“Mamãe,
mamãe, não chore, a vida é isso mesmo, eu vou embora”.
A
canção do tropicalista Torquato Neto reverbera no alto-falante sem fio que o
doutor Freud inventou. Mamãe, mamãe, não chores, todo jornalista é meio cigano
e perambula por este mundo louco e desvairado à procura de melhores
oportunidades, às vezes cometemos algumas insanidades, é verdade.
Mamãe,
mamãe, lembro-me como se fosse hoje quando te disse que meu destino seriam as
redações e as aventuras da escrita, e eis que me tornei um escriba. Os livros
de poesia que tu passaste às minhas mãos deliciaram meus olhos, alimentaram
minha imaginação e fazem parte de minha biblioteca.
Aquele
arroz com feijão e bife quando eu chegava da escola, que cerimônia!, não tem
preço que pague. O macarrão com carne moída, que destruía loucamente após a
última aula de Educação Física, sempre comi exageradamente (risos)!, ficará em
minha cachola para o resto da vida. Isso sem contar as inúmeras vezes que foste ao
médico comigo em plena madrugada.
Sem
falar nos cafunés, no dengo, nos conselhos sobre mulheres, já na fase adulta,
que foram aliviados por doses de cachaça e cerveja. A vida adulta é
incompreensível, se aos 20 penso assim, imagine tu aos 40?
A
vigília noturna diante das enfermidades que tive, tua sombra gigante na parede
do quarto me acalmava. Que mãe bonita, linda e maravilhosa!
Sussurravas
umas coisas sobre literatura, que me ajudou no caminho que escolhi trilhar,
hoje entendo a importância de todos aqueles livros que me deste na infância e
adolescência. Sem contar na música de Taiguara, que ouço ao rabiscar estas
linhas,vim a ouvir já homem feito, som bom da porra.
Mamãe,
mamãe, não choras, tu ainda verás meu nome na Folha. Temos muito o que reclamar
da vida, mas nada além das queixas habituais sobre o cotidiano. Mamãe, mamãe,
hoje é teu dia, curta-o e vivia-o da forma que achares melhor. “Acorda, menino,
você tem de ir pra aula”, lembro deste mantra que me ajudara a combater a
leseira matutina, e tu lembras dele?
Desculpe-me
pelo meu mau-humor, amar é deixar o outro em sintonia com suas piadas mais sem
graças, triste e envelhecidas, além de aturar grilos, medos e delírios da
figura que irá acompanhar todos os teus dias.
Enquanto
batuco esta crônica, tu dormes e eu acabo de chegar do boteco com lirismo à
ponta dos dedos. Eis que hoje é teu dia, hoje é o dia de todas as mães deste
mundo, todavia dedico estas humildes linhas a Andréia Cristiana Tavares, a
melhor mãe e companheira do universo.
Forte
abraço, mamãe. Beijos.
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