quarta-feira, 16 de março de 2016

O antes e o depois de Cabeça Dinossauro



Há 30 anos, os Titãs lançavam Cabeça Dinossauro. O disco revolucionou o rock nacional com letras fortes e estética punk. “Com Cabeça Dinossauro os Titãs encontram uma maneira objetiva”, disse Paulo Miklos. “Devo confessar que quando falamos em fazer um arranjo ou uma canção à la Titãs, é no Cabeça Dinossauro que pensamos”, afirmou Sérgio Britto, autor de Homem Primata, Aa Uu, Porrada e Bichos Escritos. De fato, o Cabeça está presente na coleção de vinil de todo fã de rock nacional que se prese. No primeiro acorde do disco se constata o porquê o álbum entrou para a história da música nacional.

Em 1986, Cabeça Dinossauro trouxe ao rock nacional temas polêmicos, de uma forma direta e simples. Os integrantes procuram Liminha, que deu uma aula de rock ao grupo. À época, ele era responsável pelos maiores sucessos da indústria fonográfica, além de ter sido integrante de Os Mutantes, na década anterior. Liminha mostrou como um produtor pode mudar a imagem de uma banda, sem fazê-la perder a identidade. Assim, a pegada new wave, presente nos dois primeiros trabalhos do grupo, foi substituída pela linguagem punk.

Em entrevista à Folha de São Paulo, Sérgio Britto reconheceu o trabalho do produtor. “O Liminha foi o responsável pela realização do nosso maior sonho: gravar com qualidade, liberdade e em altíssimo astral”, disse. Durante as gravações do álbum, Arnaldo Antunes e Tony Belloto foram presos por porte de heroína e compuseram Polícia. “Polícia para quem precisa/ Polícia para quem precisa de polícia”, canta Sérgio Britto. O conjunto também criticou a igreja e o estado, em Igreja. “Eu não gosto de padre/Eu não gosto de madre/Eu não gosto de frei/ Eu não gosto de bispo/Eu não gosto de Cristo/Eu não digo amém.”

Outros estilos foram explorados pela banda. Canções como Família, Bichos Escrotos, O quê e Cabeça Dinossauro sinalizam como seriam os próximos trabalhos do conjunto. Sérgio Britto revelou que a música que mais deu trabalho para ser gravada foi O quê. “A última a ser gravada foi ‘O quê’ e também a que deu mais trabalho. O arranjo mudou totalmente no estúdio, e o Liminha, aqui, teve participação decisiva: programou bateria eletrônica, sugeriu a linha de baixo, tocou guitarra e deixou a gente fazendo uma jam interminável durante dois dias até chegar o resultado final”, contou.

A gravação de Polícia também teve alguns detalhes revelados por Sérgio Britto. “Outro detalhe curioso é que gravei a voz de Polícia no primeiro take, enquanto Liminha conversava sobre pesca submarina com o Evandro Mesquita. Talvez isso tenha me ajudado a ficar mais puto ainda. Quando fomos ouvir o resultado, eu queria regravar a voz, a qualquer custo, porque tinha sido muito fácil. Todos acabaram me convencendo de que estava bom”, revelou.

Cabeça Dinossauro, obrigatória nos shows, também precisou da participação crucial de Liminha. “A percussão na faixa ‘Cabeça Dinossauro’ foi o Liminha que tocou. Depois de várias tentativas mais elaboradas, ele começou a improvisar, tocando nas paredes, no chão e nas colunas do estúdio, num espécie de transe”, disse.

Em 1997, a revista Bizz elegeu Cabeça Dinossauro o melhor álbum de pop-rock nacional. 

Texto publicado no Diário da Manhã

Nenhum comentário:

Postar um comentário