Paulo César Pereio em entrevista à revista Trip. Foto: Site da Trip |
Paulo César Pereio não tem
carteira. Nem mochila, ou mala. Quando vai ao Rio de Janeiro, cidade em que
mora a filha Lara, leva apenas um cartão de crédito e uma carteira de
identidade. Não tem carro, não guarda dinheiro e nem leva bagagens quando se
ausenta de casa. Pereio não quer mais saber de relacionamentos. Ele não se considera
um homem livre, e sim resistente. Tido como o maior porra-louca do cinema nacional,
tirou a máscara de seu personagem - um doidão que sempre tem de falar sobre
drogas, sexo, dinheiro e liberdade.
Natural de Alegrete, no Rio Grande
do Sul, Pereio nasceu em 14 de outubro de 1940. Em 76 anos de vida, trabalhou
com grandes nomes do cinema nacional, como Glauber Rocha, Arnado Jabor e Hugo
Carvana. Estreou na telona em 1964, em Os
Fuzis, dirigido por Ruy Guerra. Atuou em mais de setenta filmes, tendo
passado por diversos movimentos, como o Cinema Novo e Marginal, além das
pornochanchadas. Casou-se três vezes. Primeiro, com a atriz Neila Tavares, mãe
de Lara. Depois, com Cissa Guimarães, com quem tem dois filhos. E, por último,
com Suzana César de Andrade, mãe de Gabriel, que conheceu apenas aos seis anos.
Em entrevista à jornalista Nina
Lemos, da Revista Trip, Pereio
revelou a saudade que sente da época em que era possível viver sem documento.
“Hoje até pra trocar cheque você precisa de documento, porra”, diz o ator. Ele
afirma que chegou a viver uns dez anos sem RG, carteira de motorista ou coisa
do tipo. “Mas não lembro de como era porque estava sempre drogado.” Mesmo com
conta em banco, o ator não guarda dinheiro. “Quando ganho uma bolada , gasto
tudo, não sei guardar, quero me livrar daquilo, gasto com noite, com puta”,
diz.
Ele vive num quarto-e-sala no
centro de São Paulo há dois anos. O apartamento tem vista para os prédios da
cidade, e a chave de casa fica na Toca da Raposa, boteco ao lado do prédio em que mora.
“O pessoal do bar já sabe pra quem pode entregar a chave”, diz. Entre os que
têm este privilégio, estão o cineasta Neville de Almeida, amigos mais jovens,
seus filhos Lara, Thomas e João e, também, alguma moça da “night”.
Paulo, personagem do velho
cafajeste no clássico Eu te amo, de
Jabor, vive par romântico com Maria, interpretada por Sônia Braga. Em vários
filmes, aliás, o ator contracena com a atriz, com quem, segundo ele, nunca teve
nada. “Quando você chega na zona da amizade, já era”, alardeia, com sabedoria. Hoje,
enfim, livrou-se do amor. “Estou muito cansado para ter um relacionamento ,
prefiro a minha solidão”, afirma. “Mas também estou muito cansado para a minha
solidão. Parece poesia, não?”
Apresentador do Sem Frescura, no Canal Brasil, Pereio
sabe que vive dentro de um personagem que criou. De acordo com Nina, várias
vezes durante a entrevista ele se corrigiu. “Não vou falar isso de novo porque
falo sempre a mesma coisa”, diz. A imagem que criou é do cara que fala muito
palavrão – o que é verdade, basta assistir alguma entrevista dele para se
constatar – e vive pirando na boemia, sexo e droga.
Durante a entrevista, o
porra-louca do cinema nacional não fumou nem um cigarro, nem bebeu. Comeu
apenas duas bananas. “Tomo remédio da pressão que é diurético, por isso preciso
repor o potássio”, conta. Só com o baseado que não parou, ainda. Questionado
pela jornalista, ele disse que de vez em quando queima um, mas não vai atrás.
“De vez em quando num baseadinho eu dou um tapinha. Mas não compro. Não vou
atrás”, afirma.
Candidatura
Em 2012, candidatou-se à câmara
de vereadores de São Paulo, pelo PSB. Sua principal proposta era proibir o uso
de carros na capital paulista. Ele ainda propôs um meio de transporte coletivo.
”É preciso desenvolver um transporte de massa eficiente para o cidadão
paulista”, afirma.
Indagado sobre o propósito de sua
candidatura, disse que há um alto número de veículos que circulam pela capital
paulista. “O que eu quero propor é proibir o uso de automóveis que circulam na
cidade”, esclarece. De acordo com o ator, cerca de sete milhões de carros estão
nas ruas de São Paulo e mil novos vão, todos os dias, às ruas. “As pessoas não
param de comprar. É um sonho meio imaturo, esse de ter o teu seu carrinho.”
Na juventude, Pereio foi filiado
ao Partido Comunista. Com a dissolução, entrou para o Partido Socialista
Brasileiro (PSB). “Eu achei uma aventura interessante, já tinha experiência
política. Minha mãe trabalhou na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul”,
afirma. Pereio disse, à época, que sua candidatura representaria o cidadão comum. “Tem
muita gente na rua, muita gente que demora três horas para chegar ao trabalho.”
Documentário
O quadrinista Allan Sieber
dirigiu o documentário Pereio, eu te
odeio, lançado em 2011. Ao todo, são trinta horas de conhecidos falando mal
do ator, com seu consentimento. Famoso pelo seu jeito irônico e
descompromissado, Pereio sempre coroa suas frases com a expressão “porra”. Ele
foi homenageado, em 2011, no festival de gramado, por sua atuação no longa
metragem Ponto Org.
Atualmente, integra o elenco da
série Magnifica 70. A produção relata o universo da boca de lixo, onde foram
feitos a maioria dos filmes brasileiros na década de 1970. Na série, Pereio dá
vida ao general Souto.
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