Grupo misturou elementos da música popular brasileira com rock. Na
década de 1970, lançaram Acabou Chorare, um dos melhores álbuns da MPB
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Novos Baianos no sítio, em Jacarepaguá. |
Pepeu Gomes, Morais Moreira, Baby
Consuelo, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor foram os responsáveis por uma
união que revolucionou a música brasileira. Se os tropicalistas estavam em
exílio, coube a eles o papel de unir rock e suingue brasileiro. Ao converter em
música o discurso de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, o grupo conseguiu
fazer o país cantar samba com guitarra elétrica.
No final dos anos 70, sambista
não se relacionava com roqueiro. Quem gostava de Black Sabbath e Led Zeppelin
tinha de afirmar que Chico Buarque era careta. E, por sua vez, a galera do
pandeiro e tamborim acham os cabeludos todos alienados e doidos. Mas havia os
visionários, que já imaginavam a fusão de elementos roqueiros com a pureza
harmônica da MPB. Com seu pirado e genial LP Acabou Chorare,
os Novos Baianos conseguiram, pela primeira, vez um casamento entre música
brasileira e rock.
A forma era pura e simples: um
regional acompanhado de guitarra elétrica e bateria. Com essa formação, os
Novos Baianos tinham feito algum estrago, em Salvador e Rio de Janeiro. Suas apresentações, eram uma novidade ao paladar sonoro dos hippies. Foi quando conheceram João Gilberto. Nesta época, o grupo, que contava com dez pessoas,
dividia um apartamento em Botafogo. O problema do espaço era resolvido com
tendas e barracas, que eram armadas no apartamento. João Gilberto chegava por
lá no final da madrugada. Ao entrar, estendia uma cédula de 50 cruzeiros,
comprava café da manhã para todo mundo e, então, ficavam em intermináveis
sessões de jam session.
Os Novos Baianos foram absorvendo o valor e o
prazer do suingue brasileiro. Mais de 30 anos depois, o épico Acabou Chorare permanece como um dos
melhores discos brasileiros de todos os tempos. Em 2007, a revista Rolling Stone classificou-o como o
melhor álbum da música brasileira. Listas à parte, Acabou Chorare é maluco e transgressor. A faixa mais emblemática, “Brasil Pandeiro”,
é um samba-canção de Assis Valente, um dos compositores favoritos de Carmem
Miranda, que se matara em 1958, após ingerir veneno.
O disco inteiro, contudo, expira
inovações e irreverência. O rock misturou-se ao choro, ao samba e ao frevo numa
salada que revolucionou a música brasileira e abriu caminho para outras fusões
de gêneros. No disco seguinte, em Novos
Bainos F.C, eles trilharam o mesmo caminho, embora menos festejado pela
crítica. O grupo desmantelou-se em 1978. Todos os integrantes, em carreira
solo, continuaram a produzir trabalhos brilhantes.
Showbiz
Com seus cabelos à lá hippie, eles assustavam as pessoas nas
ruas. O Brasil vivia sob a batuta de uma ditadura. Os Rolling Stones foram
impedidos de tocar aqui. E a experiência contracultural deles era demais para
os padrões da conservadora sociedade brasileira. Baby Consuelo andava com um
retrovisor de Fusca pregado à testa. Tudo o que ganhavam nos shows, ficava numa
caixa atrás da cozinha. Eles tinham, ali, a quantia que julgavam necessária
para viver.
O cantor Orlando Silva, que durante um tempo foi vizinho do
grupo, no Hotel Paramount, em São Paulo, costumava recolher-se em seu quarto
quando os via na porta. Quem acreditou neles, foi o diretor da gravadora Som
Livre, João Araújo – posteriormente conhecido como o pai do cantor e compositor
Cazuza. Ele bancara os custos da gravação de Acabou Chorare e impulsionara a
carreira do grupo.
Livro
Aproveitando uma série de shows que volta a reunir os Novos
Baianos, o compositor e letrista, Luiz Galvão, lançou um livro para quem deseja
saber mais sobre a pirada história do grupo. A obra chama-se Anos 70: Novos e
Baianos. Vários episódios, inclusive, tem como personagem João Gilberto.
Galvão conta que, certa madrugada, João o convidou para andar
de carro pelo Rio de Janeiro. O carro foi movendo-se, e Galvão levou um susto
quando João avançou no sinal vermelho. Mal dera tempo de recuperar-se, e João
cruzou outro sinal sem olhar para os lados. No quarto sinal, parou. Um carro
passara sem fôlego ao lado deles. Então, Galvão disse-lhe: “Como você sabia que
vinha um carro?” João respondeu, com a sabedoria musical de velhos e novos
baianos: “Pelo som. Estou dirigindo de ouvido”.
Apesar de ser uma biografia, os acontecimentos são contados sob a visão de Galvão. Ele insere-se no centro dos fatos, como um narrador-personagem. O poeta, dentre os causos narrados, afirmou que o futebol era coisa séria entre o grupo. No intervalo, eles reuniam-se para uma 'paulista' - aquela passada de mão em mão dando só um pega.
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