terça-feira, 5 de abril de 2016

Ode ao amor

O golpe pode até dar certo. Há muita grana da FIESP e a narrativa da grande mídia, com seu lead condenador. Mas nada é tão bom como ver Luís Fernando Veríssimo escrever suas crônicas dominicais no Estadão e O Globo e Juca Kfouri abordar o contexto político utilizando o futebol como metáfora na Folha. A gente pensa que já viveu tudo, que já viu tudo, que já leu tudo, que já escreveu tudo. Ledo engano, caro leitor.

Que bom. Estamos vivos. Estamos com desejo. Estamos com vontade de aprender a entender o desvairado cenário político que assola-nos. Pelo menos assim tinha de ser. Letícia Sabatella, em encontro com a presidenta Dilma Rousseff, na última sexta-feira, disse que não compactua com os ideais do governo petista, e nem por isso apoia o golpismo. “Sou oposição ao seu governo, presidenta Dilma”, afirmou a atriz. Que maravilhosa! Letícia, além de encantar-nos com seus personagens e beleza, ainda interpreta com sensatez o momento político.

Gente raivosa e odiosa comenta as notícias na internet e destila as mais manjadas interpretações dos fatos. Soa-nos estranho ver sensatez e sensibilidade. Kfouri fez isto, na Folha, no último domingo. “Se você acha que vale arriscar só para ver o rival derrotado, lamento dizer que não estamos no mesmo time", escreveu. Com o estilo e delicadeza que lhes são característicos, Kfouri chamou a atenção ao Fla x Flu que toma conta da cena política. Discursos conhecidíssimos. Gritos ensandecidos e histéricos. A velha e conhecida verborragia petista e tucana, confrontam-se diante do preocupante revés político. Quem é a vilã e o mocinho?

Eduardo Cunha, o guru da moral e dos bons costumes, verdadeiro símbolo da ética parlamentar, acelerou o impeachment para escapar de processo que tramita no STF. Ele é acusado de desviar dinheiro para a Suíça, e levá-lo. Este sujeito, cujos ideias são a chantagem e a barganha, vai julgar a presidenta. Dá para acreditar? Além dele, Aécio Neves – que construíra aeroporto em Minas Gerais com dinheiro público – e Ronaldo Caiado – símbolo da Casa Grande - são ferrenhos apoiadores do impeachment. Caiado, dispensa comentários. E Aécio achega-se em Michael Temer com o propósito de arrumar um cargo no possível governo dele.

AMOR

Cada vez menos a gente o vê. Ninguém o prega. Quando mais chulo e raivoso, melhor. Todos falam as mesmas coisas, nos mesmos lugares. Nos pontos de ônibus. Nas universidades. Nos bares. Eles estão aí, ao seu lado, e não tem compaixão alguma. Não entendem de arte. Não sabem que a mulher tem cerca de 8 mil terminações nervosas no clitóris. Não sabem satisfazê-la, nem adorá-la. “Essa Dilma é uma vaca, e tem que sair”, bradam, em plenos pulmões, das sacadas de seus milionários apartamentos. E, no bar, condenam o machismo. Paradoxal, né?

A beleza emociona-me. Sinto-me revigorado ao contemplar um Dali. Ou a assistir um Traffaut. Ah, já que toquei no cara que nascera para filmar o amor, Uma mulher para dois (Jules et Jim, em francês) é um dos filmes mais sensacionais da sétima arte. Verdadeiro ode à fraternidade, à benevolência e ao afeto – tão em falta nestes tempos de repulsa, raiva e ódio. Uma mulher para dois é o que falta para esta galera que saí por aí saudando o militarismo e empunhando teorias fascistas.

Se o lead da grande imprensa mata-nos, o amor liberta-nos. Reich – discípulo de Freud – afirmou que uma boa gozada é libertador e revolucionário. A gente expressa um contentamento ou reivindica algo, ao gozar. Eu queria que gozássemos mais. Que deixássemos a futilidade de lado. E olhássemos para dentro de nós. Avaliássemos nossa existência. Vamos abraçar o mundo, e vamos abraçá-lo agora, como cantou Jim Morrison.

Vivamos o amor. 

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