segunda-feira, 15 de maio de 2017

O futebol é nosso, precisa de mais?

Amigo torcedor, amigo secador, o campeonato brasileiro começou neste final de semana. Acabou o tédio dos estaduais e seus jogos de quinta. Coitado de nossos olhos que tinham de ver partidas horríveis. Era o mais do mesmo. Ninguém merece, tá loco!

Nelson Rodrigues deve ter se remexido em sua tumba, idem com Drummond, aquele cronista que era fã de Pele, na época do Tricampeonato, lembra?

Todos sabem que em São Paulo e Rio de Janeiro há quatro times que erguem o troféu. Na terra do samba, deu Flamengo, que novidade!, e na terra da garoa, meu caro Benito de Paula, deu Corinthians, o time do mestre Adoniran Barbosa.
“Meu amor é o coríntia”, canta Adoniran, no alto-falante, enquanto coloco estas frases futebolísticas no papel.

Canta mestre, canta, por favor!
No brasileirão, todavia, há ao menos 12 times que têm chances de levantar o caneco. Haja coração!
Ilustre leitor que me acompanhou até aqui, xingando-me com a crônica de Antero Greco ao lado, a primeira rodada do brasileirão foi marcada pela célebre iniciativa dos jogadores de protestar contra as medidas do ilegítimo Michael Temer.

Nos últimos dias, assistimos nossos direitos irem para o ralo, enquanto Temer, o mais impopular da história, põe embaixo do braço sua cartilha neoliberal. Nada mais justo.
Pois é, meu caro, a coisa está difícil, o Corinthians empatou e Brasília escandaliza como sempre. O tal do poder pode ser tranquilamente considerado um veneno para o povo. Você, que adora destilar suas críticas contra o futebol na mesa do bar, e intitula-se “de esquerda’, jamais irá compreender o verdadeiro sentido o esporte bretão.

Que graça teria a vida sem o jogo?
Chega do noticiário poluído pelos senhores de terno e gravata e suas retóricas desnecessariamente rebuscada. Por isso, há o jogo, a emoção, o grito, o cântico apaixonado numa arquibancada, domingo, às 16h, com o sol refletindo na cara.

Chico Buarque, aquele gênio que foi alvo do discurso de ódio no ano passado, era Fluminense. Cartola, poeta do samba, também torcia para o time das Laranjeiras, inclusive há quem diga que as cores da Mangueira, verde e rosa, são por causa do amor do mestre pelo Flu.
O que é isso, seu cronista, agora você deu de citar essa gente!

Futebol é coisa de gente alienada, é o ópio do povo, é a política do pão e circo dos dias atuais. Bem, amigo, se você pensa assim, lamento, mas o estádio não te é um ambiente familiar. Torcidas, como a Gaviões da Fiel, no fim da década de 1970, protestaram contra a Ditadura Militar, levavam faixas e as estendam nas arquibancadas.

Como represália, a Gaviões passou a ser perseguida pelos milicos. Anos depois, já na gestão interminável do PSDB, em São Paulo, a Fiel também enfrentou perseguições. Desta vez, o homem forte do Poder Público foi o atual Ministro do STF, Alexandre Moraes. Aliás, é dele o esdrúxulo projeto de lei sobre torcida única em São Paulo, em dia de clássico.
Hijo de puta del carajo!

É, amigo botequeiro, futebolístico, vilanovense e, sobretudo, corintiano, o futebol tornou-se elitizado. Os ingressos estão cada vez mais caro, e se você tem tendência de torcer no sofá, com pipocas ao lado, digo-lhe que algo está muito errado contigo e com tradição do brasileiro.

O futebol é do povo, o futebol não é teatro para sentar-se em cadeiras, após pagar R$ 100 pelo ingresso, o futebol é nosso. Precisa de mais?

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