Sabe
o que as mulheres mais odeiam quando um homem vê jogo de futebol? Entrego: o
‘chupa’.
Ô
palavrinha chula, reclamam elas. Eita, por que atribuir estes vocábulos para os
gays?, completam, ouvindo o macho reverberar frases que põem em cheque a
sexualidade dos personagens da partida.
Que
equivoco, gatinha. Admiro tua inteligência, mas desta vez foi longe.
Mas,
meu amigo, no estádio a coisa vai mais longe ainda: as moças abominam os
cânticos clássicos das organizadas, que servem apenas para desestabilizar
psicologicamente o time rival.
Amigo
torcedor, fanático, doente, que sente o coração efusivamente bater, no meio e
final de semana, nem tudo tem-se de problematizar, não?
Quem
nunca tentou explicar para a moça, sobretudo se ela é engajada em movimentos de
emancipação feminina, ora que coisa boa!, que os gritos não tem o propósito de
propagar discriminações triviais.
Futebol,
meu caro Eduardo Galeano, ainda é visto como ópio do povo, acredita? Pois é,
pouquíssimas coisas mudaram desde tua morte, em 2015. Que falta fazes.
Galeano,
tua lucidez era importantíssima. Confesso que me emocionava quando via-o falar
sobre nossa paixão, pois sempre fui um aficionado pelo esporte bretão. “Nem
sempre o futebol é o vilão da história”, disse, em entrevista ao jornalista
Lúcia de Castro, no documentário Memória
do chumbo – o futebol nos tempos do Condor.
Em
teu país, poeta das quatro linhas, o Uruguai, terra pacata, democrática por
natureza, o futebol derrubara uma das ditaduras mais sanguinárias da América
Latina.
Só
consigo pensar numa coisa: este mundo está chato e certinho demais. Daqui uns
dias, na pelada, não vai mais ser permitido falar “toca a bola, filha da puta”.
Vamos
lá: homem que é homem torce para algum time. E, ao torcer, ele tem obrigações
clubísticas.
Na maioria das vezes, o compromisso é monogâmico, mas há exceções.
É comum ver um cara torcer para três times – dois do Brasil e um da Europa.
Aliás,
em janeiro acordei com pesadelo: cadê o futebol da tevê? Até tinha, mas eu
queria o brasileirão. Como não me restou outra escolha, no dia seguinte comprei
uma caixa de Bavária, sentei num banco e fiquei assistindo a piazada jogar bola.
Depois, é claro, tive desfilar meus dotes futebolísticos.
Bem,
o que quero dizer é que por pouco, muito pouco mesmo, não faleci por saudade.
Meu coração alvinegro, que esperou 50 anos para ver o Timão erguer uma Libertadores,
aguentou tranquilamente – quem aguenta zoações alviverde e soberanas não está
nem aí.
Sucintamente,
pós-modernos deixam o futebol para nós.
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