sexta-feira, 21 de abril de 2017

Pós-modernos, deixem o futebol para nós

Sabe o que as mulheres mais odeiam quando um homem vê jogo de futebol? Entrego: o ‘chupa’.

Ô palavrinha chula, reclamam elas. Eita, por que atribuir estes vocábulos para os gays?, completam, ouvindo o macho reverberar frases que põem em cheque a sexualidade dos personagens da partida.

Que equivoco, gatinha. Admiro tua inteligência, mas desta vez foi longe.

Mas, meu amigo, no estádio a coisa vai mais longe ainda: as moças abominam os cânticos clássicos das organizadas, que servem apenas para desestabilizar psicologicamente o time rival.

Amigo torcedor, fanático, doente, que sente o coração efusivamente bater, no meio e final de semana, nem tudo tem-se de problematizar, não?

Quem nunca tentou explicar para a moça, sobretudo se ela é engajada em movimentos de emancipação feminina, ora que coisa boa!, que os gritos não tem o propósito de propagar discriminações triviais.

Futebol, meu caro Eduardo Galeano, ainda é visto como ópio do povo, acredita? Pois é, pouquíssimas coisas mudaram desde tua morte, em 2015. Que falta fazes.

Galeano, tua lucidez era importantíssima. Confesso que me emocionava quando via-o falar sobre nossa paixão, pois sempre fui um aficionado pelo esporte bretão. “Nem sempre o futebol é o vilão da história”, disse, em entrevista ao jornalista Lúcia de Castro, no documentário Memória do chumbo – o futebol nos tempos do Condor.

Em teu país, poeta das quatro linhas, o Uruguai, terra pacata, democrática por natureza, o futebol derrubara uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina. 

Só consigo pensar numa coisa: este mundo está chato e certinho demais. Daqui uns dias, na pelada, não vai mais ser permitido falar “toca a bola, filha da puta”.

Vamos lá: homem que é homem torce para algum time. E, ao torcer, ele tem obrigações clubísticas. 

Na maioria das vezes, o compromisso é monogâmico, mas há exceções. É comum ver um cara torcer para três times – dois do Brasil e um da Europa.

Aliás, em janeiro acordei com pesadelo: cadê o futebol da tevê? Até tinha, mas eu queria o brasileirão. Como não me restou outra escolha, no dia seguinte comprei uma caixa de Bavária, sentei num banco e fiquei assistindo a piazada jogar bola. Depois, é claro, tive desfilar meus dotes futebolísticos.

Bem, o que quero dizer é que por pouco, muito pouco mesmo, não faleci por saudade. Meu coração alvinegro, que esperou 50 anos para ver o Timão erguer uma Libertadores, aguentou tranquilamente – quem aguenta zoações alviverde e soberanas não está nem aí.

Sucintamente, pós-modernos deixam o futebol para nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário