quinta-feira, 28 de julho de 2016

O porra-louca do cinema nacional

Paulo César Pereio em entrevista à revista Trip. Foto: Site da Trip
Paulo César Pereio não tem carteira. Nem mochila, ou mala. Quando vai ao Rio de Janeiro, cidade em que mora a filha Lara, leva apenas um cartão de crédito e uma carteira de identidade. Não tem carro, não guarda dinheiro e nem leva bagagens quando se ausenta de casa. Pereio não quer mais saber de relacionamentos. Ele não se considera um homem livre, e sim resistente. Tido como o maior porra-louca do cinema nacional, tirou a máscara de seu personagem - um doidão que sempre tem de falar sobre drogas, sexo, dinheiro e liberdade.

Natural de Alegrete, no Rio Grande do Sul, Pereio nasceu em 14 de outubro de 1940. Em 76 anos de vida, trabalhou com grandes nomes do cinema nacional, como Glauber Rocha, Arnado Jabor e Hugo Carvana. Estreou na telona em 1964, em Os Fuzis, dirigido por Ruy Guerra. Atuou em mais de setenta filmes, tendo passado por diversos movimentos, como o Cinema Novo e Marginal, além das pornochanchadas. Casou-se três vezes. Primeiro, com a atriz Neila Tavares, mãe de Lara. Depois, com Cissa Guimarães, com quem tem dois filhos. E, por último, com Suzana César de Andrade, mãe de Gabriel, que conheceu apenas aos seis anos.

Em entrevista à jornalista Nina Lemos, da Revista Trip, Pereio revelou a saudade que sente da época em que era possível viver sem documento. “Hoje até pra trocar cheque você precisa de documento, porra”, diz o ator. Ele afirma que chegou a viver uns dez anos sem RG, carteira de motorista ou coisa do tipo. “Mas não lembro de como era porque estava sempre drogado.” Mesmo com conta em banco, o ator não guarda dinheiro. “Quando ganho uma bolada , gasto tudo, não sei guardar, quero me livrar daquilo, gasto com noite, com puta”, diz.

Ele vive num quarto-e-sala no centro de São Paulo há dois anos. O apartamento tem vista para os prédios da cidade, e a chave de casa fica na Toca da Raposa, boteco ao lado do prédio em que mora. “O pessoal do bar já sabe pra quem pode entregar a chave”, diz. Entre os que têm este privilégio, estão o cineasta Neville de Almeida, amigos mais jovens, seus filhos Lara, Thomas e João e, também, alguma moça da “night”.

Paulo, personagem do velho cafajeste no clássico Eu te amo, de Jabor, vive par romântico com Maria, interpretada por Sônia Braga. Em vários filmes, aliás, o ator contracena com a atriz, com quem, segundo ele, nunca teve nada. “Quando você chega na zona da amizade, já era”, alardeia, com sabedoria. Hoje, enfim, livrou-se do amor. “Estou muito cansado para ter um relacionamento , prefiro a minha solidão”, afirma. “Mas também estou muito cansado para a minha solidão. Parece poesia, não?”

Apresentador do Sem Frescura, no Canal Brasil, Pereio sabe que vive dentro de um personagem que criou. De acordo com Nina, várias vezes durante a entrevista ele se corrigiu. “Não vou falar isso de novo porque falo sempre a mesma coisa”, diz. A imagem que criou é do cara que fala muito palavrão – o que é verdade, basta assistir alguma entrevista dele para se constatar – e vive pirando na boemia, sexo e droga.

Durante a entrevista, o porra-louca do cinema nacional não fumou nem um cigarro, nem bebeu. Comeu apenas duas bananas. “Tomo remédio da pressão que é diurético, por isso preciso repor o potássio”, conta. Só com o baseado que não parou, ainda. Questionado pela jornalista, ele disse que de vez em quando queima um, mas não vai atrás. “De vez em quando num baseadinho eu dou um tapinha. Mas não compro. Não vou atrás”, afirma.

Candidatura

Em 2012, candidatou-se à câmara de vereadores de São Paulo, pelo PSB. Sua principal proposta era proibir o uso de carros na capital paulista. Ele ainda propôs um meio de transporte coletivo. ”É preciso desenvolver um transporte de massa eficiente para o cidadão paulista”, afirma.

Indagado sobre o propósito de sua candidatura, disse que há um alto número de veículos que circulam pela capital paulista. “O que eu quero propor é proibir o uso de automóveis que circulam na cidade”, esclarece. De acordo com o ator, cerca de sete milhões de carros estão nas ruas de São Paulo e mil novos vão, todos os dias, às ruas. “As pessoas não param de comprar. É um sonho meio imaturo, esse de ter o teu seu carrinho.”

Na juventude, Pereio foi filiado ao Partido Comunista. Com a dissolução, entrou para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). “Eu achei uma aventura interessante, já tinha experiência política. Minha mãe trabalhou na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul”, afirma. Pereio disse, à época, que sua candidatura representaria o cidadão comum. “Tem muita gente na rua, muita gente que demora três horas para chegar ao trabalho.”

Documentário

O quadrinista Allan Sieber dirigiu o documentário Pereio, eu te odeio, lançado em 2011. Ao todo, são trinta horas de conhecidos falando mal do ator, com seu consentimento. Famoso pelo seu jeito irônico e descompromissado, Pereio sempre coroa suas frases com a expressão “porra”. Ele foi homenageado, em 2011, no festival de gramado, por sua atuação no longa metragem Ponto Org.

Atualmente, integra o elenco da série Magnifica 70. A produção relata o universo da boca de lixo, onde foram feitos a maioria dos filmes brasileiros na década de 1970. Na série, Pereio dá vida ao general Souto. 

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