Amigo
torcedor, amigo secador, o campeonato brasileiro começou neste final de semana.
Acabou o tédio dos estaduais e seus jogos de quinta. Coitado de nossos olhos
que tinham de ver partidas horríveis. Era o mais do mesmo. Ninguém merece, tá loco!
Nelson
Rodrigues deve ter se remexido em sua tumba, idem com Drummond, aquele cronista
que era fã de Pele, na época do Tricampeonato, lembra?
Todos
sabem que em São Paulo e Rio de Janeiro há quatro times que erguem o troféu. Na
terra do samba, deu Flamengo, que novidade!, e na terra da garoa, meu caro
Benito de Paula, deu Corinthians, o time do mestre Adoniran Barbosa.
“Meu
amor é o coríntia”, canta Adoniran, no alto-falante, enquanto coloco estas
frases futebolísticas no papel.
Canta
mestre, canta, por favor!
No brasileirão, todavia, há ao menos 12 times que têm chances de levantar o caneco. Haja coração!
Ilustre
leitor que me acompanhou até aqui, xingando-me com a crônica de Antero Greco ao
lado, a primeira rodada do brasileirão foi marcada pela célebre iniciativa dos
jogadores de protestar contra as medidas do ilegítimo Michael Temer.
Nos últimos dias, assistimos nossos direitos irem para o ralo, enquanto Temer, o mais impopular da história, põe embaixo do braço sua cartilha neoliberal. Nada mais justo.
Pois
é, meu caro, a coisa está difícil, o Corinthians empatou e Brasília escandaliza
como sempre. O tal do poder pode ser tranquilamente considerado um veneno para
o povo. Você, que adora destilar suas críticas contra o futebol na mesa do bar,
e intitula-se “de esquerda’, jamais irá compreender o verdadeiro sentido o
esporte bretão.
Que
graça teria a vida sem o jogo?
Chega
do noticiário poluído pelos senhores de terno e gravata e suas retóricas
desnecessariamente rebuscada. Por isso, há o jogo, a emoção, o grito, o cântico
apaixonado numa arquibancada, domingo, às 16h, com o sol refletindo na cara.
Chico
Buarque, aquele gênio que foi alvo do discurso de ódio no ano passado, era
Fluminense. Cartola, poeta do samba, também torcia para o time das Laranjeiras,
inclusive há quem diga que as cores da Mangueira, verde e rosa, são por causa
do amor do mestre pelo Flu.
O
que é isso, seu cronista, agora você deu de citar essa gente!
Futebol
é coisa de gente alienada, é o ópio do povo, é a política do pão e circo dos
dias atuais. Bem, amigo, se você pensa assim, lamento, mas o estádio não te é
um ambiente familiar. Torcidas, como a Gaviões da Fiel, no fim da década de
1970, protestaram contra a Ditadura Militar, levavam faixas e as estendam nas
arquibancadas.
Como
represália, a Gaviões passou a ser perseguida pelos milicos. Anos depois, já na
gestão interminável do PSDB, em São Paulo, a Fiel também enfrentou perseguições.
Desta vez, o homem forte do Poder Público foi o atual Ministro do STF,
Alexandre Moraes. Aliás, é dele o esdrúxulo projeto de lei sobre torcida única
em São Paulo, em dia de clássico.
Hijo
de puta del carajo!
É,
amigo botequeiro, futebolístico, vilanovense e, sobretudo, corintiano, o
futebol tornou-se elitizado. Os ingressos estão cada vez mais caro, e se você
tem tendência de torcer no sofá, com pipocas ao lado, digo-lhe que algo está muito
errado contigo e com tradição do brasileiro.
O
futebol é do povo, o futebol não é teatro para sentar-se em cadeiras, após pagar
R$ 100 pelo ingresso, o futebol é nosso. Precisa de mais?
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