quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Juiz bem que tanta, mas não consegue

Expulsão de Gabriel esquentou o clima, no dérbi
Clássico é clássico. É o dia em que a gente pode e deve fazer tudo. A cerveja e o torresmo são obrigatórios, pois quem consegue aguentar a tensão de um dérbi, sem uma Bavária e comida de boteco nas mãos? Sim, todo ritual é pouco. E não me pergunte por que. Nem sempre há respostas para tudo...

Para a partida, a Arena Corinthians foi colorida com os sinalizadores da Gaviões da Fiel. Antes de começar o confronto, os torcedores protestaram contra a modernização do futebol. Trinta e um mil pessoas gritaram o tempo todo, cobrando o time em campo e, principalmente, amedrontando o rival.

O alviverde, realmente, é uma equipe melhor que a nossa. Jogam um futebol veloz, que busca o gol, além de terem várias estrelas. Modestamente, estamos ainda construindo um time e nos preocupamos em não levar gol para conseguir anotá-lo na sequência. A luta, o sofrimento, a superação fazem parte do dia-a-dia dos corintianos. 

Assim quebramos um jejum de 23 anos, em 1977, e ganhamos uma Libertadores, 2012.

Cem anos depois de se encontrarem pela primeira vez, alvinegros e alviverdes fizeram o 357º dérbi da história. Em casa, o Timão apostou na mitologia que construiu para driblar as adversidades, ultrapassando falha grotesca da arbitragem e, psicologicamente, não deixando-se abalar.

Mas nem tudo pode ser perfeito. E, convenhamos, se o futebol é a representação da vida não há perfeição alguma no esporte bretão. Impulsionado por sentimentos devastadores, o arbitro do jogo, Thiago Duarte Peixoto tirou o segundo cartão amarelo e mostrou para o volante corintiano, Gabriel. Até aí, tudo bem.

O camisa, todavia, 5 sequer participou do lance. Maycon puxou a camisa de Kenon, e o assoprador de apito mandou Gabriel para o chuveiro, mas o jogador ficou alguns minutos em campo, chutando garrafas de água à beira do gramado e recusando-se a sair dali.

Imagens da Globo mostram o juiz conversando com os auxiliares logo após sacar o cartão vermelho. “Não é o Gabriel”, assinala Thiago. Nas arquibancadas, as palavras eram uníssonas: “Juiz filha da puta”. A cretinice aconteceu aos 45 minutos do primeiro tempo, e afetou a equipe alvinegra, que ficou com um a menos.  

Estava difícil sair um gol. Lembro-me dos clássicos que vi, entre Corinthians e Palmeiras. Mas havia ali, na Arena, um espetáculo à parte, chamado Gaviões da Fiel. A torcida não quis nem saber e soltou um sinalizador, transformando a áurea do confronto e indo em desencontro com a liminar concedida por Alexandre de Moraes, que impôs torcida única nos clássicos paulistanos.

Verdadeira festa. Uma festa regada a indignações, sofrimentos e muitos, muitos xingamentos. Ser corintiano, para parafrasear Rita Lee, é gostar de sofrer, e continuar adorando o Timão. Porque o Corinthians é paixão avassaladora, e você não tem muita escolha a não aderir ao bando de incandescidos que torcem e entoam cânticos nas ruas, no estádio e na mesa do bar.

O jogo tinha tudo para findar com aquele zero chato no placar e, caso ele continuasse, os torcedores deveriam ser reembolsados de seus ingressos. Nada é mais injusto e irresponsável do que pagar e assistir um jogo truncado, sem grandes emoções. 

Futebol é a bola na rede. É o que a Gaviões quer ver. É o que eu quero ver.

Sem alternativas, Carille pôs Jô em campo e o atacante decidiu a partida aos 42 do segundo tempo, após falha do Palmeiras. Nas arquibancadas, os torcedores gritavam “vamo, vamo Corinthians, esse jogo, teremos que ganhar”. 

Era de arrepiar. A vitória estava encaminhada. O Timão precisava apenas controlar o ímpeto ofensivo do Palmeiras. Até agora estava tudo certíssimo... mesmo com a ajuda do senhor Thiago ao Crefisa F.C.

Falem o que quiser: a vitória no dérbi foi a coisa mais justa do mundo.


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