Juro que faço de tudo, mas não
consigo. Juro que me esforço para acreditar que não se trata de um golpe, de
uma tramoia articulada por tubarões, de uma manobra parlamentar. Juro que
perambulo de site em site – inclusive gringos – para tentar entender o contexto
político deste Brasil às luzes de 54 e 64. Juro que lá fora se fala o que aqui
se esconde pra baixo do tapete. Vide o editorial do francês Le Monde: “A triste
ironia do tombo de Dilma Rousseff.”
Nada de novo na capa dos – com licença, Mino Carta – jornalões e revistões tupiniquim. Os mesmos adjetivos e
verbos clamam pelo golpismo, pela extinção de direitos trabalhistas conquistados
à duras penas, estão lá. Juro que tentei entender, raro leitor, o diálogo
patriótico entre Sérgio Moro e Romero Jucá e, asseguro, após a audição, que fiz
como o dirty old man da literatura estadunidense, Charles Bukowski: golfei com
gosto. Quem não golfa, diante
de um cenário desses?
Por favor, ajudem-me: como aquele
diálogo pode ser interpretado fora do xadrez do círculo golpista? Certamente,
Jucá assumiria a criação do enredo golpista. O resto, você sabe. Pausa. Mais
uma golfada. Que porre, hein, nobre cronista! Pois é, terceira pessoa, mas como
não se embriagar com os charlatões bradando insanidades a plenos pulmões, que
são propagadas pelos oligarcas da grande mídia, após aperto de mão ‘amigável’.
Tento entender a tese do
impeachment, embora traumático e com a benção dos evangélicos e suas bíblias, mas
juro que não consigo. O cenário político do Brasil retornou a agosto de 1954 quando
os golpistas, impulsionados pelo ultra-conservador Carlos Lacerda, pressionaram
Getúlio Vargas, cujo governo dava forças ao capital nacional em detrimento da
dinheirama do outro lado do Atlântico e do Tio-Sam.
Juro que às vezes tenho impressão
de que estou em O Processo, de Kafka,
quando o protagonista, Joseph K, foi intimado a julgamento, sem nem saber o
porquê. Todavia, tudo vai ser lembrado depois, como diria o cobrador, narrador de conto homônimo de Rubem Fonseca. Sabe aquele momento em que a ficção explica mais do
que qualquer tese sociológica? Rubem Fonseca é assim. Guimarães Rosa é assim. John
Steinbeck é assim. William Faulkner é assim.
Procuro entender, juro que
procuro, como as delações são fracas quando os personagens atingidos é o Aécio
Neves, é o José Serra – eterno protegido da mídia nativa (desculpe de novo,
Mino) e é o Michael Temer – o poeta que deixaria Millôr Fernandes cabisbaixo.
Aliás, os versos de Temer, mais uma vez me desculpe Millôr, seriam motivos
suficientes para impeachment, num país sério.
É lamentável - juro que é - essa
retórica elitista e golpista. Será que acordaremos apenas quando a pátria de
chuteiras – agora com medalha de ouro na galeria de troféu – se transformar na
pátria de calhordas e endinheirados (com o perdão da redundância, ops)? Quando
os diretos trabalhistas, que o nobríssimo Flávio Rocha, dono da maior rede de
vestuário Brasil, a Riachuelo, tanto repudia, forem para o beleléu? Quando
abriremos os olhos?
Seu Flávio, recomendo-lhe,
urgentemente, a leitura Da riquezas das
nações, de um velhão, do Iluminismo, chamado Adam Smith. O cara pensou esse
negócio chamado capitalismo, você acredita?
Leia-o com senso-crítico. Ah, não deixe, também, de passar os olhos por John Maynard Keynes – economista que tirara os EUA da crise de 1929. Keynes é conhecido como um dos pais do Estado de Bem-Estar social. Privatizações? Jamais. Keynes, um social-democrata por natureza, pensou um capitalismo justo e sério, e não um capitalismo de interesses.
Agora evoco os versos de Caetano,
em Alegria, alegria: “O sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e
preguiça/ Quem lê tanta notícia.”
Quem lê tanta notícia? Eu, porque
neste contexto não tem outro jeito, não.
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