Leio
nos webjornais e observo o seguinte: há uma tendência em achar que nosso futebol,
pentacampeão do mundo, deve aceitar o tecnicismo do outro lado do atlântico. De
uns tempos para cá, a irresponsabilidade, o drible, o molejo, a ginga deram
lugar a disciplina tática.
É,
como se pode montar, um raciocínio tão atroz tanto uma ditadura que utiliza o
esporte bretão para alienar a população. Por aqui a coisa é um pouco diferente:
nossos craques vão para a Europa, fazem carreira por lá e depois se encontram
no avião e formam a seleção brasileira.
Bom
mesmo eram os deboches de Garrincha, o anjo das pernas tortas, a patada atômica
de Rivelino, os passes longos de Gérson, o papagaio... hoje a responsabilidade
caí nas costas de Neymar, um grande jogador, mas que ainda tem de lidar com o
excesso de brilhantismo que lhe mascara o futebol.
Mais cedo,
esbravejei alguns palavrões impublicáveis ao me deparar com uma manchete do
Estadão: “Veja as carros de Neymar”. Eu não sabia de ria, chorava ou gritava.
Desde quando jogador de futebol possui status de celebridade? Ora, seu
cronista, muito simples: desde que os patrocinadores começaram a injetar
dinheiro nos times.
O
inglês David Beckham, excelente cobrador de faltas, foi um dos primeiros
jogadores a ter status de celebridade. Casou-se com uma spice girl, Victória
Beckhman, e no começo dos anos 2000 se transferiu para o Real Madrid, em uma
das contratações mais caras do futebol.
Ávidos
pela ostentação dos ídolos, os adolescentes não vestem mais camisas do
Corinthians, Flamengo ou Fluminense. Eles não conversam mais sobre a rodada do
brasileirão, sobre os lances duvidosos, embora ainda haja quem afogue as
lamúrias futebolísticas do bar.
Hoje,
os adolescentes discutem o ataque do Barcelona, o meio-de-campo do Real Madrid,
a chuteira do Cristiano Ronaldo, a habilidade do Messi. Cadê nossos craques?
Aonde eles estão? Desde quando Iniesta é melhor que Zico? O camisa 10 da gávea colocava
a bola onde queria. Bola parada era um perigo que só.
De
repente, os especialistas em bola parada foram à Europa. E lá, vestiram camisas
de times que priorizam a disciplina tática a irresponsabilidade. Infelizmente,
a pátria, que um dia vestiu chuteiras de ouro, hoje, lamentavelmente, calça
sandálias da humildade e responsabilidade.
Sem
contar os idiotas da objetividade, para parafrasear o gênio Nelson Rodrigues, que
transformaram o esporte bretão em uma ciência exata. Diante de tantas
estatísticas, o torcedor comum tem medo de ver o cortejo e não entender
patavinas do que lhe é dito através de comentaristas mergulhados no óbvio
ululante.
Eis
o nosso futebol.
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