O golpe pode até dar certo. Há
muita grana da FIESP e a narrativa da grande mídia, com seu lead
condenador. Mas nada é tão bom como ver Luís Fernando Veríssimo escrever suas
crônicas dominicais no Estadão e O Globo e Juca Kfouri abordar o contexto
político utilizando o futebol como metáfora na Folha. A gente pensa que já
viveu tudo, que já viu tudo, que já leu tudo, que já escreveu tudo. Ledo
engano, caro leitor.
Que bom. Estamos vivos. Estamos
com desejo. Estamos com vontade de aprender a entender o desvairado cenário
político que assola-nos. Pelo menos assim tinha de ser. Letícia Sabatella, em encontro com a presidenta Dilma
Rousseff, na última sexta-feira, disse que não compactua com os ideais do
governo petista, e nem por isso apoia o golpismo. “Sou oposição ao seu governo,
presidenta Dilma”, afirmou a atriz. Que maravilhosa! Letícia, além de
encantar-nos com seus personagens e beleza, ainda interpreta com sensatez o
momento político.
Gente raivosa e odiosa comenta as
notícias na internet e destila as mais manjadas interpretações dos fatos. Soa-nos estranho ver sensatez e sensibilidade. Kfouri fez isto, na Folha, no último domingo. “Se você acha que vale
arriscar só para ver o rival derrotado, lamento dizer que não estamos no mesmo
time", escreveu. Com o estilo e delicadeza que
lhes são característicos, Kfouri chamou a atenção ao Fla x Flu que toma conta
da cena política. Discursos conhecidíssimos. Gritos ensandecidos e histéricos.
A velha e conhecida verborragia petista e tucana, confrontam-se diante do
preocupante revés político. Quem é a vilã e o mocinho?
Eduardo Cunha, o guru da moral e
dos bons costumes, verdadeiro símbolo da ética parlamentar, acelerou o impeachment para escapar de processo que tramita no STF. Ele é acusado de
desviar dinheiro para a Suíça, e levá-lo. Este sujeito, cujos ideias são a
chantagem e a barganha, vai julgar a presidenta. Dá para acreditar? Além dele,
Aécio Neves – que construíra aeroporto em Minas Gerais com dinheiro público – e
Ronaldo Caiado – símbolo da Casa Grande - são ferrenhos apoiadores do
impeachment. Caiado, dispensa comentários. E Aécio achega-se em Michael Temer
com o propósito de arrumar um cargo no possível governo dele.
AMOR
Cada vez menos a gente o vê.
Ninguém o prega. Quando mais chulo e raivoso, melhor. Todos falam as mesmas
coisas, nos mesmos lugares. Nos pontos de ônibus. Nas universidades. Nos bares.
Eles estão aí, ao seu lado, e não tem compaixão alguma. Não entendem de arte.
Não sabem que a mulher tem cerca de 8 mil terminações nervosas no clitóris. Não
sabem satisfazê-la, nem adorá-la. “Essa Dilma é uma vaca, e tem que sair”,
bradam, em plenos pulmões, das sacadas de seus milionários apartamentos. E, no
bar, condenam o machismo. Paradoxal, né?
A beleza emociona-me. Sinto-me
revigorado ao contemplar um Dali. Ou a assistir um Traffaut. Ah, já que toquei
no cara que nascera para filmar o amor, Uma
mulher para dois (Jules et Jim, em francês) é um dos filmes mais
sensacionais da sétima arte. Verdadeiro ode à fraternidade, à benevolência e ao
afeto – tão em falta nestes tempos de repulsa, raiva e ódio. Uma mulher para dois é o que falta para
esta galera que saí por aí saudando o militarismo e empunhando teorias
fascistas.
Se o lead da grande imprensa
mata-nos, o amor liberta-nos. Reich – discípulo de Freud – afirmou que uma boa
gozada é libertador e revolucionário. A gente expressa um contentamento ou
reivindica algo, ao gozar. Eu queria que gozássemos mais. Que deixássemos a futilidade de lado. E olhássemos para dentro de nós. Avaliássemos nossa existência. Vamos abraçar o mundo, e vamos abraçá-lo agora, como cantou Jim
Morrison.
Vivamos o amor.
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