domingo, 13 de março de 2016

Com diz o velho safado: “Estilo é o que o diferencia dos outros"

The spy. Doors, puta banda. Nos anos 60, os caras transformaram o rock. Morrison, Manzarek, Densmore e Krieger misturaram música com teatro e poesia. O resultado não podia ser diferente: uma banda do caralho. Eles fizeram a trilha sonora de toda uma geração, de toda uma juventude que praticamente fora obrigada a caminhar rumo à morte, no Vietnã. Era mais ou menos assim: ou iam pra guerra, ou estavam fodidos. Muitos optaram pela segunda opção. Daí, nasceu a contracultura. E depois veio a onda do ácido. E Woodstock. Loucura, piração, poesia, liberdade. Rock psicodélico. Doors, Cream, Jefferson Airplane, Buffalo Springfield, Janis Joplin e outros.

O jornalista Luiz Carlos Maciel, conhecido pela alcunha de “guru da contracultura”, em sua obra Os anos 60, listou a diferença entre a cultura vigente e a contracultura. Segundo Maciel, o status quo faz com que bebemos uísque, ao invés de absinto. Faz com que prefiramos cigarro a maconha. Faz com que sejamos ateus, e não místicos. Faz com que acatemos a ideia de Walter Benjamim, e não de Whillem Reich. Colocam-nos no tabuleiro sem dizer como se faz pra se mover ali. Siga as regras. Siga os medíocres. Seja uma ovelha. E o sucesso vai ser imediato. Poucos são os que têm algo pra dizer. Poucos são os que fogem do clichê, da frase feita, do lugar comum, do manjado.

Porra. Jim Morrison faz falta. Rimbaud faz falta. Henry Miller faz falta. Ginsberg faz falta. Keroauc faz falta. Raul Seixas faz falta. Os loucos fazem falta. Vivemos numa época onde ser careta é sinônimo de charme. Cadê o espírito rebelde dos jovens? Temos medo de uma boa foda, até. Outro dia, abri o site de O Globo e dei de cara com a seguinte chamada: “Sexo oral sem camisinha aumenta 22 vezes o risco de câncer na cabeça”. Curioso, cliquei na reportagem. O texto chamava os jovens à caretice. Puta merda.

Bicho, análise quantos, no ônibus, estão com o pescoço abaixado, concentrados em seus aparelhos celulares? Vários. Múltiplos. Todos me parecem abatidos, cansados, angustiados. Ninguém olha pra cara de ninguém. É tudo nas redes. O papo. O sexo. Os elogios. Poucos são os que chegam numa garota, e dizem: “Cê tá linda pra caralho”. É preferível ir ao Instragram e curtir uma foto dela. Break on Through (To the other side), como cantava Jim. Bem, hoje não são apenas as garotas que estão enclausuradas, os homens também estão. E temos medo de atravessar para o outro lado. Preferimos portar uma cédula de 100 conto a uma história bem vivida.

Além de ficarem com as melhores mulheres, eles querem fazer a cabeça da juventude. Execute, não pense, dizem a você. Se o fizer, várias coisas lhe serão prometidas, como as melhores mulheres, os melhores carros, uma carteira cheia de dinheiro. Dinheiro é uma merda. Os medíocres são uns merdas. Charles Bukowski disse que o estilo é a reposta pra tudo. No poema homônimo, ele fala que é preferível fazer algo tolo com estilo, do que algo perigoso sem estilo.

Com diz o velho safado: “Estilo é o que o diferencia dos outros.”

Texto publicado no Diário da Manhã

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