Eis que numa tediosa tarde de
quarta-feira chega um pequeno poema em prosa de Lua. Ansioso, cliquei no arquivo. Na primeira
frase, me surpreendi. Na segunda, me segurei na cadeira. E na terceira fiquei
boquiaberto. Era um daqueles poemas que me fez lembrar de Anais Nin – escritora
francesa que inspirara Henry Miller a escrever seu primeiro romance, Trópico de Câncer.
Lua, saibas que conseguiste me
inebriar com a poética e o charme de tuas frases – muito em falta nesses tempos
em que a moral e os costumes são propagados aos borbotões por charlatões
cristãos. Hoje, vivemos sob a égide da bíblia. Falar de sexo? Tá louco, seu
cronista! Descrever o clímax – o momento dos momentos, como disse Hemingway? Nem
pensar!
O sexo se tornou uma prisão.
Acostumados com máquina de masturbação há apenas um clique de distância, os
jovens praticamente perderam o interesse pela copulação. Não há o jogo, a
conversa, a sedução, o mistério, o olhar. É tudo fático e frívolo. E quando vão
pra hora agá, tentam repetir os célebres ensinamentos da brasileirinhas.
Criou-se uma geração homens que
são sabe transar. Que imaginam que o clitóris seja o nome de alguma banda emo.
E que vivem com a cabeça recheada de merda, com pouca poesia, com pouco assunto;
e com muita, muita sacanagem barata.
Eles querem o carro do ano, o
relógio do momento, a roupa de grife; eles querem bradar que “comeram aquela
gostosa”. Todavia, no amor se deve despir-se deste materialismo petulante e,
simplesmente, entregar-se à parceira.
Ah, Lua, tu tens fogo e paixão.
Tu tens alegria e calor. Tu tens, Lua, a vida, o desejo, a vontade de celebrar
a existência. Nietzsche escrevera que o homem não conseguirá mudar o mundo, e
sugeriu que saíamos de casa e o abracemos e celebremos o prazer.
Lua, tu és a poetiza que não está em nenhum livro.
O mundo é grande, mal e intenso.
Costumamos piscar os olhos e perder momentos importantes. A música vai parar. O
poeta vai fechar o livro. O músico vai esquecer a nota. Viva a vida. Abrace o
sol. Jogue o celular na parede. Grite o nome de alguma mulher às três da
madrugada, bêbado – de preferência. Viva, cara. Plena e unicamente,
embriague-se no emaranhado feminino. E lembre-se: é bom contemplar uma mulher
chegando ao clímax.
Ouça Serge Gainsburg. Aliás, Lua,
tua descrição resgatou em minha comprometida memória o clássico Je t´aime moi non plus. À época, o
feioso do Gainsburg era casado com a beldade da Jane Birkin. No final da
canção, Birkin simula um orgasmo num dos momentos mais belos das artes nos anos
70. Trilha indispensável entre quatro paredes.
Lua, agora deixo com Baudelaire: “Quando, cerrando os olhos,
numa noite ardente/ Respiro a fundo o odor dos teus seios fogosos/ Vejo
abrirem-se ao longe litorais radiosos/Tingidos por um sol monótono e dolente.”
Poetiza, tu és sublime.
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