Tenho uma forte ligação com a contracultura. Descobri Satre
– pai do existencialismo – e passei a acreditar que “estamos condenados a ser
livres”. O francês iniciou sua carreira acadêmica nos anos 30, quando escrevera
a A imaginação – um ensaio que
transita entre Filosofia e Psicologia. “A imaginação é infinita”, afirma na
obra. Nesta época – década de 30 – Satre era considerado alienado por não dar a
mínima à política. Ele viva bêbado, quando estudante, junto de Simone de Beauvoir,
sua esposa. O casal jamais constituíra uma família aos moldes da classe média.
Satre viva a perambular de hotel em hotel, escrevendo ensaios, críticas,
romances, teses, peças de teatro. Nenhum intelectual produziu tanto quanto ele.
Disseram-me que não poderia experimentar drogas. “Quem usa
droga merece morrer”, falou, com veemência, meu avô. Eu apenas fitei-o. E
lembrei-me de uma frase de Timothy Leary – que foi psicólogo de John Lennon e
guru da contracultura: “As drogas enlouquecem quem não as usa”. Por que não
podemos usar drogas? Elas fazem mal? Mas o remédio que tomamos incessantemente,
também, não faz mal? Assim, neste contexto de repressão, fomos descobrir as
drogas. Com o tempo, passamos a ver que heroína não é legal, que cocaína pode
levá-lo para o fundo do poço, que acido lisérgico (LSD) nunca levou ninguém ao
hospital - a única coisa que pode acontecer se você encher a cara é pirar. E
maconha, tão execrada, não causa porra nenhuma. A única coisa que ela faz é
deixá-lo lesado, com o raciocínio lento.
A arte dos anos do amor fora influenciada pelo ácido
lisérgico. Os hippies usavam LSD e tinham devaneios surreais. A estética acadêmica
e tradicional não via com entusiasmo os beats e o fluxo de consciência deles,
com períodos longos e livres. Jack Kerouac escreveu On the road em apenas três semanas. A escrita da obra é repleta de
café e benzedrina. Allen Ginsberg – poeta e amigo de Keroauc – lidou com a
censura, quando lançou Uivo e Outros
Poemas, em 1956. A obra fora acusada de ser obscena. No Brasil, Glauber
Rocha, que em suas palavras tinha “apenas uma câmera e uma ideia na cabeça“,
filmou a sociedade brasileira e as amarguras dela. Glauber fazia parte da
tropicália, juntamente com artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Toquarto
Neto – este na poesia e aqueles na música.
O curioso é que no ácido fizeram-se grandes artistas. Mas a
percepção dos eruditos não era muito otimista. E ainda assim ouve Hendrix,
Doors, Joplin, Airplane e outros. Os Beatles, inclusive, chegaram a afirmar que
graças a Timothy Leavy, eles fizeram White
Album, em 1968. Raul Seixas cantara, em Sociedade Alternativa, o sonho de
sociedade da geração do amor. Uma sociedade sem regras, leis, em que tudo era
perfeito. “Viva a sociedade alternativa”, afirmava Raul na música.
Nesta época o movimento feminista crescia. Paralelo a ele,
nascia à liberdade sexual. Os hippies acreditavam que o sexo com dinheiro,
deixava a áurea libertadora de lado em prol do capital. Mas hoje nos habituamos
a conformarmo-nos com quaisquer tipos de descriminalização, seja racial,
intelectual, cultural; sempre procuramos acreditar que os nossos modos são
errôneos. Deparamo-nos com preconceitos clichês. E assim fechamos os olhos.
Procuramos não ver o que há na sociedade. Não fumamos maconha porque a somos
discriminados. Creio incessantemente na liberdade. Somente ela livra-nos das
amarras e amarguras. Não quer usar drogas, não as use. Eu até acho melhor,
sabe. Quer biritar? À vontade. Você sabe o que faz, afinal é condenado a ser
livre. Drogas todos usam. Contudo, algumas inventaram que são ilícitas. E
outras lícitas.
A sociedade precisa da dialética e da dicotomia dos fatos.
Não podemos, jamais, ter opiniões pré-fabricadas. Temos de analisar e refletir.
Normam Mailer – um dos percussores do new journalism dos anos 60 – lançou, em
1965, Um sonho americano, obra que
relata o modo de vida estadunidense. Mailer dera vida a Stephen Rojack, um
herói de guerra, intelectual que tem o próprio programa de televisão. Além
disso, ele era casado com uma bela mulher. No entanto, durante uma discussão,
Rojack mata-a. E por longas páginas entramos na cabeça do protagonista. “O
leitor não se entediará com Um sonho
americano se tiver a paciência e senso-crítico suficientes para buscar na
literatura um complemento e uma elucidação do fermento confuso de nossa era”,
escreveu Paulo Francis, no prefácio da obra.
Os hippies, sim, eram sábios. Eles não queriam viver uma
vida programada, com sucesso e reconhecimento profissional. Então decidiram
morar em comunidades, sempre com o principio da liberdade norteando-os. Como eu
queria chutar o balde. A vida é uma merda. As expectativas são uma merda. O
cara que se sentou ao meu lado, com seu cigarro entre os dedos, é um merda.
Todos somos uns merdas, porque vivemos uma vida que não é nossa. Nutrimos
sonhos distantes. Angariamos bens materiais. Dispensamos um papo cultural.
Queremos, simplesmente, a futilidade. E, se em grandes quantidades, melhor
ainda. Dinheiro é uma merda.
Originalmente publicado no Diário da Manhã em algum dia de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário