No final de semana pode tudo. A
gente enche a cara sem preocupação, sem medo, sem ficar com os olhos vibrados
nos ponteiros do relógio – como fazemos, por exemplo, numa bebedeira homérica
na terça-feira. Durante a semana, biritar é foda. Basta dar o primeiro trago
para a consciência pesar. “Tenho de trabalhar amanhã”, pensamos. “Porra, sou um
bêbado de merda”, finalizamos.
Nossa maior alegria é sexta-feira
às 18h. Todos começam a rir. A música toca, a verdade é dita. No horário
comercial, os homens a evitam com suas retóricas rasas e enxutas, que mais
parece um sonho onírico e fantasmagórico. São histórias de como ascender na
vida sem esforço, de como ganhar dinheiro, de como conseguir chegar ao posto de
idiota.
Penso em Luís Buñuel, fazendo
seus filmes em Paris. Penso em Nietzsche, caminhando pelas ruas à procura do
predicado perfeito. Penso em Céline e tudo aquilo que ele descobriu, mas não
soube o que fazer – e acabou dançando a música deles. Penso nos loucos, nos
desvairados, nos que não se contentam com frases feitas e chavões, mas que, no
fundo, no fundo, sabem que pouco ou quase nada pode ser feito. E, apenas, seguem em frente.
Nem todos aspiram um cargo nobre,
numa empresa de merda. Alguns querem pensar, outros querem a arte, outros
querem embriagar-se. Durante a existência, provamos de prazeres, cultuamos um
beijo, uma foda, uma pequena dose de regozijo pra alegrar e suportar a vida.
Contudo, a morte dobra a equina como uma garota que lhe seduziu à noite,
inebriado de contestações filosóficas e empíricas.
Ela é charmosa, bicho. Pega-lhe à
mão, olha em teus olhos e diz: “Cê precisa me seguir. Dê-me a tua mão,
gatinho.” E às vezes não queremos estender a mão, às vezes queremos mais um
beijo, mais uma foda, mais um porre num bar qualquer, mais um suspiro inebriado
pelo furor do prazer numa esquina deserta e escura. Sábio mesmo era William
Blake, que em Provérbios do inferno disse:
“A prudência é uma solteirona.”
Eu sei as palavras que você quer
escutar. Eu sei todos os teus medos e receios e amarguras. Mas as palavras
sumiram de meu vernáculo, e tudo que lembro são vazios silábicos. Não há
linguagem, só letras jogadas ao ar. Nada pra falar-lhe. Os poetas são sábios justamente porque conseguem prever os sentimentos – tão em falta na sociedade
do smartphone, cujas redes sociais tornaram-se o epicentro da discórdia, da
confusão, da intolerância.
Cadê o mistério? Dê-me uma noite
de mistério. Anseio por conhecê-la, por abraçá-la, por afagá-la a pele. Tu és
meu devaneio mais pirado. Desejo fitar-te os olhos e lábios – que me libertam
das ideias e posturas maçantes.
Nas ruas, os burocratas
trancam-se em seus carros, fecham os vidros, ligam um som de merda e andam pela
cidade. Eles esquecem de que há homens nas ruas, sem grana, sem esperança, sem
vontade de desempenhar alguma atividade. Pequenos burgueses desalmados, que
passam a vida toda correndo contra o tempo, bradando uma sabedoria simplista e
propagando a barbárie do chefe.
Eles carregam relógio no pulso,
na tela do celular, do computador (na firma) e no painel do carro. São
controlados, e nem se dão conta. Dizem-lhe o que tem de ser feito, e você o faz –
sem pensar. Não há tempo pra ironia, pra sedução, pro olhar lascivo e curioso e
inquieto. Hoje, em pleno século XXI, é só clicar no perfil do facebook da moça,
e pronto: tudo estará lá. “Que tipo de música cê ouve?”, quase não se indaga. Aliás, que coisa mais cafona!
Viva o mistério, viva o prazer,
viva o amor. A vida é rápida, e a gente não pode renunciá-la em prol da falácia
de uma eternidade incerta. A moral cristã impõe-nos ao charlatanismo dos barões
de cristo, que, com seus bolsos transbordando cédulas, dizem-nos como viver e
chegar ao lado do Cristo.
Não amamos, não vivemos. Apenas
ponderamos, alheios ao caos, à confusão, ao amor. Simples e plenamente, o amor.
Somente ele o fará despertar pros problemas ao seu lado. O amor!
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