domingo, 27 de setembro de 2015

POÉTICA EMBRIAGADA

Tenho em meus olhos a mentira, o medo, a incerteza, a covardia. Vivo, simplesmente. Os deuses escolhem os bons pra morrer. Eles mentem. E vivem. E fodem. Ligue o som, cara. Sinta a música na noite, como Schopenhauer. Embriague-se sem pressa, sem pressão, sem motivos; apenas embriague-se de noite, de dia; simplesmente embriague-se de vinho, uísque ou maconha; puramente embriague-se de poesia e cinema. Apollo não era devoto do sofrimento. Dionísio sentia a dor e bebia vinho. Sócrates provocava a acrópole. Rimbaud fora à África. Van Gogh enlouqueceu. Um homem não consegue criar o dia todo.

Marcus Vinícius Beck

domingo, 20 de setembro de 2015

Merda também pode ser poesia

“Vou embora”, ela me disse

Acendi um cigarro
E pensei 
As pessoas
Entram
E saem de nossas vidas.
Os ponteiros caminham nos relógios. Eu sempre estraguei tudo
Agora uma garota loucamente linda
Saí pela porta da frente

Fiquei sentado em meu sofá, com minha garrafa de cerveja na mão
A vida é estranha
As pessoas são estranhas
O mundo é estranho
Um dia eu estraguei tudo
Um dia disparei palavras
Um dia ela falou que eu era um idiota
Mas
Sou um idiota que bebe e escreve alguns poemas vagabundos
Um idiota com argumentos na ponta da língua.
Um idiota que não gosta de Cold Play
Um idiota que não gosta de Emile Bronthe
Um idiota que gosta de Truffaut e Pink Floyd
Um idiota que gosta de rock progressivo

“Querida”, gritei

Ela virou a face:

“Não vá”, eu disse

“Eu preciso”, completou ela, entrando em seu carro

Os minutos pareciam travados no ponteiro
Imaginei as vezes que fodemos despreocupadamente
Na cozinha de casa.
Ela recostada na mesa. Eu beijando-a e metendo
Como num filme
Eu a vejo em minha cabeça. Teu beijo. Teu sexo. Meu pau em tua boceta
Passou, querida
Agora outro passará as mãos em teus cabelos
Enquanto eu abro
Mais uma garrafa de cerveja

Costumamos deixar os momentos irem embora
E depois
Escrevemos palavras
Que não traduzem o que sentimos
Merda
Merda também pode ser poesia
Viver é foda

Marcus Vinícius Beck

sábado, 19 de setembro de 2015

Cartas na Rua

Título: Cartas na Rua
Autor: Charles Bukowski
Tradução: Pedro Gonzaga
Editora: LP&M
Ano: 2013
Páginas: 192




Cartas na Rua é o primeiro romance do escritor Charles Bukowski. A obra narra, através da ótica de Henry Chinaski, o período em que Bukowski trabalhou nos correios. Na primeira frase do livro, Chinaski diz: “Tudo começou com um erro”. Aí, o leitor imediatamente se pergunta: quê erro? Bem, o erro de Bukowski foi trabalhar por onze anos nos correios, emprego que odiava. Bukowski conta-nos como o trabalho transformou sua vida, fazendo-o sentir fortes dores nas costas e estresse. Com um humor ferino, Bukowski escreve para aqueles que sabem como é ter um emprego monótono. 
Cartas na Rua apresentou-nos o estilo conciso e objetivo e repleto de diálogos do velho safado. Bukowski dividiu a obra em vários capítulos curtos. Conforme disse o autor: “Eu me preocupava com o ritmo”. Dessa forma, nota-se a forte influência de Hemingway e Fante.

Cartas na rua é um livro direito. No natal, Henry Chinaski recebe uma oferta para um trabalho temporário “que qualquer um faria”. Ele não imaginava que continuaria neste trabalho, entre idas e vindas, por onze anos. Chinaski era encarregado de substituir carteiros que faltavam, sobretudo quando chovia. Então, ele sempre tinha a rota mais difícil. As cenas detalham sobre insólitos encontros com cachorros e senhoras nada simpáticas. Jonstone, seu chefe, designava-lhe estas rotas, e ele ficava furioso.

Chinaski divide um apartamento com Betty. Aí, ele demitiu-se. Ela começou a trabalhar. Mas ela começou a preocupar-se, mesmo com Chinaski arcando com as despesas, sobre o que os vizinhos diziam sobre ele. Então se separaram. Chinaski perdeu a mulher e o cachorro. Nesta altura do romance, Betty disse que o cachorro iria sentir saudades dele. Ele respondeu: “Alguém, pelo menos, irá sentir saudades de mim”.

Hank se junta a uma mulher do Texas. Joyce era uma garota rica e mimada, que casou-se com ele para mostra-se independente aos seus pais. Ele retorna aos correios. Ela começa a trabalhar na prefeitura, e apaixona-se por um empregado. Então, eles se separam. Já que Joyce não sabia dirigir, Hank ficou com o carro. "Deus, ou seja lá quem, continua cuspindo-as nas ruas, e o rabo dessa é muito grande, e os peitos daquela são pequenos demais, e aquela outra é louca, e outra totalmente pirada, tem uma ainda que é religiosa e outra que adivinha o futuro em folhas de chá, há a que não consegue segurar seus peidos, e mais aquela que tem um nariz imenso, sem esquecer daquela de pernas esquálidas" Pg.133/134


Após algum tempo, Chinaski reencontra Betty. Ela comunica-lhe que o cachorro foi atropelado e morreu. Na sequência, eles se dispersam. Então algum tempo depois, Chinaski vai até o hotel em que Betty morava. Ela não estava. Ele a encontrou no hospital, onde a viu morrer. Após a morte de Betty, Chinaski se interessou por uma mulher no hipódromo, que costumava ir. Fay frequentava algumas oficinais literárias, andava sempre de preto e dizia estar protestando contra a guerra. Passaram a morar juntos. Ela engravidou, e deu a luz a uma menina chamada Marina. Neste momento do livro, Chanski faz uma bela reflexão: “As mulheres vieram ao mundo pra sofrer”.  Após o nascimento da menina, Fay resolveu se mudar. Ela ficou com Marina. Hank com o gato. E concordou em dar-lhe uma quantia por mês. O livro termina com Chinaski demitido do correio e falando que irá escrever um romance.

Cartas na rua é uma obra simples, sem devaneios. Bukowski ao escrevê-la demonstrou uma estrutura narrativa direta e rítmica. Ao contrário dos outros romances do velho safado, em Cartas na Rua temos um Chinaski em meia idade, que ama sua família e nutre um pouco de esperança na humanidade. Presente em todas as obras do escritor, as mulheres tem uma parte especial na bibliografia de Bukowski. Em Cartas na Rua, ele também discorria sobre como as mulheres se prendem as opiniões alheias e esquecem-se de viver suas próprias histórias.


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

THE DOORS NA VITROLA E TUA LEMBRANÇA


Bem que podia
Existir um lugar
Pra se esconder
Quando a novela não prestar
E a maconha não funcionar
E o álcool perder a graça
E a gente não encontrar a solução
Pra onde ir.
A vida é um jogo
Que
Ninguém avisou-nos de que
Jogá-lo é foda
Aí, a gente fica tentando buscar
Explicações. Mas não há explicações. Há dia pós dia. Porre após porre. Foda após foda
Há sucessão de fatos. Há sempre outra tragada. Há sempre outra trepada. Há sempre outra mulher. Há sempre outras merdas a serem protagonizadas
Há o disco do The Doors tocando ao lado. Há teu sorriso gravado em minha memória. Há lembranças. Há minha velha máquina de escrever, que salva-me de mim mesmo e de minhas loucuras e delírios e devaneios.
Sou medroso. Penso que todos os homens o são. Por isso vivo à noite. Tenho minhas ideias, quando todos dormem em suas camas de cinco mil reais. Escrevo, enquanto a mulher grita ao lado, celebrando o prazer dos corpos.
Grito pra eles
Mas ninguém parou
Ela passou a gemer mais alto
Eu passei a bater em minha máquina freneticamente
Dois idiotas. Ou só um idiota
Provavelmente eu
Que tento competir com o prazer
Humano.