sexta-feira, 15 de abril de 2016

Queremos o mundo, e o queremos agora

Resgatemos os mitos
Cultuemos os deuses
Adoremos os símbolos
O poeta trágico fecha seu livro
E dobra a esquina.

Fardados sádicos
Inventam discursos
Para justificar a barbárie.
Jovens vestem-nas
E vão para o campo de batalha
Sem ideias, mas querendo
Que sejamos presos ao futuro

Ao entrarmos dentro deste teatro insano
Propagamos a sabedoria das ruas, dos loucos, dos desvairados
A porta se abriu
Tudo é infinito
A música nos inflama e nos liberta

Onde está a catarse?
Ela nos foi prometida
Onde está o vinho, a embriaguez, a dança, o teatro, a poesia?
Cadê a revolta?
Dê-nos uma noite de luxuria e prazer

Manzarek toca seu teclado
Blake procura a sabedoria
Ginsberg se perde no emaranhado nietzschiano
Rimbaud fora à África porque não havia nada pra ele aqui
Jim Morrison cantou o fim

Homens e mulheres
Estão de mãos dadas
A vida chama
O sexo chama
O xamã aconselha
A gente quer o mundo
E o quer agora

Costumávamos acreditar nos bons e velhos tempos
Na porta que se abriu, na música do Doors, na poesia de Blake
Costumávamos acreditar no paraíso de bucetas e caralhos
Que libertam e revigoram o mundo
A liberdade existe apenas nos livros de História
Os loucos correm de nossas prisões
Você sabia que somos controlados pela TV?

Poderíamos inventar nossos próprios reinos
Nossos deuses
Nossos mitos
Nossos símbolos
Ao invés de querermos
Decorar as revistas com fotografias frívolas

Donzelas choram suas dúvidas em frente ao televisor
Ah, estou farto de dúvidas e questionamentos
(Estou farto de rostos melancólicos e monótonos
Olhando para mim do televisor)
Eu quero o mundo
E o quero agora

A morte vem sem avisar
Ela simplesmente bate à porta
Mas não como uma garota que levou-lhe à cama
Quando estava embriagado de divagações e contestações poéticas, existenciais e filosóficas
A morte faz-nos de anjos e dá-nos asas onde tínhamos apenas garras
Não há dinheiro, não há vestidos caros, não há bailes cheios de gente empunhando taças de champanhe

“O filme vai começar em cinco segundos”, anunciou a voz
Esperamos a luz apagar, e ouvimos:
“Todos irão aguardar o próximo espetáculo”, disse o ator
Mas não há próximo espetáculo

É o fim, amigo
É o fim, garota
É o fim da catarse, do dionisíaco, do apolíneo
É o fim

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