum têm os maiores sucessos da carreira de Dylan, como ‘Like Rolling Stone’, ‘Ballad Of a Thin Man’, "Tombstone Blues". O disco foi classificado na quarta colocação na lista dos ‘500 álbum de sempre’ da revista Rolling Stone.


Várias canções de Highway 61 Revisited são intituladas como clássicas da carreira de Dylan. De acordo com o seu site, ele já tocara ‘Like Rolling Stone’ cerca de 2.000 vezes ao vivo, "Highway 61 Revisited" mais de 1.700 vezes, "Ballad of a Thin Man" mais de 1.000 vezes. Até os Rolling Stones gravaram uma versão da canção, no álbum ‘Stripped’, de 1995. Ambos interpretaram em dueto no Rio de Janeiro, no ano de 1998.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Metafísica sonora


São dois discos, ambos com treze músicas.

Absolutamente incrível, arrisco a dizer que seja o melhor álbum de rock já produzido.

A temática da obra, assinada intelectualmente por Roger Waters e musicalmente por David Gilmour, é de cunho extremamente filosófico. O baixista discorria sobre a alienação.

A própria capa do disco nos diz isto.

Waters, gênio.

Gilmour, igualmente, porém em outro segmento. Um era o cabeça intelectual. O outro, musical. Gilmour faz falta a Waters e vice e versa. Um completa o outro.

Em The Dark Side Of the Moon, Waters abordou a corrida do homem. Alguns arriscam a dizer que o disco é marxista. Contudo, o conteúdo ideológico é extremamente brilhante. Waters tratou da correria do homem, enfezada no poder aquisitivo, que tudo pode comprar, como fica explícito em Money.

E a obra é finalizada com Brain Damage e Eclipse.

Precisa dizer alguma coisa?

Em contrapartida, em Wish You Were Here, a indústria fonográfica foi o alvo das críticas. Syd Barret, fundador e primeiro guitarrista da banda, afastado por causa do uso excessivo de LSD, foi homenageado em Shine On You Crazy Diamond. Porém, é em Have Cigar que a contestação está presente.

Não podemos deixar de lado o maravilhoso solo de Gilmour, em Have Cigar. Simplesmente uma maravilha do rock. A sua guitarra parecia fazer parte do seu corpo, tamanha a familiaridade e carinho com ela.

Certa vez, Gilmour disse que sentia dificuldade em tocar determinadas notas. Não obstante, a escala pentatônica, tem uma bela e significante amizade com um dos maiores guitarristas da história do rock e da música. Coisa bela de se ver.

Nas cinco faixas que compõem Animals, Gilmour destacou-se em Pigs e Dogs. Esta última uma preciosidade artística.

Waters tirou a ideia e a temática de Animals, do livro ‘A Revolução dos bichos’ de George Orwell. A obra possui uma crítica ferrenha aos Estados autoritários que vigoraram na Europa no século XX, sobretudo a URSS, ditadura comunista, comandada por Stalin.

Agora, enfim, chegou The Wall.

O disco praticamente acabou com o Pink Floyd. Após o seu lançamento, o conjunto ficou sobre o ‘comando’ de Waters. Os músicos pareciam contratados pelo baixista.

Depois veio The final cut. Ruim. Waters imaginou que faria novamente um ‘The Wall’.

Mas The Wall é daqueles que ficaram eternizados na história da arte, porque não saem todos os dias, e nem se é produzido em série.

Nick Mason, Richard Whight, David Gilmour e Roger Waters, estão com os nomes marcados nos corações, nas mentes, nos ouvidos e nas vitrolas de muitos amantes deste gênero maluco, chamado rock and roll.


Viva o Pink Floyd!

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sexus - a crucificação encarnada

Sexus foi lançado em 1949

São 500 e poucas páginas de ensinamentos preciosos.

Aqui na minha edição, roubada de um sebo, toda rabiscada; consegui aprender um pouco mais sobre a vida. Compreendi o sexo, se não na sua totalidade, pelo menos um pouco, disso estou assegurado.

Sexus – a crucificação encarnada – durante um bom tempo passou a me acompanhar em todos os lugares que eu ia. Foram inúmeros bares. Vários porres. Incontáveis baseados. Milhares de beijos. Histórias são o que não faltam a este livro, ao meu livro.

Quando me perguntam qual livro mudou a minha vida, respondo: ‘Sexus, ora’. Não há como ser outro.
Sexus compõe o primeiro volume da trilogia ‘A crucificação encarnada’. Os outros são Plexus, lançado em 1953 e Nexus, em 1960.

De Charles Bukowski aos Beats, Miller serviu de influência. E olhe, o velho safado, odiava os escritores, os achava chatos, monótonos e depressivos. Mas com Miller era diferente. O seu estilo porra louca, de quem não estava nem aí para as convenções sociais, nos faz refletir. Refletir, sobre as coisas mais banais da vida, como a insipidez a que nos submetemos corriqueiramente.

A trama da obra é repleta de sexo. Henry Miller narra as suas aventuras sexuais, nos EUA, em Nova Iorque, ao lado da sua esposa. Depois ex-esposa. O contexto vigente era a década de 20/30.

O primeiro romance, Trópico de Câncer, do autor chagou a ser censurado em alguns países de língua inglesa, sendo acusado de não ser literatura, mas sim, pornografia.

Miller lançou o seu primeiro livro, aos 50 anos. Enquanto Hemingway, Fitzgerald e Steinbeck apreciavam Paris, em plena liberdade; Miller gozava de algo maior. Uma liberdade sem limites, sem imposições, sem frescura; porém com total desapego da materialidade.

Esse era Henry Miller, o escritor que de um jeito ou de outro, revolucionou a prosa americana com a sua metafísica sexual.

Simplesmente sensacional.

E absolutamente recomendável.

domingo, 24 de agosto de 2014

A maior expressão do 'corinthianismo'

Doutor Sócrates
A Democracia Corintiana revolucionou a estrutura reacionária e paternalista do futebol brasileiro. Era o prelúdio de uma utopia que até os até os dias atuais o Brasil não chegou a conhecer. 

O ano era 1982. A MPB vivia de metáforas e quase não atingia a juventude. Seu discurso era destinado para um determinado segmento da sociedade, mais intelectualizado e com maiores condições de acesso à informação. Havia poucas bandas de rock. Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil, Elis Regina; entoavam as vitrolas pelo Brasil.

Neste período o Brasil começava a se preocupar com a inflação, que devastaria a economia, durante o governo de José Sarney. Dentro das quatro linhas, a fantástica seleção de 1982 havia perdido para a Itália, em uma verdadeira tragédia, dessas que dificilmente será explicada e compreendida. Por sua vez, o Corinthians vinha de um mandato praticamente ditatorial. Por anos um único presidente ditou as regras no clube. Entretanto, um grupo politizado de jogadores começou a exercer seus direitos de liberdade e democracia. Todos no clube votavam e exerciam influência sobre o futebol corintiano. Do treinador ao centroavante. Do roupeiro ao servente. Todos eram iguais. Estava nascendo aí, a maior utopia do futebol brasileiro e da sociedade brasileira: a Democracia Corintiana.

A DEMOCRACIA CORINTIANA

Segundo jornalista Juca Kfouri, o futebol brasileiro é ‘corrupto, corruptor e reacionário’. Aqui, os jogadores são alienáveis, tornam-se escravos do dinheiro e viram pop-stars. Sem consciência política alguma, os dirigentes, a mídia e os empresários, fazem deles verdadeiras mercadorias, cujo lucro para todos é altíssimo. Diante desta áurea toda, a política vira segundo plano aos jogadores.

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira não era nome de jogador de futebol. Nem porte físico ele tinha. Fumante, apreciador de uma cerveja, comunista, médico e politizado; Sócrates preferia o caderno de política ao de esportes. Era filiado ao PT – recém fundado -, e não gostava de treinos nem de concentração.

Suas principais contribuições para o futebol brasileiro não foram seus geniais passes de calcanhar. Sócrates brilhou fora de campo. E quis o destino assim. Sócrates fez jus ao nome. Tornou-se pensador do futebol brasileiro, ao liderar a Democracia Corintiana, que mudaria para sempre os rumos do alvinegro e dos jogadores envolvidos.

A Democracia foi uma espécie de autogestão futebolística que teve como resultado os títulos paulistas de 1982 e 1983. Depois de forte pressão política exercida pelos atletas – que culminou na queda do presidente Vicente Matheus, folclórico “ditador” corintiano –, jogadores, comissão técnica e diretoria passaram a decidir, no voto, tudo o que fosse de interesse para o clube: contratações, demissões, escalação da equipe, data e local de concentração e outras coisas que, antes, cabiam somente aos cartolas. Tudo era resolvido no voto. E os votos tinham o mesmo peso: do goleiro reserva ao presidente do clube. Era mais ou menos como se os operários de uma multinacional começassem a opinar e a decidir sobre os rumos da empresa.

Para o sociólogo Emir Sader, a Democracia Corintiana foi o prelúdio de uma experiência que até hoje o Brasil não exerceu plenamente. “Essa experiência aconteceu surpreendentemente e prematuramente no Corinthians, o time de futebol mais popular do Brasil. Quando ninguém no país podia votar, os jogadores daquele grupo conquistaram o direito de decidir sobre seus rumos”.

Nesse período o Corinthians passou a ser o primeiro clube brasileiro a usar a camisa com fins publicitários. O publicitário Washington Olivetto, idealizador do termo ‘Democracia Corintiana’, sugeriu que ao invés do time usar logotipos de empresas, o Corinthians usasse mensagens de cunho político, como: “Democracia Já”, “Quero votar para Presidente” e outras que causaram certo impacto na estrutura militarista – que governava o país -, e paternalista – que comandava o esporte, sobretudo, o futebol. No auge do movimento, o brigadeiro Jerônimo Bastos, presidente do Conselho Nacional de Desportos (CND), chamou o presidente do clube e avisou: “Vocês não podem mais usar esse espaço para fins políticos; caso continuem, vamos engrossar o caldo, vamos intervir no clube”.

Em 1983, Zé Maria chegou ao posto de treinador da equipe, através do voto dos jogadores e de todos os funcionários do clube. Após o episódio, o Jornal da Tarde, estampou a seguinte manchete: “Os jogadores chegam ao poder”.

No entanto, a convivência entre os jogadores e a imprensa não foi das melhores, como lembrou Sócrates, posteriormente: “Durante a Democracia Corintiana, existiu um processo ideológico por parte dos veículos de comunicação mais conservadores a fim de caracterizar ou rotular nosso movimento como um sistema frágil perante a opinião pública. Alguns sentiam a necessidade de fazer isso, até porque a Democracia Corintiana passou a ter um peso na história do país, no processo de democratização pelo qual passava o Brasil”.

A Democracia começou a se dilacerar quando Sócrates deixa o Corinthians para jogar na Fiorentina, na Itália. Sua ida não foi causada por realizações financeiras. Sócrates havia prometido que se a Emenda Dante de Oliveira fosse aprovada ele iria embora do Brasil.

Em 1984, a Emenda foi reprovada. O povo brasileiro seguiu sem votar para presidente, e o Doutor deixa o Brasil rumo a Itália. Sem sua maior liderança, a democracia fica enfraquecida. A venda de Casagrande ao São Paulo, representa o segundo grande baque. E, infelizmente para o Corinthians e para o futebol, Roberto Pasqua, ligado à Vicente Matheus, derrota Adilson Monteiro Alves no pleito de 1º de abril de 1985 por uma diferença ínfima de votos, assumindo a direção de futebol do clube sob denúncias de fraude e compra de votos.




quinta-feira, 31 de julho de 2014

O som ácido do The Doors

The Doors

Não há como começar uma conversa sobre Rock and Roll sem falar em The Doors. Jim Morrison, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore deixaram suas marcas na história deste gênero alucinado.

Em 1967, lançaram o primeiro disco intitulado The Doors. O álbum é composto por alguns dos maiores sucessos do conjunto, como "Break on Through (To the Other Side)", "Light My Fire", ‘The End’ e ‘The Crystal Ship’. A revista Rolling Stone o aclamou como o melhor disco de estreia de uma banda, e também como o quadragésimo sétimo melhor álbum da história do rock and roll.

Morrison e companhia se separaram em 1971. O vocalista e poeta desejava escrever poemas, radicando-se em Paris, e falecendo na mesma cidade. Até hoje, a causa de sua morte é repleta de mistérios.  Porém, o fato é que a música psicodélica e carregada de LSD dos rapazes californianos, está escrita nas linhas dos livros e presa à mente dos roqueiros pelo mundo.

No ano passado, 2013, o tecladista e fundador, Ray Manzarek, veio a falecer vitimado por um câncer. Manzarek falecera no dia 20 de maio, na Clínica Romed em Rosenheim, Alemanha.

"Fiquei profundamente triste ao saber sobre o falecimento do meu amigo e companheiro de banda Ray Manzarek hoje (segunda-feira)", disse o guitarrista do The Doors, Robby Krieger, em comunicado à agencia de notícias Reuters.

"Estou feliz por ter sido capaz de ter tocado as músicas do Doors com ele durante a última década. Ray era uma parte grande da minha vida e sempre sentirei sua falta."

Os Doors se reuniram em 1991, em Los Angeles, para tocar com Eddie Vedder – vocalista do Pearl Jam – sucessos como, Roadhouse Blues, Break on Through e Light My Fire.

Em 2004, a Rolling Stone colocou o Doors no 41º posto na sua lista dos 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos. No ano anterior, já havia considerado os álbuns The DoorsL.A. Woman e Strange Days os 42º, 362º e 407º melhores álbuns de sempre respectivamente. Já as canções "Light My Fire" e "The End", ambas do primeiro álbum do grupo, foram consideradas, respectivamente, as 35ª e 328ª melhores canções de sempre.


Em abril de 2010, foi lançado o documentário When You're Strange de Tom DiCillo, que conta a história da banda, e é narrado pelo ator Johnny Depp.

1967 - The Doors

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The Doors é a obra de estreia do conjunto homônimo. Segundo a crítica, The Doors figura entre um dos melhores álbuns da história. Entre as músicas que compõem o disco, estão The End – que faz uma brilhante referência ao teatro grego, especificamente a obra de Sófocles, Édipo Rei -, Light my Fire – o primeiro sucesso radiofônico – e Break on Throught, cujo riff de guitarra tornou-se extremamente familiar aos ouvidos adeptos ao som ácido dos Doors.

O disco foi lançado no final de agosto e no início de setembro de 1967, pela gravadora Elektra Records. A produção ficou sobre Paul A. Rotchild. A gravação ocorreu no dia 29 de dezembro de 1967.
Segundo a revista Rolling Stones, The Doors é o quadragésimo sétimo melhor disco da história da música contemporânea, e o melhor trabalho de estreia de um conjunto.

A obra já vendeu mais de 10 milhões de cópias somente nos EUA. Até os dias atuais, os fã procuram nas lojas este charmoso e reluzente trabalho.

  1. Break on Through (To the Other Side)
  2. Soul Kitchen
  3. The Crystal Ship
  4. Twentieth Century Fox
  5. Alabama Song (Whiskey Bar)
  6. Light My Fire
  7. Back Door Man
  8. I Looked at You
  9. End of the Night
  10. Take It as It Comes
  11. The End

Artigo publicado na Rolling Stone  americana: http://www.rollingstone.com/music/albumreviews/the-doors-20030408



1967 - Stranger Days

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1967 – Stranger Days
Stranger Days é o segundo álbum do conjunto californiano The Doors. Lançado em 2 de outubro, é composto na sua maioria por músicas que não foram inclusas no primeiro trabalho. Algumas composições ficaram eternizadas na voz de Jim Morrison, como "Strange Days", "People Are Strange", "Love Me Two Times" e "When the Music's Over". Esta última é um poema épico e dramático ao estilo de ‘The End’, última faixa do disco anterior.

  1. Strange Days
  2. You're Lost Little Girl
  3. Love Me Two Times
  4. Unhappy Girl
  5. Horse Latitudes
  6. Moonlight Drive
  7. People are Strange
  8. My Eyes Have Seen You
  9. I Can't See Your Face in My Mind
  10. When the Music's Over


1968 - Waiting for the sun

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Waiting for the sun é terceiro álbum do conjunto californiano The Doors. Tornou-se a primeira obra da banda a figurar em primeiro lugar na Billoard 200 e o single ‘Hello, I Love You’ em primeiro na Billoard Hot 100.

O material havia sido escrito antes da formação da banda. A faixa "Not To Touch the Earth", que foi retirada do poema de Jim Morrison Celebration of the Lizard, não foi gravado nesse álbum. O poema fora lançado somente em 1970, no  Absolutely Live.




1969 - The Soft Parade

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The soft Parade é o quarto álbum do conjunto californiano The Doors. O disco apresentou mudanças em relação ao anterior, Waiting for the sun, pela introdução de metais na sonoridade nos arranjos.

Cinco faixas foram assinadas pelo guitarrista Robby Kriger, porque à época Jim Morrison estava concentrado nos seus dois livros de poesia que foram lançados em paralelo ao disco.
Nos trabalhos seguintes, os Doors, retornaram a uma sonoridade mais simples.

As músicas foram creditadas a apenas dois membros (Jim Morrison e Robby Krieger).

  1. Tell All the People
  2. Touch Me
  3. Shaman's Blues
  4. Do It
  5. Easy Ride
  6. Wild Child 
  7. Runnin' Blue
  8. Wishful Sinful
  9. The Soft Parade


1970 - Morrison Hotel

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Morrison Hotel é o quinto álbum do conjunto californiano The Doors. Depois do trabalho experimental em The Soft Parede, que não foi muito bem recebido pela crítica, a banda retornou as suas raízes sonoras, com uma pegada voltada ao blues, e com forte influencia psicodélica no som ácido e cintilante de Jim e companhia.

  1. Roadhouse Blues
  2. Waiting for the Sun
  3. You Make Me Real
  4. Peace Frog
  5. Blue Sunday
  6. Ship of Fools
  7. Land Ho!
  8. The Spy 
  9. Queen of the Highway
  10. Indian Summer 
  11. Maggie McGill



1971 - L.A Woman 

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L.A Woman é o sexto álbum do conjunto californiano The Doors. Foi o último trabalho com a formação original, antes da morte do mítico Jim Morrison, em 1971, que acontecera alguns meses depois do seu lançamento, em 3 de julho de 1971.


terça-feira, 29 de julho de 2014

O nascimento dos festivais de rock

De Mount Tam a Woodstock: um olhar sobre a época ensandecida que possibilitou a existência de eventos como Coachella e Lollapalooza


por DAVID BROWNE


Como costuma acontecer com momentos importantes, foi bem discreto – dá até para dizer que foi curioso. No decorrer de dois dias, em 1967, cerca de 40 mil fãs foram até um parque estadual no alto do monte Tamalpais, ao norte de São Francisco, Estados Unidos. Chegaram a pé, de carro e em ônibus escolares fretados, acomodaram-se ao sol e fumaram maconha enquanto assistiam ao line-up de bandas que incluía The Doors, The Byrds e Captain Beefheart. Os ingressos custavam US$ 2, e um balão gigante com uma imagem de Buda recebia o público. A cada noite, o show tinha que parar ao anoitecer, porque o parque não tinha eletricidade. Era o início da era hippie, então boa parte do pessoal ainda tinha cabelos curtos e vestia camisa com colarinho. De acordo com o executivo de rádio Tom Rounds, um dos organizadores, a segurança se resumia a “guardas do parque e naturalistas falando sobre folhas de pinheiro”. Depois, uma manchete em um jornal local afirmou: “Hippies merecem elogios por bom comportamento”
Apenas nove dias antes, os Beatles tinham lançado a obra-prima Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Eles mudaram a música. Mas, à sua própria maneira, aquela reunião em Mount Tam – conhecida oficialmente como Fantasy Fair and Magic Mountain Music Festival – criou algo tão profundo quanto o álbum: o primeiro festival de rock de verdade.

Na era de Coachella, Bonnaroo e Lollapalooza (este último realizado desde 2012 em São Paulo, com sucesso), grandes festivais são parte integrante da paisagem pop. Mas, até o Verão do Amor, a ideia de milhares de fãs de rock reunidos em espaços abertos para ouvir um elenco variado de artistas era algo inédito. Entre 1967 e meados da década de 1970, os festivais ao ar livre se tornaram pilares de alguns dos momentos mais cruciais do rock – Jimi Hendrix colocando fogo na própria guitarra em Monterey, Sly and the Family Stone criando um clima de êxtase em Woodstock com “I Want to Take You Higher”, Bob Dylan de terno branco para sair da aposentadoria no Isle of Wight Festival, em 1969. Eles eram a concretização da ideia de uma comunidade rock and roll; os triunfos e os erros desses eventos passaram a ser lições objetivas para o festival de rock moderno.

Pelo menos em parte, o objetivo dos festivais era sanar alguns problemas dos shows de rock da década de 1960. Em uma apresentação dos Rolling Stones no Cow Palace, em São Francisco, em 1966, Tom Rounds observou, desolado,
jovens fãs (alguns com apenas 13 anos de idade) saltando cheios de animação as grades em frente ao palco e logo sendo recolhidos por seguranças e mandados de volta para o meio do público – e às vezes direto para o chão de concreto da casa de espetáculos. “A gente ouvia o som de algo sendo esmagado, e era aterrador”, relembra Rounds. “Eu me lembro de dizer a um dos meus colegas: ‘Tem que existir um jeito melhor de fazer isso. Que tal ao ar livre?’” Daí nasceu a Fantasy Fair, inicialmente um evento de arrecadação de fundos para ações beneficentes e de promoção para a estação de rádio de Rounds, a KFRC.

Mais ou menos na mesma época, Lou Adler, empresário de bandas e diretor da Dunhill Records, teve uma conversa com John Phillips e Cass Elliot, do The Mamas and the Papas, e com Paul McCartney a respeito de festivais de jazz e folk como os realizados em Newport, nos Estados Unidos. A conversa passou para como “o rock and roll não era considerado uma forma de arte do jeito que o jazz era”, diz Adler. Pouco depois, Adler e Phillips criaram um plano ambicioso: três dias de pop, rock e soul no Monterey County Fairgrounds, na Califórnia, com capacidade para 7 mil pessoas.

A dupla falou com os amigos músicos para ter ideias a respeito de quem incluir na apresentação. McCartney sugeriu Hendrix; Andrew Loog Oldham, empresário dos Stones, disse que eles deveriam contratar o The Who. Problemas de visto impediram a presença do The Kinks e de Donovan e, até hoje, ninguém sabe dizer com certeza se o Doors foi convidado ou não. Para compensar a ausência de nomes da Motown (de acordo com Adler, ninguém sabia como entrar em contato com Berry Gordy), Otis Redding foi chamado. No decorrer de três dias cheios de harmonia, músicos conviveram no backstage, comendo lagosta e filé enquanto a multidão com assentos marcados – que no final somou mais de 50 mil pessoas – assistia a tudo, de Grateful Dead a Lou Rawls. “Foi civilizado”, lembra Chris Hillman, do Byrds, que se apresentou e também caminhou pelo local com John Entwistle, do The Who. “Foi o retrato perfeito do espírito de paz e amor de meados da década de 1960.”

Também foi a primeira vez que muitas das próprias bandas puderam ver os colegas ao vivo. “Estávamos ao lado do palco e Hendrix estava mexendo as mãos como se houvesse chamas, como se fosse algum tipo de coisa espiritual estranha”, diz Grace Slick, do Jefferson Airplane. “E depois ele colocou a guitarra no chão e tocou fogo!” Lou Adler tinha ouvido dizer que o The Who poderia detonar todo o equipamento, mas, mesmo assim, saiu correndo para o palco para salvar a bateria de Keith Moon quando a banda começou a destruir os instrumentos no fim do show. “Nós sabíamos como eram as apresentações deles na Inglaterra, mas aqui foi em outro nível”, recorda Adler. “Todo mundo ficou tentando salvar algo.”
As notícias positivas a respeito de Monterey se espalharam com rapidez. Robbie Robertson, da The Band, cruzou com Brian Jones, dos Rolling Stones, que tinha saído vagando como se tivesse sido beatificado pelo festival. “Ele disse que realmente era um evento adorável e extraordinário”, conta Robertson, “e que os músicos eram fantásticos, um após o outro.” Promotores de rock novatos ouviram os mesmos relatos e, no decorrer dos dois anos seguintes, festivais com line- -ups espetaculares passaram a acontecer com certa regularidade.

Michael Lang, um promoter de 23 anos, ficou tão inspirado por Monterey que organizou o primeiro Miami Pop Festival, evento de dois dias em 1968 que foi atrapalhado pela chuva no segundo dia. Mas ele tinha planos ainda maiores. No sítio de Max Yasgur, algumas horas ao norte da cidade de Nova York, ele e os outros organizadores esperavam que cerca de 200 mil pessoas se deslocassem até lá para o Woodstock Music & Art Fair, em agosto de 1969. Apareceu o dobro desse número. O artista encarregado pelo show de abertura, o perturbado cantor e compositor Tim Hardin, mudou de ideia no último minuto (Richie Havens foi convencido a substituí- -lo e Hardin cantou à noite). O Jeff erson Airplane teve que esperar nos bastidores durante quase 12 horas antes de subir ao palco. “Não foi a precisão espetacular do Monterey Pop Festival”, afirma Grace. Ao chegar de helicóptero, Robbie Robertson viu o mar de gente. “A coisa toda parecia estonteante”, ele descreve. “Ninguém no mundo tinha feito antes um festival daquela escala.” Aqueles três dias também registraram uma overdose de heroína, 33 prisões por causa de drogas e milhares de invasores que não pagaram pelo ingresso. Sair acabou sendo mais difícil do que entrar: o carro da The Band teve de ser arrastado pela lama por um guincho. Mesmo com os contratempos, todo mundo sentiu imediatamente que a história estava acontecendo ali. Por um momento, Woodstock foi a profecia de uma nova era, ainda mais cheia de festivais no rock. Ninguém imaginava que esse período iria terminar mais cedo do que o esperado.

Em teoria, o Altamont Speedway Free Festival era a sequência lógica para Woodstock. Organizado nos arredores de São Francisco, quatro meses depois, apresentava uma escalação de bandas espetacular: Rolling Stones, Grateful Dead, CSN&Y, Santana, The Flying Burrito Brothers e Jeff erson Airplane. Por sugestão do pessoal desta última, os Hells Angels foram contratados para fazer a segurança (“A culpa foi nossa, em parte”, Grace Slick reconhece) e a coisa logo ficou violenta. Marty Balin, companheiro de Grace no Jeff erson Airplane, perdeu a consciência por alguns momentos quando levou um soco depois de mandar um Hells Angel que estava ameaçando a plateia ir se foder; Chris Hillman, do Byrds, carregando o baixo, quase foi impedido de subir ao palco por outro Hells Angel. “Os Hells Angels iam abrindo caminho no meio do público como se fossem um bando de vikings”, conta Hillman. “Dava para ver que algo iria acontecer.”
Quando o helicóptero carregando o Jefferson Airplane levantou voo de Altamont Speedway, Paul Kantner voltou-se para Grace. “Ele disse: ‘Caramba, parece que alguém foi empurrado ou esfaqueado lá embaixo’”, ela recorda. “E ele tinha razão.” Um rapaz negro de 18 anos chamado Meredith Hunter tinha corrido na direção do palco segurando uma arma e foi derrubado e esfaqueado por pelo menos um Hells Angel. Mais tarde, Alan Passaro, acusado pelo assassinato, acabou absolvido alegando legítima defesa.
Apavoradas com a ideia de outro evento como esse, comunidades locais passaram a fazer todo o possível para acabar com os festivais, algumas vezes com sucesso. A cidade de Middlefield, no estado de Connecticut, resolveu, em cima da hora, que não queria abrigar o Powder Ridge Rock Festival, e quase todos os principais nomes do evento – Janis Joplin, The Allman Brothers Band e outros – nem apareceram. Michael Lang, por exemplo, só foi organizar outro festival em 1994, o Woodstock II.

Apesar de os festivais em larga escala estarem em baixa na época, a tendência não deteve dois promotores, Jim Koplik e Shelly Finkel, que planejaram um dia de shows na pista de corrida automobilística Watkins Glen Grand Prix, no norte do estado de Nova York, no verão de 1973. De acordo com Koplik, o festival deu lucro imediatamente ao vender todos os 200 mil ingressos, graças ao line-up com The Band, Grateful Dead e Allman Brothers. Uma sala no backstage recebeu o estoque do que Koplik descreve como “uma minimontanha” de cocaína: “As bandas ficaram sabendo da droga e invadiram a sala – os Allman principalmente, porque isso significava que eles teriam mais para si”.

Sem querer, Watkins Glen acabou se transformando em um festival de dois dias quando fãs apareceram um dia antes para assistir às passagens de som. Então, no dia certo dos shows, o impensável aconteceu: muito mais gente chegou, totalizando 600 mil pessoas. “Achamos que a pior coisa seria uma situação de baderna”, diz Koplik, “então decidimos deixar todo mundo entrar [de graça].” De repente, Glen ficou maior do que Woodstock, com quase 200 mil pessoas a mais.

Apesar dos banheiros lotadíssimos e outros problemas, foi uma surpresa os shows terem ocorrido sem grandes transtornos. O evento terminou com uma rara jam com os integrantes das três bandas. Mas, para Robbie Robertson – e muitos outros do ramo –, Watkins Glen foi o último suspiro. A apresentação da The Band foi interrompida temporariamente por uma chuva torrencial. “A gente olhava para toda aquela gente empapada de lama, e parecia o purgatório”, diz Robertson. Quando Koplik e Shelly tentaram organizar uma nova edição no ano seguinte, a cidade de Watkins Glen recusou.

Os festivais iriam, mais tarde, se transformar em tradição na Europa, mas quase uma década se passou antes que mais uma iniciativa de peso fosse tomada nos Estados Unidos: os US Festivals, financiados por Steve Wozniak em 1982 e 1983. Wozniak perdeu o total de US$ 24 milhões. Os festivais de rock só seriam retomados de verdade com o Coachella, em 1999, seguido pelo Bonnaroo, três anos depois, e o Lollapalooza, que foi criado em 1991, mas só foi
reconfigurado, após anos de hiato, em 2005.

O final da primeira era de festivais de rock, quase sempre gloriosos, aconteceu em Watkins Glen. Seis anos antes, na Fantasy Fair, dois paraquedistas desceram enquanto o The 5th Dimension cantava o sucesso pop “Up, Up and Away”. Em Watkins Glen, um paraquedista que não tinha ligação com a organização do festival saltou de um avião durante a apresentação da The Band e acendeu sinalizadores – que fizeram com que ele e as roupas dele pegassem
fogo no ar. O corpo do homem foi encontrado perto dos limites do terreno.

Os sobreviventes da primeira era dos festivais olham para trás, maravilhados e cheios de lamentos. “Quando a gente é jovem, pensa: ‘Isto é só o começo, vai ficar ainda mais maravilhoso’”, diz Grace Slick, ex-Jefferson Airplane. “Bom, nem tanto.”

O Começo do Fim
O sucesso do Woodstock ajudou na derrocada dos festivais
Apesar de Altamont geralmente ser culpado pelo fim dos festivais de rock, o sucesso da marca Woodstock – com um filme que arrecadou US$ 50 milhões nas bilheterias e um álbum triplo que virou best-seller – merece responsabilidade parcial. Em busca de um novo Woodstock, os promotores enlouqueceram com os festivais durante toda a década de 1970. Mas apesar de Woodstock ter dado sorte, mesmo com pessoas sem ingresso e com o tempo chuvoso, os sucessores do evento não foram tão afortunados. Em 1970, fãs irados invadiram o Atlanta Pop Festival, o New York Pop Festival e o Strawberry Fields Festival, nos arredores de Toronto, Canadá, causando prejuízo de US$ 1 milhão aos promotores, quando mais de 90 mil fãs exigiram entrar de graça no festival. No mesmo ano, o Isle of Wight, na Inglaterra, também foi maculado por invasores e fogueiras. Os festivais resistiriam por mais algum tempo, mas o fim dessa era chegou em 1973, com a realização do festival de Watkins Glen.

Originalmente publicado na ROLLINGSTONE.UOL.COM.BR