terça-feira, 31 de maio de 2016

Que merda, José

Entrei no coletivo. Passei pela catraca, e fui sentar-me no fundo. Eram 12h. O suor escorria em meu rosto. Eu estava voltando da faculdade, após um dia tranquilo. Tive uma aula de Telejornalismo e Redação Jornalística II. O ônibus parou no primeiro ponto da Avenida Araguaia. Uma linda loira de olhos verdes entrara, e fora ao fundo à procura de um lugar. Ofereci-lhe meu assento.

“Pode se sentar, moça”, disse, levantando-se do banco.

“Ah, sim”, falou, abrindo um leve sorriso. “Obrigado pela gentileza.”

“Por nada”, falei.

Dois alunos de um colégio de ensino fundamental e médio olhavam pra ela. Concentrei-me na conversa deles.

“Porra, que gostosa”, falou.

“Pois é”, emendou o outro. “Eu comeria demais.”

O primeiro dera uma risada sádica. Continuei a fitá-los.

“Enfiava a pica até sangrar, cê pira”, declarou.

“Piro demais”, concordou.

Pelo conteúdo altamente inteligente do diálogo e um conhecimento acima do normal sobre as mulheres, eles não deleitavam-se com a nudez feminina há um tempo.

Nesta altura, o coletivo já estava lotado. No meio, em frente à primeira porta de saída, um sujeito parou e esfregou o pau, propositalmente, sobre a bunda de uma outra garota. Cena deprimente. Ela tentara desvencilhar-se do demente. Dera um passo pro lado, e o sujeito também – sempre se mantendo atrás dela, numa posição pouco educada e vulgar, com o propósito de roçá-la, romanticamente, dentro de um busão transbordando gente, às 12h42, sobre o sol goianiense.

Era um absurdo imensurável de se ver.

A gente, sensíveis às damas, não sabe o que é um assedio na rua. A gente, que tenta eliminar o machismo por atos e palavras, acabamos, eventualmente, tendo algum comportamento chulo e trivial. O fantasma do estupro não nos ronda a cada onze minutos, porque nascemos com o privilégio de sermos homens. Por mais que condenemos os machos que procuram uma “vadia” pra transar, num bar, ainda existirá a falsa dicotomia entre mulher pra casar e transar. Por mais que condenemos o discurso e as posturas de Bolsomitos – que bradam a plenos pulmões barbáries de sangrar os ouvidos – ainda haverá discursos simplistas e superficiais. Por mais que fundemos coletivos feministas, nas universidades, ainda terá quem desqualifique os movimentos sociais. Por mais que escrevamos crônicas e contos e poemas e reportagens sobre a desigualdade de gênero, ainda teremos de ver Reinaldos Azevedos por aí. Por mais que repudiemos Alexandre Frota palpitando no MEC (Ministério da Educação), ainda será preciso aguentar suas “piadas” que reforçam a cultura do assédio e estupro. Por mais que façamos a empatia, nunca saberemos a ferida que se abrirá na alma de quem sofreu um pesadelo descomunal, de quem foi abusada sexualmente, como a adolescente de dezesseis anos, brutalmente violentada no Rio de Janeiro.

Por mais que leiamos Virginia Wolf,  por mais que nos empolguemos com os relatos picantes de Anais Nin, em Delta Vênus, não saberemos por que as mulheres não podem falar sobre sexo, como nós, homens. Por mais que sejamos fãs de Truffaut – o cara que nascera pra filmar o amor, como já eu disse inúmeras vezes neste espaço -, não saberemos o porquê de tanta grosseria e desumanidade às mulheres. Por mais que reflitamos sobre as ideias de Weich não saberemos o que elas, diariamente, passaram ao sair com uma roupa um pouco decotada.

Por mais que tenhamos ideia da maldade humana em livros como Bonitinha, mas ordinária. Por mais que façamos uma regressão histórica de nosso modus operandi. Por mais que critiquemos os reacionários, que clamam ao machismo. Por mais que fiquemos com vergonha, todos nós, machistas e burros. Por mais que tudo isto acontecesse, a gente estará, apenas, começando a entender a cultura do estupro.

Cessei o devaneio.

Apertei a campainha pra descer. O motorista parou em frente a uma banca de revista. Dei uma olhada pra moça, para a qual cedi meu lugar. E, depois, fitei a outra. Esta tinha o desdém, a insegurança, o asco, o horror, o nojo em suas pálpebras. “Puta merda”, vociferei, saindo do ônibus.

Entrei na banca de revista, e falei:

“Me dá um O Popular, por gentileza.”

“É pra já”, disse o dono.

“Que merda, viu”, esbravejei.

“Quê foi?”, perguntou o cara.

“Porra, acabei de ver uma cena ridícula”, falei. “Dois caras super idiotas. Os primeiros, eram dois adolescentes se referindo à uma linda loira de forma cretina...”

“E o outro?”

“Um virjão que não dá uma transada há dez anos, roçando o pau na calça da mina.”

“Complicado.”

“Pois é”, eu disse.

“Tá aqui”, falou o cara da banca, escorregando o jornal até minha direção. “Dois e cinquenta.”

Estiquei uma cédula de dois conto, uma moeda e agradeci:

“Valeu. Boa tarde.”

O mundo é bonito na teoria. 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Bárbara é uma garota do caralho

Às vezes, tudo é uma merda. O emprego, o baseado, a birita.  As pessoas estão preocupadas em contar sobre suas vidas, e não querem ouvir o outro. Acham-no esquisito, talvez. Mas um homem tem de ouvir, um homem tem de beirar a loucura, um homem precisa expressar-se de alguma forma. E a escrita serve pra isto: pra aliviar-lhe da insanidade do delírio cotidiano.

Há o rock and roll. Há a literatura. Há uma mulher pra te salvar de outra. Há o uísque vagabundo. Há o vinho barato, que te deixa reflexivo nas ressacas dominicais. Há múltiplos paraísos que te transportam ao êxtase. Há o aqui e o agora. Certo e errado. Puta maniqueísmo. Esse negócio de certo e errado tem de ser superado, urgentemente. Vivemos e não aprendemos. Temos medo. Aí, vamos correndo procurar um emprego qualquer. Criamos uma falsa necessidade de que temos de ter grana. Porém, a grana é apenas um papel com poder aquisitivo. Nada mais, nada menos. Apenas cédulas.

Era sábado. Eu não tinha nenhuma expectativa. Não escrevia há um mês. Apenas publicava meus escritos miseráveis, que escrevera em outrora. Já escrevi muita coisa. Muita merda, também, é verdade. Mas um escritor precisa escrever merda. Só assim, as ideias ruins saem da mente. Então, fica-se livre à criação. E cria-se. E bebe-se. E embriaga-se. Eu tinha de embriagar-me.

Meu telefone tocou. Atendi:

“E aí, meu, vai fazer o quê hoje?”, me perguntou José, do outro lado da linha.

“Porra nenhuma”, falei.

“Que merda, hein”, bradou.

“Grana, né”, justifiquei.

Beberiquei minha latinha de cerveja. E voltei à conversa:

“Eu até queria fazer um trem, sabe”, eu disse. “Estou muito sóbrio.”

“Sóbrio?”, ironizou. “Cê é quase um álcool etílico ambulante.”

Zé sempre com piadas na ponta da língua. Filha da puta.

Dei uma longa gargalhada, e finalizei o diálogo:

“Tenho de voltar a escrever.”

“Tá escrevendo sobre o quê?”

“Futebol.”

“Futebol?”

“Aham.”

“Porra, que bosta.”

“Tá pagando a breja, e o ácido, e o pó, e o fumo”, afirmei.

“Então tá de boa, ué.”

“Tá”, respondi. “Falou, meu.”

“Falou.”

Coloquei o telefone no gancho. Talvez, eu fosse o único que ainda utilizasse os serviços de um telefone fixo. Todos se comunicam através das ferramentas virtuais. Ninguém se olha nos olhos. Tudo é fático e superficial.

Terminei meu texto. Tive plena convicção de que ficara horrível. Revisei-o, e encontrei apenas alguns erros de gramática - coisa de quem redige com pressa.

Coloquei um Doors. Queimei uma ponta de beque.

Chapado, fui banhar-me. Entrei no chuveiro cantando Light my fire. Fico pensando na cena: que ridículo. Eu entoando os versos de Morrison deve ser uma coisa incrivelmente repugnante.

Dei mais uns pegas no baseado, pós banho. Entrei em meu velho Fusca. O automóvel estava em péssimas condições. Outro dia desses, o filha da puta morreu no semáforo, cê acredita? Pois é. Tive de empurrar o desgraçado. Os pedestres ficaram me olhando. Senti uma puta vergonha de ser pobre, nesse dia. Pensei em procurar um trampo sério.

Parei no primeiro posto de gasolina que encontrei. Peguei uma Bavaria e um maço de Marlboro light. Abri a breja, ergui-a e dei um longo gole. “Agora, sim”, pensei. “A vida se torna mais fácil”, filosofei, emocionado.

Entrei em meu velho fusca. Liguei o som. “This is the end, my friend”, cantava Morrison. Descobri Doors na infância. Meus tios ouviam-no. Depois, aos dezesseis anos, eu estava numa festa e um guitarrista mandou os acordes de Roadhouse Blues. Aquele riff me contagiou. Nunca mais me esqueci da maestria de Robby Krieger, da lisergia de Manzarek, da condução de Desmonre, do barítono de Jim Morrison. Através de Morrison, conheci a poesia de Rimbaud, o verso livre de Ginsberg, a prosa poética de Keroauc, os aforismos de Nietzsche e o teatro do absurdo de Artuad. Morrison foi um xamã que brilhou e apagou. Morrison é único. Morrison perpetuou-se no rock. Ele cantou a turbulência dos anos 60, foi fodido pelo sistema jurídico americano, após uma apresentação em Miami – que segundo autoridades, durante sua catarse lisérgica, tinha exposto e simulado uma masturbação.

Cheguei ao bar. Todos estavam sorridentes e gargalhando. Puxei uma cadeira, sentei-me e pedi pro garçom um gole. Ele o trouxe. Enchi meu copo americano, brindei e mandei o primeiro gole.

“E aí, Beck, o que anda fazendo?”, me perguntou Rodrigo.

“Tava escrevendo um texto”, contei, com pouco entusiasmo.

“Sobre o quê?”

“Futebol.”

Ninguém falou nada. Beberiquei meu copo. Acendi um cigarro, e perguntei:

“E você, meu?”

“Ãn..”

“O que anda fazendo, porra?”

“Nada, bicho.”

“Que merda.”

“Tá tudo uma merda.”

“Ou não”, falou. “Temos, pelo menos, a birita nos finais de semana.”

“Mas temos Temer na presidência”, bradei.

“E Calheiros na presidência do Senado e Cunha fazendo barganha política”, discorreu.

 “Foda”, afirmei.

Alguns minutos depois, chegaram duas garotas.

Mara tinha um metro e sessenta de altura, lábios beijáveis, cabelo negro, sorriso malicioso e sedutor. A cara do crime. Em sua companhia, eu apenas contava piadas. Parecia um idiota, reconheço. Mas contava-as pra vê-la sorrir. Seu sorriso não tem preço. Mara é uma mulher do caralho. Terminou o matrimônio porque o maridão era um babaca. “Não dava conta do recado”, afirmava, despudoradamente. Mara cresceu numa família de classe média alta. Aprendeu a dirigir cedo. Depois, foi à faculdade e experimentou maconha, ácido e outros entorpecentes. Formou-se em Letras e, em seguida, passou no mestrado.

Bárbara, por sua vez, era o oposto de Mara. Sua companhia me alegrava. Aquela conversa pedante entre machos não existia na presença dessa representante do sexo feminino. Jornalista, Bárbara tinha aproximadamente um metro e sessenta e cinco, cabelos na altura do pescoço, lisos. Sua pele queimada do sol dava-lhe um quê pecaminoso. Bárbara desperta a libido dos homens, com pouco esforço. Bastava um olhar dela pra deixar-me pirado. Com facilidade, ela descobrira meu ponto fraco e usara e abusara dele. Durante sua infância, ela me contou, seu pai fora um sujeito muito distante. Não estava nem aí pra família. A mãe, mulher bem decidida, não suportou a barra e mandou-lhe à merda. Praticamente, sua mãe a criou. Descobriu, muito nova, a Invasão Britânica dos anos 60, sobretudo Beatles e Stones. Bárbara, porém, tinha uma queda pelos garotos de Liverpool. E toda que vez que conversávamos sobre música, ela me dizia que eu tinha de ouví-los, para desconstruir meu inútil preconceito intrínseco à obra deles. Sem saber muito bem o que falar numa situação desses, eu acatava o pedido. E dizia-lhe que Doors era a melhor banda da história do rock. Citava trechos de When the music is over, em meu inglês jamaicano. Balbuciava The spy – a faixa erótica/lírica do Morrison Hotel. Contudo, ela vinha com versos de Lennon bem encadeados, em seu inglês bem arquitetado, que deixava-me com um sentimento de insuficiência intelectual. Impressionado, eu a escutava. “Puta mulherão”, constatei, introspectivamente. Em seguida, tecia algum elogio barato a alguma colocação dela. Percebi que tínhamos uma ligação. Ou talvez fosse apenas a tensão sexual que aumentava a cada frase dita. Ou as opiniões que compartilhávamos, com uma pitada de discórdia, como recheio. Foda-se... eu gostava da companhia de Bárbara. Gostava de conversar com ela sobre o turbulento cenário político no Brasil. Gostava de saber o que ela sentia e pensava.

Levantei-me da mesa e fui ao banheiro. Observei a galera que esperava pra urinar. Deveria ter uns dez, mais ou menos. Decidi esperar, mesmo assim. Quando chegou a minha vez, uma garota esticou-me uma cédula de dois reais, oferecendo-me um tiro. Disse não estava mais cheirando. Ela balançou a cabeça, expressando um desdém à minha atitude.

Retornei à mesa. Acendi um cigarro, e continuei a conversar com Bárbara – que a cada sílaba proferida implantava em minha psique a vontade de fodê-la. E ela sabia. E ela contava-me sobre sua história, sobre seu livro que estava escrevendo, sobre a época em que morou no Rio de Janeiro. Eu apenas a ouvia, meneando a cabeça. Quando mais Bárbara falava, mais eu tinha a plena convicção de que ela era, de fato, uma garota diferente das outras. Bárbara não estava nem aí pro que os outros diziam. “Ninguém gosta de mim. Acho que é o meu jeito”, queixava-se.

Íamos bebendo uma cerveja atrás da outra e conversando incessantemente. Rodrigo e Mara haviam ido embora. Ficamos apenas Bárbara e eu. Estávamos nos entendendo bem. Discorremos sobre filosofia, sobre a arte, sobre a existência humana. Bárbara tinha uma invejável bagagem cultural. Havia assistido a um show de Paul McCartney, em Goiânia. Para ela é que uma fã ávida dos rapazes de Liverpool, a apresentação do baixista fora sublime. Com estas experiências, constatei que, realmente, eu sou um sujeito às favas da ignorância.

De repente, ela pegou um caderninho e começou a desenhar um clitóris. Queixou-se da maioria dos homens, que não sabiam chupá-la. Quando a conversa chegou num nível altíssimo, levantei-me e fui ao banheiro. “Porra, algo tem de acontecer”, disse.

Retornei à mesa. Ela segurava seu celular, aberto num aplicativo de taxi.

“Já vai embora?”, indaguei.

“Sim”, respondeu ela. “Tô um pouco bêbada.”

“Estamos, todos”, respondi, tomado pelo furor etílico.

Bárbara pediu uma água mineral pro garçom. E eu, um alcoólatra irremediável, pedi um Johnny 
Walker com gelo.

Dei umas bebericadas, e sugeri:

“Vamos fumar um cigarro?”

“Vamos”, respondeu ela.

A gente se levantou. Ela caminhou em minha frente, enquanto eu a observava, de trás.

“Acende pra mim”, pediu. “Não sei acender com fósforo.”

Peguei o artificio, e constatei:

“Fósforo é uma merda.”

“Pois é.”

Acendi o seu cigarro. Depois, coloquei fogo no meu.

Começamos a conversar. Anteriormente, Bárbara havia me tido que gostaria de revelar-me um 
segredo. Eu sabia do que se tratava.

“Pode falar”, regozijei, quando ela abrira a boca.

“Sempre tive uma quedinha por você”, contou.

“Eu também”, sussurrei.

Ela aproximou-se de mim, e dera-me um beijo molhado e lascivo. Foi um contato salival rápido. Então, dei-lhe um abraço. Ficamos alguns segundos abraçados, e retornamos aos cigarros, que estavam acessos no cinzeiro, sobre a mesa, ao lado.

Voltamos ao bar. Sentamos à mesa. Nossos pés começaram a roçar embaixo, e nossos dedos se entrelaçaram. O olhar de Bárbara penetrava-me à alma.

“O que vamos fazer agora?”, perguntei.

“Você sabe”, respondeu ela.

“Eu sei?”

“Sim!”

Dei uma suspirada, e falei:

“Lá em casa é tranquilo.”

“Então tá bom.”

Acenei pro garçom, e disse:

“Traz a conta, por favor.”

“Beleza”, disse ele, com uma cara de empatia.

O sujeito veio com a máquina de passar cartão.

“Elo ou Master?”, quis saber.

“Elo”, respondi.

“Vou pegar outra ali, então.”

“Tranquilo.”

Que cara imbecil.

Agora, ele trouxe a porra da máquina certa. Peguei a conta. E fomos em direção a meu velho Fusca 69, parado do outro lado da 84.

Bárbara ligou o rádio. O álbum Surrealistic Pillow, do Jefferson Ariplane tocava. Gosto de rock psicodelico. Ele alivia-me. Sinto-me mergulhado, no emaranhado de meu inconsciente, ao som da voz flamejante de Grace Slick.

Acendi um cigarro. A gente trocou algumas palavras. Ela estava com a voz embargada, por causa da cerveja e eu não conseguia compreendê-la, mas meneava a cabeça, expressando algum sinal cortes de concordância com sua ideia.

Com uma mão, eu segurava o volante. A outra, encontrava-se repolsada sobre as pernas de Bárbara. Grace Slick bradava Somebody to love, no rádio, ao fundo.

Estacionei meu velho Fusca.

Subimos as escadas de meu apartamento aos beijos. Eu queria fodê-la. Angariava, há tempos, por esse momento carnal. Criamos o clima perfeito pruma foda anti-facismo, à lá Reich. Bárbara sabia disso. E ela queria que eu a comesse. E eu queria comê-la. Sua boca me chamava, seu olhar me agradia, seus gestos me ganhavam. Bárbara vertia a sexo. Quando a tocava, eu pensava apenas em beijá-la, abraçá-la, fodê-la, amá-la.

Ao abrir a porta, ela jogou-me ao sofá, e eu, provavelmente, devo ter fraturado umas duas costelas, com a pancada. Então, Bárbara caiu sobre mim, beijando-me. Foi um beijo demorado, languido e lascivo.

Fui até o som e pus L.A Womam para tocar.

Desabotoeei seu sutiã. E segui a beijá-la. Puxei sua camiseta – cuja estampa era “Mulheres comportadas não fazem revolução -, e seus peitos ficaram à mostra. Beijei-os com devoção. Bárbara tinha seios maravilhosos, na medida certa. Verdadeiras obras divinas. Chupei-os calma e delicadamente. Ela fechara os olhos, esboçando prazer. Aí, suas mãos foram descendo em direção ao meu pau, que estava duro, querendo sair pra fora de minha bermuda. Contive-me, e continuei a beijá-la. Virei-a para o outro lado da cama, e, calmamente, puxei sua bermuda. Ela ficou de calcinha. Culto e glória. Sua boceta cheirava a vida. Beijei-a e fui descendo até os lábios vaginais. Coloquei minha língua lá, e ela se remexia e segurava e puxava meus cabelos. Parei alguns instantes, e dei-lhe um beijo. Aí, ela virou-me para o lado e, com a língua, fora descendo até meu cacete – que estava pronto para ser degustado. Ela chupara-o com prazer e volupia. Bárbara era uma mulher de postura. Ela dera-me prazer como poucas o fazem, e em troca tive de retribuir a gentileza. Homens têm de entregar-se a uma mulher. A gente tem de chupá-las, e contemplá-las, e venerá-las, e adorá-las. Após chupar-me, ela enfiou meu pau em sua boceta. Cansado, ela sentou-se sobre meu pinto e cavalgara. Eu urrava de prazer. Senti minha perna formigar. Explodi.

Acendi um cigarro.

“Cansei”, eu disse.

Bárbara deu um sorriso, e falou:

“Cê é que me cansou.”

“Quer um cigarro?”

“Não”, ela falou. “Fumo do teu.”

A gente ficou conversando por alguns minutos, e Bárbara, de repente, virou pro lado e dormiu.
Bolei um beque. Dei umas tragadas. Pensei sobre a nossa existência. “A essencia precede a existência.” Sábio Satre. O maluco nunca constituiu uma família aos montes da classe média francesa. Viveu escrevendo peças de teatro, romances, ensaios. Nenhum intelectual produziu igual ele.

Bárbara acordou no meio da noite. Eu curtia, fumadão, Buddy Guy.

“Tenho que ir embora.”

“Tudo bem.”

“Sério, eu gostaria de ficar aqui, contigo.”

“Tudo bem, Bárbara”, redargui. “Eu entendo.”

“Fazem três dias que não vou pra casa.”

“Tua mãe teve tá preocupada, né”, eu disse.

“Sim”, sussurou ela.

Demos um beijo de despedida. Levei-a pra casa. Fomos em silencio no carro.
Após a partida de Bárbara, passei três dias engatados na esbórnia. Cheirava, fumava, biritava. Eu levava a máxima de William Blake à ponta da língua: “Estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria”.

sábado, 21 de maio de 2016

Goiânia alternativa

Cidade borbulha ao som do bom e velho rock and roll

Marcus Vinícius Beck
Dayrel Godinho

Nacionalmente conhecida como “Seattle brasileira”, Goiânia abrigará vários shows de esquenta ao festival Bananada. O festival ocorrerá em maio, entre os dias 13 e 15, e terá a participação de Jorge Ben Jor e Planet Hemp. Na edição passada, o cantor e compositor, Caetano Veloso, ícone da Tropicália, apresentou-se no Bananada e arrancou suspirou e gritos da galera.

No último dia 26 de março, o centro cultural Martin Cererê recebeu festival de rock alternativo. Bandas como Sheena Ye, Ressonância Mórfica e Mecanics de Goiânia se apresentaram por lá. A atração foi aberta pelos caras do Sheena Ye. “Muito bom tocar aqui”, disse o vocalista, antes de o show iniciar. “Vocês são fodas”, finalizou ele, ao sair do palco.

Goiânia borbulha no rock.  E já borbulhara ao som de bandas de hard-core, punk e stoner rock, além de virar palco de festivais como o Bananada, Goiânia Noise e Vaca Amarela, todos com, pelo menos, mais de uma década de existência.

Agora, gente novíssima rejuvenesce a cena. Carne Doce, Peixefante, Chá de Gim, Componets, Caffeine Lullabies, Boogarins e Luziluzia ganham estímulo para mostrar suas composições, recheadas de referências que vão de Secos e Molhados a Mutantes e Clube da esquina, passando, também, pelo rock progressivo e música experimental.

Shows Alternativos

Além dos festivais já consagrados, muitas bandas, até mesmo as já conhecidas andam pela cidade. Fazem seus shows em pequenos bares, lotando-os, como a Boogarins, que atualmente está em festival nos E.U.A.

Existe um estúdio, no Centro de Goiânia, onde os artistas se encontram para gravar e, também, fazerem seus shows. O valor, geralmente, é 10 reais. Boogarins, Carne Doce, Peixefante, Chá de Gim, que dão identidade aos “novos goianos”, já tocaram lá.

Outros bares da cidade também têm surgido como alternativa. Eles são, em sua maioria, alternativos e abraçam as bandas. Pouquíssimos entram em suas contas, mas lá estão, tocando para seu público e divertindo a galera. O vocalista da Boogarins e Ultravespa, Dinho, sempre anima o pessoal.

Ao ar livre outro tipo de show tem surgido em troca de muda de plantas, alimentos não perecíveis, ou até mesmo de graça. Bandas daqui, em encontros no parque, na UFG ou em protestos têm acontecido. A Chá de Gim e, agora, a Primavera aderiram ao formato, que, além de conscientizar, tem surgido como uma forma de mostrar sua música.

sábado, 14 de maio de 2016

Minhas coisas

É o livro. Já andou comigo em diversos bares. Sua sabedoria é única. Comprei-o num sebo, no centro. Estava em promoção, paguei 10 conto. Todos falavam do velho safado. Quando eu dizia que nunca havia lido Mulheres, esbravejavam: “porra, cê é bukowskiano e nunca leu Mulheres”. Pois é. Fui lá, peguei-o, li a primeira frase e constatei: “Tenho de comprá-lo.”

A leitura fora fácil. A prosa do velho buk – através do olhar e da percepção de seu alter ego, Henry Chinaski – ficou viva em mim por muito tempo. Depois, li-o para tentar desvendar a personalidade de Bukowski. Na infância, ele era excluído. Tinha um pai autoritário que lhe agredia. Aí ele descobriu, na adolescência, Dostoievski e aprendeu, com o mestre russo, que todos odeiam seus pais.

Mulheres já viajou pra vários lugares. Pro sul, nem se fala. Toda vez que vou a um lugar, levo-o. É como se fosse um ritual. Outro dia, encontrei um rabisco no meio do livro, na página 122. “Saudades, gatinho”, dizia o bilhete, em uma letra bem desenhada. Como minha memória, às vezes, é enfumaçada demorei pra perceber de quem era o recado. Após matutar, descobri: era dela. Sempre ela. A luz em minha escuridão. Com ela, aprendi sobre a vida, sobre o mundo, sobre as coisas que nos cercam.

Puta saudades. Fazer o quê? É a vida. É o mundo. É a realidade, pura e simples. Acho que por isso as coisas são tão chatas, meu. Sempre a realidade pra nos puxar, pra nos tirar dos sonhos, pra nos fazer renunciar a vida. Porra, acho que não a verei mais, talvez. Só não uso o vocábulo ‘nunca’ porque é forte demais. Nunca é nunca. A gente não consegue ser sutil, ao bradar o tal do ‘nunca’.

Tá, eu sei. Tô divagando, já. Foda-se. É apenas uma crônica – o gênero mais brasileiro, o samba da literatura.

Voltando à literatura. Já li Drummond, e já o fumei. Há algumas folhas milimétricamente cortadas, numa compilação de poemas que tenho. A qualidade sedal era impressionante.

Imagine daqui duzentos anos:

“Já leu o Marcus Vinícius Beck?”

“Não. Mas já fumei.”

“Sério?”

“Aham.”

Eu acharia hilário. Primeiro: é a forma mais eficiente de a literatura entrar em seu cérebro. Segundo: pitar um beque de vez em quando não causa mal a ninguém.

Ah... se na página 122 de Mulheres encontrei um bilhete, na 280 havia uma pontinha de um baseado. Estava lá há tempos, viu. Tanto que dei um trago, e não deu nada. Nem uma pequena onda.

Alguns autores a gente lê. Outros a gente fuma. Outros, apenas olhamos e nos ensaiamos para lê-lo, mas não o fazemos. Esse negócio de clássico é complicado. Requer o tempo certo pra leitura. Sou assim com Ulysses, de James Joyce. Já o emprestei na biblioteca da faculdade, dei algumas foleadas e coloquei-o de lado. Eu era assim, também, com Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust – o célebre autor francês que descreveu a sociedade burguesa do início do século XX – , até que decidi enfrentá-lo.

“Cê cria personagens com uma facilidade incrível”, me disse uma colega.

“Sério?”, falei. “Isso que nem li nada, ainda.”

“Consigo imaginar as cenas que descreve em minha cabeça”, constatou ela.

“Então deve ser bom”, falei.

“E é”, completou.

Com música é a mesma coisa. Há discos que ouço, sem o menor problema. Outros, tenho uma forte resistência. Já tentei ouvir alguns dos Beatles, e parei no meio do caminho. Por outro lado, The Doors é foda. Marcou-me alguns momentos, que os tenho com o barítono de Morrison, de fundo sonoro. 
Várias viagens de ácido, várias fodas, várias conversas. É o Doors, né.

Um dia desses, uma moça tentou-me persuadir. Disse pra eu escutar os garotos de Liverpool. Pus pra tocar White álbum, cujas músicas são melhores que as da Invasão Britânica. É uma boa obra, e só. 
Talvez minha cabeça esteja com muita psicodelia. Ou, não.

O rock tem de ser transgressor. Eric Clapton é transgressor, Hendrix é transgressor – sua guitarra uiva e chora -, Little Richards é transgressor, Chuck Berry é transgressor.

“Beatles ou Stones?”, perguntam-me.

“The Who”, respondo.

A propósito: os riffs de Townshend são a alma do Who.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Loirinha rodrigueana

Nelson Rodrigues falou e tá falado: “Não tem para ninguém, barbada, meu filho, ninguém representa a ideia de pecado e liberdade ao mesmo tempo como essa minha Engraçadinha”.

E não mesmo. Um dia desses, entre xingamentos e contestações urbano burguesa, veio-me à mente a imagem dela. Loira, shortinho azul polaco curto, pernas branquinhas, rosto lascivo. Uma loucura, amigo leitor.

Pode acontecer tudo nessa vida maluca e desvairada. Contudo, pouca coisa é melhor do que amar. Ah, como é bom aquele cheiro de mulher. Aquelas mãos leves e macias. Aquele sorriso sedutor e conquistador.

Sábio velho safado. Não o Bukowski. E sim Henry Miller – o cara que escrevera a trilogia de sacanagem filosófica/existencial, A crucificação encarnada. Livrão, cara. Já o li e reli umas duzentas vezes. Mestre Miller andara pelas ruas de Nova Iorque recheado de indagações sobre a vida, mas com dois propósitos em mente: amor e buceta.

Oh, que vestidinho! Outro dia, cheguei bêbado às duas da madrugada. Dei de cara com ela, acredita? Tive de dar aquele sorriso etílico de boêmio invertebrado. Pra minha sorte, ela retribuiu-me a gentileza e abrira a boquinha, expressando um maravilhoso e belo cumprimento entre dois vizinhos estranhos.

“Obrigada”, agradeceu, quando abri a porta, dando-lhe a passagem.

“Não há de quê”, falei, com minha fala arrastada pela birita.

Bbrrrzzzz.... “Você é o meu ponto fraaaccccoooooo, por que não?”.

Ao chegar em casa, liguei um BB King – rei do blues e uma trilha sonora excepcional pruma foda. O som deu-me uma vontade de amar, de deliciar-me no sexo feminino e carinhoso. A birita deixa-nos aturdidos. Quando bebe-se, algo acontece. Sábio velho Buk – o cafajestão da literatura.

Diga sim à vida. Diga sim ao amor. Diga sim à embriaguez, ao sexo, à arte. Lembrei-me de Nietzsche. E, depois, de Morrison – o vocalista do The Doors, a banda mais louca da história do rock.

Trocamos pouquíssimos olhares, naquela noite. Fui pra casa. E curti o término de meu porre sozinho. Ela deveria estar em sua casa, cuidando de seu filho – sim, ela tem um filho -, enquanto eu penso em algumas linhas trôpegas. Clap-clap, penso em algumas linhas! Ninguém as lê! Acho que nem o pessoal deste jornal as lê.

Um dia desses, acho que ontem, ela passou com um carrinho de bebê. Que coisa linda. Uma mulher com bebê representa e simboliza o amor materno – aquele que o doidão do Freud disse que é a primeira atração pelo sexo oposto que sentimos.

Eu fumava meu último Minister. E pensava nas crônicas de Xico Sá e em sua definição de estria e celulite. “Homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite”, escreveu. E se eu te contar que ela não tem estria, nem celulite, ou qualquer coisa? Eu também não sei diferenciar essa porra. Mas foda-se: ela é uma coisinha de louco. Ela lembrou-me de Judite, Vera Fischer, em Perdoe-me por me traíres, filme dirigido Braz Chediak, baseado na peça do Nelsão.

Até o porteiro de meu condomínio a acha lasciva. Fui pedir um cigarro pra ele, e ela estava na portaria, com seu filho. Cheguei, todo desengonçado, tentando parecer simpático, pra conversar e brincar com a criança. Falei alguma coisa, mas nem a criança, nem a mãe, nem o porteiro entenderam. Tive de abrir uma feição descontraída. Tive de forçar, ali, uma situação qualquer pra não dar uma de otário. De qualquer forma, acho que não deu.

Ela foi embora, com seu filho no cangote.

“Tem um cigarro pra me arrumar, vey?”, perguntei ao porteiro.

“Na hora”, respondeu.

“Que gata, né?”, indagou.

Acendi o pito. Vi a fumaça subir pelo céu, e respondi:

“Pra caralho.”

“Literalmente”, brincou.

Forcei um riso, e conclui:

“O dia fica até mais claro, ao vê-la.”

Pelo visto Rodrigo não tinha entendido o sentido da colocação.

“Vou indo nessa, meu”, falei.

“Falou.”

Virei às costas.

Que gata! Que linda! Que vontade de abraçá-la. Que vontade de cuidar dela e do filho e da mãe e de 
sua família toda!

Ela, cujo nome ainda não descobri, tem a maldade, a sacanagem, a perversão nas pupilas. Taí, talvez sacanagem na pupila lhe seja a característica mais atrativa. Ou magnética, como cantou Jorge Ben Jor. Ela dá uma risadinha tímida pras pessoas. Uma garota tipicamente do interior, que vive na capital de Goiás.

Nela, encontro uma pitada rodriguena. Ela é tesuda. Claro que por não ser científica, minha pesquisa apontou que todos, nos bares por aí, preferem as loirinhas novinhas. Sinto que não devo reproduzir neste espaço o conhecidíssimo vexame onomatopeico dos homens diante da gostosinha-mor dessa caceta.

Trimmmmmmm.... era ela. Atendi:

“Ãn...”

“O que tá fazendo?”, ela quis saber.

“O de sempre”, respondi.

“Tá bêbado, né?”

“Um pouco.”

“Te ligo depois.”

“Beleza”.

Deixarei pra respondê-la depois desta crônica etílica, tarada, lisérgica, fumada e pirada.

Que loirinha tesuda.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Novos Baianos: salada de choro e rock

Grupo misturou elementos da música popular brasileira com rock. Na década de 1970, lançaram Acabou Chorare, um dos melhores álbuns da MPB

Novos Baianos no sítio, em Jacarepaguá.
Pepeu Gomes, Morais Moreira, Baby Consuelo, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor foram os responsáveis por uma união que revolucionou a música brasileira. Se os tropicalistas estavam em exílio, coube a eles o papel de unir rock e suingue brasileiro. Ao converter em música o discurso de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, o grupo conseguiu fazer o país cantar samba com guitarra elétrica.

No final dos anos 70, sambista não se relacionava com roqueiro. Quem gostava de Black Sabbath e Led Zeppelin tinha de afirmar que Chico Buarque era careta. E, por sua vez, a galera do pandeiro e tamborim acham os cabeludos todos alienados e doidos. Mas havia os visionários, que já imaginavam a fusão de elementos roqueiros com a pureza harmônica da MPB. Com seu pirado e genial LP Acabou Chorare, os Novos Baianos conseguiram, pela primeira, vez um casamento entre música brasileira e rock.

A forma era pura e simples: um regional acompanhado de guitarra elétrica e bateria. Com essa formação, os Novos Baianos tinham feito algum estrago, em Salvador e Rio de Janeiro. Suas apresentações, eram uma novidade ao paladar sonoro dos hippies. Foi quando conheceram João Gilberto. Nesta época, o grupo, que contava com dez pessoas, dividia um apartamento em Botafogo. O problema do espaço era resolvido com tendas e barracas, que eram armadas no apartamento. João Gilberto chegava por lá no final da madrugada. Ao entrar, estendia uma cédula de 50 cruzeiros, comprava café da manhã para todo mundo e, então, ficavam em intermináveis sessões de jam session.

Os Novos Baianos foram absorvendo o valor e o prazer do suingue brasileiro. Mais de 30 anos depois, o épico Acabou Chorare permanece como um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos. Em 2007, a revista Rolling Stone classificou-o como o melhor álbum da música brasileira. Listas à parte, Acabou Chorare é maluco e transgressor. A faixa mais emblemática, “Brasil Pandeiro”, é um samba-canção de Assis Valente, um dos compositores favoritos de Carmem Miranda, que se matara em 1958, após ingerir veneno.

O disco inteiro, contudo, expira inovações e irreverência. O rock misturou-se ao choro, ao samba e ao frevo numa salada que revolucionou a música brasileira e abriu caminho para outras fusões de gêneros. No disco seguinte, em Novos Bainos F.C, eles trilharam o mesmo caminho, embora menos festejado pela crítica. O grupo desmantelou-se em 1978. Todos os integrantes, em carreira solo, continuaram a produzir trabalhos brilhantes.

Showbiz

Com seus cabelos à lá hippie, eles assustavam as pessoas nas ruas. O Brasil vivia sob a batuta de uma ditadura. Os Rolling Stones foram impedidos de tocar aqui. E a experiência contracultural deles era demais para os padrões da conservadora sociedade brasileira. Baby Consuelo andava com um retrovisor de Fusca pregado à testa. Tudo o que ganhavam nos shows, ficava numa caixa atrás da cozinha. Eles tinham, ali, a quantia que julgavam necessária para viver.

O cantor Orlando Silva, que durante um tempo foi vizinho do grupo, no Hotel Paramount, em São Paulo, costumava recolher-se em seu quarto quando os via na porta. Quem acreditou neles, foi o diretor da gravadora Som Livre, João Araújo – posteriormente conhecido como o pai do cantor e compositor Cazuza. Ele bancara os custos da gravação de Acabou Chorare e impulsionara a carreira do grupo.

Livro

Aproveitando uma série de shows que volta a reunir os Novos Baianos, o compositor e letrista, Luiz Galvão, lançou um livro para quem deseja saber mais sobre a pirada história do grupo. A obra chama-se Anos 70: Novos e Baianos. Vários episódios, inclusive, tem como personagem João Gilberto.

Galvão conta que, certa madrugada, João o convidou para andar de carro pelo Rio de Janeiro. O carro foi movendo-se, e Galvão levou um susto quando João avançou no sinal vermelho. Mal dera tempo de recuperar-se, e João cruzou outro sinal sem olhar para os lados. No quarto sinal, parou. Um carro passara sem fôlego ao lado deles. Então, Galvão disse-lhe: “Como você sabia que vinha um carro?” João respondeu, com a sabedoria musical de velhos e novos baianos: “Pelo som. Estou dirigindo de ouvido”.

Apesar de ser uma biografia, os acontecimentos são contados sob a visão de Galvão. Ele insere-se no centro dos fatos, como um narrador-personagem. O poeta, dentre os causos narrados, afirmou que o futebol era coisa séria entre o grupo. No intervalo, eles reuniam-se para uma 'paulista' - aquela passada de mão em mão dando só um pega.



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Em casa, Corinthians sofre gols e é eliminado da Libertadores

 No brasileiro, o timão estreia contra o Grêmio, na Arena, em 15 de Maio, às 16h. Foto: corinthians.com.br
Mesmo com gol de Marquinhos Gabriel nos acréscimos, o Corinthians foi eliminado da Libertadores, nesta quarta-feira (4), na Arena, após empatar por 2 a 2, com o Nacional do Uruguai. Esta foi à segunda eliminação do time alvinegro na temporada, que no último dia 23 perdeu nos pênaltis para o Audax, no estadual.

Como houve empate sem gols no jogo de ida, os corintianos precisavam vencer. Mas o gol de Nico López, no começo do jogo, e Romero, no início do segundo tempo, colocaram os uruguaios nas quartas-de-finais da Libertadores.

O gol de Lucca, aos 14 minutos do primeiro tempo, chegou a dar esperanças ao Corinthians. Em seguida, André desperdiçou uma penalidade antes de Marquinhos Gabriel empatar a partida, já nos acréscimos.

No ano passado, a equipe foi superada três vezes em mata-mata. O timão perdeu para o Guarani – PAR (Libertadores), Palmeiras (Estadual) e Santos (Copa do Brasil).

O Jogo

A partida com atraso. Nas arquibancadas, acontecia uma festa que apenas a torcida alvinegra pode proporcionar.  

Mas quem começou melhor o jogo foi o Nacional. Pressionou o Corinthians ao impor forte marcação no meio-de-campo e saídas rápidas para o contra-ataque. O timão tentava se encontrar, mas errava passes. E faltava criatividade no último toque.

Mal na defesa, o Corinthians deu bastante espaço para o Nacional jogar. E, quando a equipe alvinegra subia para o ataque, sempre sobrava espaço para os uruguaios armarem um contra-ataque.

Pelo lado direito, com Fagner e Giovani Augusto, eram que as jogadas corintianas aconteciam. Aos 14 minutos, o gol de Lucca amenizou um pouco a má atuação do escrete de Tite.

O jogo era truncado, lento. Do jeito que o Nacional, com o regulamento embaixo do braço, queria. Quando o Corinthians ia ao ataque, tornava-se vulnerável. No final do primeiro tempo, Cássio salvou cabeçada de Fernandez.

O Corinthians bem que tentou pressionar, no início do segundo tempo. Só que a equipe não contava que o Nacional faria, aos 11 minutos, o segundo gol, com Romero.

No desespero, Tite fez duas substituições. Colocou Danilo, Marquinhos Gabriel e Romero. O time até pressionou o Nacional, mas abusou do chuveirinho na área e facilitou o trabalho da defesa adversária.

No fim, em pênalti mal batido, André desperdiçou a chance de igualar o confronto. Ainda assim, após o lateral Fagner ser expulso, o time alvinegro, finalmente, empatou o confronto, em cobrança de pênalti. Desta vez, o novato Marquinhos Gabriel anotou o tento.

Em seguida, o assoprador de apito decretou o final da partida. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

As coisas são como são

Porra. A birita. Sempre ela, cara. Quando a gente dá o primeiro trago, a coisa caminha a passos largos e efusivos. Vai-se prum destino desconhecido, que mais parece uma catarse dionisíaca. A prudência é uma solteirona chata, sedenta por prazer. Somos as peças do tabuleiro. O galã fala pra mocinha: dê-me as mãos. Eu sou o poeta. Eu sou foda. Eu sou, apenas, um aspirante a artista que já chegou à beira da loucura algumas vezes. Nesses momentos, temos apenas a garrafa e uma mulher – se der sorte. Levo as mãos ao bolso. Não encontro grana. Tenho apenas um cartão de crédito. E ainda falam em loucura. O sujeito que inventara este pequeno objeto de plástico é pirado. Com ele, faz-se compras, paga-se a foda, a breja, o ácido, o fumo. Mas esquecemo-nos de que somos responsáveis pela nossa liberdade. Os versos não são declamados, tampouco as ideias. Não há estilo. Conheci mais caras com estilo nas ruas, nos bares, na esbórnia da vida, do que no banco das faculdades. Hunter Thompson, quando estourou os miolos, tinha estilo. E Ginsberg ao escrever seus delírios nietzschianos. E Walt Whitman ao trepar com marinhos, em Nova Iorque, no século XIX. E Henry Miller que sentira o desespero, na França. Você, garota, tem o paraíso no meio das pernas. As coisas são como são, e não adianta merda nenhuma.