sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Jornalismo gonzo

Hunter Thompson
 Marcus Vinícius Beck


Hunter Thompson nasceu em 1937, em Kentucky. Sua escrita é tida como ousada e extravagante. Foi criador do jornalismo gonzo, estilo que acrescentava técnicas literárias ao texto jornalístico. Escreveu para a Rolling Stones, nos anos 70. A sua obra de maior sucesso, ‘Medos e delírios em Las Vegas’, foi publicada na revista, em partes, durante a década de 70. Lançou ainda ‘Hells Angels’, em 1967. Neste livro, relatou a experiência e o dia-a-dia da gangue de motociclistas homônima.

Morreu no dia 18 de fevereiro de 2005, exatamente como Hemingway, com um tiro na cabeça. Antes de matar-se, escreveu uma carta em que contara o motivo da escolha. Thompson disse que vivera mais do que deseja. O jornalista tinha expectativas de viver até os 50 anos. Morreu aos 67 anos. 


Jornalismo Gonzo

Thompson é aclamado como o ‘pai do jornalismo gonzo’. Este estilo primava pela vivencia do jornalista dentro do fato, interagindo com o meio e tendo autonomia para poder interferir na história. Thompson utilizava essencialmente o uso da primeira pessoa em suas reportagens. Hells Angels é considerado a primeira experiência gonzo. Hunter tornou-se um dos membros da gangue. Consumiu drogas com os rapazes, e quando descobriram a sua verdadeira identidade, apanhou. 
Sobre a sua convivência com os membros, disse que não sabia se era um deles, ou se era um jornalista que estava investigando os Hells Angels.

Medos e Delírios conta em detalhes, o uso desenfreado de entorpecentes por parte de Thompson e seu advogado, Dr. Gonzo. O livro começa com as seguintes palavras: “as drogas começaram a fazer efeito quando estávamos no meio do deserto”. O objetivo da viajem era cobrir uma corrida de motocicletas que acontecia em Las Vegas. Entretanto, a corrida jamais fora citada durante o texto. A temática da obra girou em torno do sonho americano, como disse Thompson, posteriormente: “veja como é, estávamos sem dinheiro, sem expectativas para o final de semana, quando recebo uma ligação. Era um sujeito de Nova York me dizendo para ir a Lãs Vegas, com tudo pago, para escrever sobre uma corrida de motocicletas. Somente um idiota recusaria isso”.

Alguns teóricos, afirmam que Thompson não fazia jornalismo. Em seus textos não há presença do Lead, mecanismo essencial à estrutura da notícia, tal como é recorrente no jornalismo praticado hoje. Este jornalismo, tem grande influência do mercado capitalista. Notícias são escritas com o propósito de vender. E o jornalista vive pressionado pelo tempo, sobretudo aquele jornalismo considerado ‘diário’.

Devido à pouca quantidade de estudos acerca do tema, o jornalismo gonzo é pouco difundido nas faculdades de Jornalismo pelo Brasil. Arthur Verissimo, passou a escrever para a Revista Trip, no final dos anos 90, e é tido como um dos expoentes do jornalismo gonzo no Brasil. Em seus textos, é notável a descrição detalhada de suas viagens alucinadas ao redor do mundo. Devido ao sucesso, o jornalista conseguira um quadro no popular ‘Programa do Ratinho’, no SBT. 

Medos e Delírios em Las Vegas


Com o propósito de cobrir uma corrida de motocicletas no deserto, Raoul Duke e Dr. Gonzo partem para Las Vegas. Para a viagem, os dois tinham uma enorme quantidade de entorpecentes. Desde LSD até cocaína. Logo na primeira frase do texto, Thompson fala: “As drogas começaram a fazer efeito enquanto estávamos no deserto”.


Hunter Thompson não cobriu a corrida. Durante toda a obra, sequer mencionou-a. Sem matéria para a revista, revolveu focar no sonho americano. E assim constitui-se a áurea da obra: a busca pelo sonho americano e o seu entendimento.


Hells Angels


Em Hells Angels, Hunter Thompson descreve a gangue de motociclistas homônima. O jornalista acompanhou o dia-a-dia dos motoqueiros, durante um ano. Consumiu drogas com os membros. Praticou furtos e roubos. E uma série de atividades ilícitas.

No decorrer do livro, disse que em certo momento, não sabia se era um jornalista investigando uma gangue, ou se era um membro do grupo.

Quando a verdadeira identidade foi descoberta, Hunter Thompson levou uma surra. O autor descreve minuciosamente o acontecimento, em uma prosa ácida e ousada. Nunca se fizera um jornalismo assim. Nunca, em uma reportagem, narrou-se o fato em primeiro pessoa, no centro da trama.

Alguns teóricos, afirmam que o jornalismo gonzo é literatura. E nada tem de jornalismo. Entretanto, com Hemingway e Fitzgerald, como influencia, Thompson foi ao coração da sociedade americana, como fez seu mestre em ‘O grande Gatsby’. 


Hunter Thompson surpreendeu a todos. Estava com 22 anos quando iniciou Rum: Diário de um jornalista bêbado. Havia desembarcado, assim como Paul Kemp – protagonista da obra – há pouco em San Juan, Porto Rico, para trabalhar como jornalista, em um jornal de esportes. Ambos queriam deixar para trás a correria de Nova Iorque.

Conhecido pelo seu estilo gonzo, o mundo da literatura desabou quando deparou-se com Diário de um jornalista bêbado. Thompson, deixa transparecer o seu estilo fortemente influenciado por Hemingway, com frases curtas, marcantes e violentas. Após ficar 40 anos guardado na gaveta, em 1998 o mundo conheceu aquele livro que é tido como o mais literário de sua obra.

A cada capítulo vivemos as aventuras de Kemp, em um jornal prestes a fechar. Essa situação dá uma pitada de humor e descontração na obra. Os personagens, nada muito complexo, foram descritos de forma leve e suave. O uso de metáforas, também, deixou a prosa deliciosa.

Em 2010, Diário de um jornalista bêbado chegou aos cinemas. Johnny Deep deu vida a Paul Kemp. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Minha razão de viver - Samuel Wainer

Capa do livro
Samuel Wainer esteve no lugar certo, na hora certa. Cobriu o julgamento dos generais nazistas, em 1945, após o término da guerra. Trabalhou para o império midiático de Assis Chateaubriand. Dirigiu o última Hora, jornal que dava sustentação ao governo de Getúlio Vargas, durante o breve período democrático pelo qual o país passou, na década de 1950. Teve Carlos Lacerda como inimigo número um. Caminhou lado a lado com o poder. E morreu pobre, em 1980, como um assalariado do jornal Folha de São Paulo.

MINHA RAZÃO DE VIVER

Minha razão de viver é a sua autobiografia. Lançada postumamente, a obra fora editada e revista pela sua filha Pinky Wainer. No o prólogo, o jornalista Augusto Nunes, escreve que “grandes repórteres quase sempre se transformam em relevantes testemunhas da Histórias, e à luz dos relatos fica mais fácil compreendem como foi certa época num determinado país, e como eram os homens a quem coube desempenhar papéis decisivos, e como se deram exatamente os fatos”. Wainer, faz par deste seleto clube.

Soube como poucos usar a imprensa a seu favor, e de seus interesses. No decorrer da obra, o jornalista afirma que jamais pensou em ficar rico. Segundo Wainer, todo o dinheiro que ganhava ia para a redação, em investimentos em equipamentos modernos. Porém, é notório a sua intenção de se aproximar do poder. Quando criou o Última Hora, havia sido demitido dos Diários Associados, jornal que integrava a cadeia midiática de Chateaubriand, que por sua vez, tivera alguns desentendimentos com Getúlio Vargas, durante o Estado Novo.

Nessa época Wainer se disponibilizou a criar um órgão que apoiasse a política getulista. Com fontes dentro do Palácio do Catete, Wainer conseguira atingir a grande massa. Algum tempo depois, na Última Hora, passaram a contribuir Nelson Rodrigues, Paulo Francis, Otto Lara Resende e grandes nomes da imprensa do período.

Enquanto isso, Lacerda o atacava na Tribuna da Imprensa. Lacerda praticava uma espécie de ‘jornalismo militante’. Atrelado aos setores mais reacionários do Congresso Nacional, diariamente Wainer era acusado por ele. Houve até um incidente envolvendo a nacionalidade do proprietário da Última Hora. Lacerda acreditava que Wainer havia nascido na Bessarabia. Segundo a legislação da época, quem era naturalizado não poderia ser proprietário de nenhum meio de comunicação.

Em 1964, prevendo um golpe da direita, Wainer se preparava para seguir ao exilo. Viveu na França durante alguns anos. Retornou ao Brasil, e vendeu a Última Hora, em 1972. Voltou a trabalhar na Folha de São Paulo, em 1975. Foi editor assistente da Carta Editorial e da Editora Três. Contribuiu, ainda, para a consolidação do semanário Aqui São Paulo, entre 1975 e 1978.


Como disse Paulo Francis: “É difícil imaginar alguém com algo mais na cabeça do que cabelos não lendo Samuel Wainer – Minha Razão de ViverMemórias de um Repórter”. É isso aí. Ler Samuel Wainer é indispensável aos amantes da Histórias e aos jovens jornalistas.