Há 30 anos, os Titãs lançavam
Cabeça Dinossauro. O disco revolucionou o rock nacional com letras fortes e estética
punk. “Com Cabeça Dinossauro os Titãs encontram uma maneira objetiva”, disse
Paulo Miklos. “Devo confessar que quando falamos em fazer um arranjo ou uma
canção à la Titãs, é no Cabeça Dinossauro que pensamos”, afirmou Sérgio Britto,
autor de Homem Primata, Aa Uu, Porrada e
Bichos Escritos. De fato, o Cabeça está presente na coleção de vinil de todo
fã de rock nacional que se prese. No primeiro acorde do disco se constata o
porquê o álbum entrou para a história da música nacional.
Em 1986, Cabeça Dinossauro trouxe
ao rock nacional temas polêmicos, de uma forma direta e simples. Os integrantes
procuram Liminha, que deu uma aula de rock ao grupo. À época, ele era
responsável pelos maiores sucessos da indústria fonográfica, além de ter sido
integrante de Os Mutantes, na década anterior. Liminha mostrou como um produtor
pode mudar a imagem de uma banda, sem fazê-la perder a identidade. Assim, a
pegada new wave, presente nos dois primeiros trabalhos do grupo, foi substituída
pela linguagem punk.
Em entrevista à Folha de São
Paulo, Sérgio Britto reconheceu o trabalho do produtor. “O Liminha foi o
responsável pela realização do nosso maior sonho: gravar com qualidade,
liberdade e em altíssimo astral”, disse. Durante as gravações do álbum, Arnaldo
Antunes e Tony Belloto foram presos por porte de heroína e compuseram Polícia. “Polícia para quem precisa/
Polícia para quem precisa de polícia”, canta Sérgio Britto. O conjunto também
criticou a igreja e o estado, em Igreja.
“Eu não gosto de padre/Eu não gosto de madre/Eu não gosto de frei/ Eu não gosto
de bispo/Eu não gosto de Cristo/Eu não digo amém.”
Outros estilos foram explorados
pela banda. Canções como Família, Bichos
Escrotos, O quê e Cabeça Dinossauro
sinalizam como seriam os próximos trabalhos do conjunto. Sérgio Britto revelou
que a música que mais deu trabalho para ser gravada foi O quê. “A última a ser gravada foi ‘O quê’ e também a que deu mais
trabalho. O arranjo mudou totalmente no estúdio, e o Liminha, aqui, teve
participação decisiva: programou bateria eletrônica, sugeriu a linha de baixo,
tocou guitarra e deixou a gente fazendo uma jam interminável durante dois dias
até chegar o resultado final”, contou.
A gravação de Polícia também teve alguns detalhes
revelados por Sérgio Britto. “Outro detalhe curioso é que gravei a voz de
Polícia no primeiro take, enquanto Liminha conversava sobre pesca submarina com
o Evandro Mesquita. Talvez isso tenha me ajudado a ficar mais puto ainda.
Quando fomos ouvir o resultado, eu queria regravar a voz, a qualquer custo,
porque tinha sido muito fácil. Todos acabaram me convencendo de que estava bom”,
revelou.
Cabeça Dinossauro, obrigatória nos shows, também precisou da
participação crucial de Liminha. “A percussão na faixa ‘Cabeça Dinossauro’ foi
o Liminha que tocou. Depois de várias tentativas mais elaboradas, ele começou a
improvisar, tocando nas paredes, no chão e nas colunas do estúdio, num espécie
de transe”, disse.
Em 1997, a revista Bizz elegeu
Cabeça Dinossauro o melhor álbum de pop-rock nacional.
Texto publicado no Diário da Manhã
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