sábado, 15 de abril de 2017

Somos campeões: fim de jejum que durou 23 anos

Após 40 anos, equipes podem se enfrentar em decisão
São Paulo, 10 de abril, por volta das 22h... estava levemente bêbado. Uma bola de futebol é colocada na marca do pênalti. Ele fica parada, esperando ser carinhosamente agredida por algum jogador da Ponte Preta. "Time não está predestinado a ir à final, não tem jeito', diz um amigo.

Após ser tocada pelo sujeito, a pelota decola e vai parar no fundo das redes, levando ao pleno delírio jogadores e torcedores da Macaca. Ao mesmo tempo, corintianos se emocionam. Uma mistura de medo e felicidade nos toma por completo: depois de 40 anos, o timão tem possibilidade de enfrentar a Ponte numa final de paulistão!

Bem, para que isso aconteça, é claro, o Timão precisa fazer a lição de casa e vencer o São Paulo, no domingo, fora de casa. Coincidentemente, o Timão também ganhou do Tricolor naquele ano de 1977... que sofrimento!

E a Ponte?

A Macaca precisa bater o Palmeiras como em 77.

História

Festa alvinegra, no terceiro jogo
No rádio, Osmar Santos emprestava sua voz para o espetáculo. “Olha a festa do Brasil! Você enche de lágrimas os olhos desse povo, você enche de felicidade o coração dessa gente, Corinthians”, berrou o narrador.

Basílio acabara de fazer o gol do título, e a massa alvinegra se libertou dos 23 anos de jejum. Loucos, os 86.677 torcedores quase levaram o Morumbi ao chão. A casa Tricolor era repleta de corintianos, que aos 36 min puderam extravasar: o Timão estava fora da fila.

O jornalista Celso Unzette, autor de pesquisas sobre a história do Corinthians, lembrou que a maioria torcedores alvinegros eram pessoas que vieram tentar a vida em São Paulo, e se identificavam com a luta. “O clube é um fenômeno social que é resultado da luta de resistência’, define o jornalista.

“Ter participado daquele título foi maravilhoso, sabíamos do anseio da torcida em acabar com aquilo. Acabamos aglutinando toda aquela energia, aquela ansiedade, e conseguimos dar o retorno com o título. Isso não tem preço”, diz Wladimir.

Último título, vice campeonato e família

No jejum, Corinthians perdeu título de 74 para o seu maior rival
1954... nesse ano o Corinthians conquistara o último título. Depois disso, nada. Pior: a torcida alvinegra, loucamente apaixonada, teve de lidar com dolorosas derrotas, como a do Paulista de 1974, onde o alvinegro perdera para seu maior rival, o Palmeiras.

“Tinha um grupo, uma família formada pelo Oswaldo Brandão e pelo Vicente Matheus, que fez com que nós alcançássemos esse objetivo”, relata Brasília, autor do gol que dera o título ao Timão.

O time de Brandão começou bem o campeonato, mas a equipe tinha de ir voar no segundo turno porque o Botafogo venceu o primeiro turno. E fora justamente isso que aconteceu.

Nas primeiras quatro partidas, o time alvinegro paulistano perdeu duas. O time perseguia a vitória desesperadamente. Como não havia outra saída, o time venceu Botafogo, Portuguesa e São Paulo. “Agora é com vocês”, disse Brandão à equipe.

A decisão

Decisão teve três jogos
Primeiro duelo... o Corinthians conseguiu vencer a Ponte. “Fui na raça dividir a bola com o goleiro Carlos e ela explodiu no corpo dele e batei com força no meu rosto... foi parar no fundo do gol da Ponte”, contou Palhinha, autor do gol. 

Segundo confronto... recorde de público: 138.032 torcedores. Majoritariamente corintianos, que suplicavam pelo fim do jejum e pediam fervorosamente por um empate. O título, enfim, estava pertíssimo.

Aos 42 minutos do primeiro tempo, Vaguinho abriu o placar e fez a Fiel, ensandecida, gritar como uma lunática após ver seu ídolo. Faltavam 23 minutos... Dicá empatou. O 1 a 1 deixava o título no Parque São Jorge, mas Rui Rei virou aos 38 minutos e calor o maior público da história do Morumbi.

Terceiro jogo

Ufa! acabou o jejum
13 de outubro, de 1977... “o Corinthians vira explosão e vira o maior espetáculo do território brasileiro! Corinthians, você acima de tudo é a alma desse povo! Você liga a imagem do sorriso de felicidade das raízes do povo! Corinthians, hoje a cidade é do povo! Tem que ter festa alvinegra! Tem que cobrir as ruas da cidade com paixão e loucura! Com felicidade, que desabrocha e contagia o povo pelas avenidas! Basílio, Basílio, Basílio! Trinta e sete minutos do segundo tempo!, narrava Osmar Santos. 

De fato, foi a explosão de milhões de apaixonados, tão maltratados pelas decepções que permeavam o Corinthians. O sofrimento, é claro, continuou todo o campeonato paulista de 1977. No último jogo, foram necessários 81 minutos para que Basílio anotasse o gol alvinegro.

“Eu me acho um escolhido, porque se for analisar, tivemos duas oportunidades, que foi o lance com Vaguinho, com Wladimir e finalizamos comigo. Algo estava preparado e eu não sabia, e nós não tínhamos nem essa dimensão referente a nossa conquistada”, diz Basílio, emocionadamente, em entrevista ao portal Terra.


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