domingo, 19 de fevereiro de 2017

Um copo de cólera

Autor do romance que dá título a esta crônica, Raduan Nasser botou para quebrar na cerimônia de entrega do Prêmio Camões. Uma vez antigolpista, sempre antigolpista, ora pois.

Que falta fazes entre nós, professor Darcy Ribeiro, a essa altura cujas vozes não falam nada mais do que frases odiosas e, majoritariamente, fascistas. Apesar de você, amanhã há de ser, outro dia... só nos resta mesmo sambar ao som de Chico Buarque.

É professor Darcy, fazem vinte anos que partiste dessa aldeia mestiça. Está complicado, mestre. Outro dia, no ano passado, só para teres uma ideia, criaram uma Medida Provisória que reformula o ensino médio sem ouvir tua classe, os professores, e quem se senta nos bancos escolares, os alunos.

Assim, professor, aos trancos e barrancos, o vice que assumiu o Planalto após gambiarra do judiciário segue o arbitrário roteiro reformista sob a fanfarra gozadora da Casa Grande. Para se ter uma ideia, quem dita os rumos da educação é um tal de Mendonça Filho, filiado ao DEM, e que não sabe nada de educação.

Chega. Tu não mereces, Darcy, tantas más notícias neste teu dia. Alias, teu dia fora na última sexta-feira. Engano deste cronista zoado de costumes. Perdão...

Vinte anos, nobríssimo Darcy, que falta fazes tua teoria atrelada à prática, com tua ventania verbal que se glorificava de ter fracassado em tudo o que tentou, e que dizia que não desejaria estar na pele dos que te venceram.

Desce, vai, quebra essa, e chama o também Brizola. Aqui está difícil, mas ainda tem gente que admite que foi golpe.

Bem, me recordo do teu mantra, mestre: “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”.

Agora diz para mim, como tem sido o incrível Raduan Nasser? Não foi somente no palco da glória literária. Mandou na lata, e deixou a crônica política caladinha. 

Infelizmente, o Movimento Brasil Livre, aquele cujo presidente é um piá que não sabe formular uma frase num debate, disse que Raduan criticou os golpistas, porém recebeu 100 mil deles. O debate por aqui parece um Fla x Flu.

Que falta, seu Darcy, nestes 20 anos. Que falta nesses tempos em Mendoncinha cuida da educação e, lastimavelmente, chama Alexandre Frota para discuti-la, um verdadeiro sábio quando permanece com a boca calada.

“O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso”.

Na quarta-feira, seu Darcy, mandei mais ou menos essa tua lavra, e me afoguei num litrão de Antarctica. Não está nada fácil, mas deixa para lá. 

Que falta fazes, Darcy.

Poderia ficar discorrendo sobre tuas frases. Ah, me lembro de um gracejo teu. Dizias que o ideal é amar três mulheres ao mesmo tempo. E que elas, em contrapartida, também amassem um trio, ora pois.

Nestes tempos estranhos, a saudade só aumenta professor Darcy. Tim-tim, com direito a Raduan na hora certa. Lindo.

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