De que mais precisa um homem
senão de uma garrafa de uísque – para estimular os pensamentos. De que mais
precisa um homem senão de uma mulher e seu amor – e seu corpo – para acomodá-lo
quando estiver sem vigor para seguir em frente. De que mais precisa um homem
senão da vitória do seu time – que jogara um clássico contra o maior rival no
final de semana.
E enquanto ele fica com as mãos
suando em frente ao televisor, vendo seu time jogar, o sujeito necessitará de
uma cerveja. Futebol pede cerveja. Se não, é como ouvir um disco dos Beatles e,
de repente, acha-los efervescentes e viscerais. Não faz o menor sentido.
Do que mais precisa um homem
senão de uma casa – bem simples – para que possa acomodar-se com a mulher – e o
amor dela. Do que mais precisa um homem senão da poesia transgressora de
Rimbaud e Baudelaire – que lhe ensinarão os caminhos da vida. Do que mais
precisa um homem senão da prosa de Dostoievski – que lhe contará sobre o
comportamento humano.
E enquanto lê, junto de sua
amada, em sua casa simples, o homem suplicará apenas pelo ócio. Afinal, o
sujeito tem de deleitar-se no mais pleno silêncio para absorver a prosa
revolucionária do mestre russo.
Do que mais precisa um homem
senão da música – a arte que, de acordo com Shopenhauer, é a mais viva de todas
porque ela é, justamente, a própria coisa, e não a essência da coisa. Do que
mais precisa um homem senão de alguns discos do The Doors, digo L.A Woman ou
Strange Days. Do que mais precisa um homem senão da comodidade para que a
música seja assimilada e passe a fazer sentido.
E enquanto o sujeito ouve o
barítono flamejante de Jim Morrison, ele precisará de duas mãos: uma para levar
o cigarro à boca e a outra para acendê-lo.
Do que mais precisa um homem
senão de uma boa gozada na madrugada – para fazer-lhe sentir o sopro da
eternidade em seus ouvidos, para fazer-lhe abraçar a vida e celebrá-la e
vivê-la, plena e prazerosamente.
O que mais precisa um homem senão
da simplicidade da vida? Uma mulher, uma música, um livro, um caderno para
anotar seus aforismos alucinados e delirantes. Um homem não precisa de muita
coisa, um homem precisa de amor, de esperanças, de expectativas.
Sim, um homem precisa de
liberdade. Liberdade para pensar, para amar, para viver, para gozar, para
sentir, para provar, para experimentar. Um homem não precisa de um armário
cheio de dinheiro, cujas cédulas não gastará em vida.
E enquanto o cara sai de casa,
atrás de mais um pileque na madrugada, ele passa por um templo Católico Apostólico
Romano. Passou longe, virou a esquina. Ficou matutando o discurso pouco
dialético que acontece, aos domingos pela amanhã, ali dentro.
Um homem não precisa de religião,
nem doutrinas, nem de conceitos que circulam na boca de pequenos burgueses; um
homem precisa seguir suas intuições, seus parâmetros e desejos e pensamentos.
A mente é um emaranhado infinito,
a imaginação é uma correnteza que se distancia da praia.
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