Autor
do romance que dá título a esta crônica, Raduan Nasser botou para quebrar na
cerimônia de entrega do Prêmio Camões. Uma vez antigolpista, sempre
antigolpista, ora pois.
Que
falta fazes entre nós, professor Darcy Ribeiro, a essa altura cujas vozes não
falam nada mais do que frases odiosas e, majoritariamente, fascistas. Apesar de
você, amanhã há de ser, outro dia... só nos resta mesmo sambar ao som de
Chico Buarque.
É
professor Darcy, fazem vinte anos que partiste dessa aldeia mestiça. Está
complicado, mestre. Outro dia, no ano passado, só para teres uma ideia, criaram
uma Medida Provisória que reformula o ensino médio sem ouvir tua classe, os
professores, e quem se senta nos bancos escolares, os alunos.
Assim,
professor, aos trancos e barrancos, o vice que assumiu o Planalto após gambiarra
do judiciário segue o arbitrário roteiro reformista sob a fanfarra gozadora da
Casa Grande. Para se ter uma ideia, quem dita os rumos da educação é um tal de
Mendonça Filho, filiado ao DEM, e que não sabe nada de educação.
Chega.
Tu não mereces, Darcy, tantas más notícias neste teu dia. Alias, teu dia fora
na última sexta-feira. Engano deste cronista zoado de costumes. Perdão...
Vinte
anos, nobríssimo Darcy, que falta fazes tua teoria atrelada à prática, com tua
ventania verbal que se glorificava de ter fracassado em tudo o que tentou, e
que dizia que não desejaria estar na pele dos que te venceram.
Desce,
vai, quebra essa, e chama o também Brizola. Aqui está difícil, mas ainda tem
gente que admite que foi golpe.
Bem, me recordo do teu mantra, mestre: “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou
se indignar. E eu não vou me resignar nunca”.
Agora
diz para mim, como tem sido o incrível Raduan Nasser? Não foi somente no palco
da glória literária. Mandou na lata, e deixou a crônica política caladinha.
Infelizmente, o Movimento Brasil Livre, aquele cujo presidente é um piá que não
sabe formular uma frase num debate, disse que Raduan criticou os golpistas, porém recebeu 100 mil deles. O debate por aqui parece um Fla x Flu.
Que
falta, seu Darcy, nestes 20 anos. Que falta nesses tempos em Mendoncinha cuida
da educação e, lastimavelmente, chama Alexandre Frota para discuti-la, um
verdadeiro sábio quando permanece com a boca calada.
“O
Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca
na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de
descaso”.
Na
quarta-feira, seu Darcy, mandei mais ou menos essa tua lavra, e me afoguei num litrão de Antarctica. Não está nada fácil, mas deixa para lá.
Que falta fazes,
Darcy.
Poderia
ficar discorrendo sobre tuas frases. Ah, me lembro de um gracejo teu. Dizias
que o ideal é amar três mulheres ao mesmo tempo. E que elas, em contrapartida,
também amassem um trio, ora pois.
Nestes
tempos estranhos, a saudade só aumenta professor Darcy. Tim-tim, com direito a
Raduan na hora certa. Lindo.
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