quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sinônimo de vida pública

Iris Rezende vestia camisa Lacoste listrada e usava calça jeans de brim escuro. Calçava sapatos sociais pretos e lustrosos. Em seus pulsos havia um relógio prateado. Ele falou para nós o seguirem. Imediatamente, Iris perguntou qual sala era melhor. Respondemos que seria a última. “Ela é melhor mesmo. Aqui ficamos escondidos” - disse entre sorrisos e ligeireza.

Iris contara sobre o começo da vida política, quando ainda era presidente do Grêmio Estudantil no Colégio Liceu. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG), na década de 1950. Segundo ele, o curso de Direito é o único que pode auxiliar um político. Paralelo ao Liceu, Iris concursava Contabilidade na Escola Técnica de Comércio de Campinas. Foi presidente dos dois grêmios. Decidiu, neste período, que a trilharia o caminho da política.

Nailton de Oliveira, ex-prefeito de Bom Jardim de Goiás, afirmou que Iris Rezende é “patrimônio vivo e histórico” de Goiás. “Sempre terá eleitor que o respeitará” – reconheceu -  "o adversário sabe de sua força”.

Por conta do sotaque interiorano, tinha vergonha do modo como falava. Aprimorou a retórica e a oratória durante a faculdade. Candidatou-se ao grêmio, no Liceu, sem nem saber o que fazia o presidente da agremiação. Participou do movimento estudantil dos estudantes secundaristas. Viajou a Fortaleza e Rio de Janeiro, com aviões da FAB. “Viajávamos com aviões da FAB. Aqueles que andavam pelo céu” - detalhou.

Em 1958, elegeu-se vereador de Goiânia, pelo PTB. “Na época a Igreja Católica era detentora da maioria dos fiéis. Eu fui o primeiro evangélico a destacar-se na política. Nunca neguei a minha condição de evangélico.” - contou.

Neste instante, seu telefone tocara:

- estou dando uma entrevista para uma comissão de estudantes de Jornalismo. Mas o senhor pode vir aqui, não tem problema - disse Iris ao Dr. Walter, que em poucos minutos chegara ao escritório, onde fazíamos a entrevista.

- vou a Brasília. Venho aqui, amanhã cedo, para tomarmos um café - falou Dr. Walter.

- tudo bem - respondeu Iris.

“Em 1962, elegi-me deputado estadual. Fui o mais votado da História, até então. Quando eleito, apoiei o governador Mauro Borges” - disse. Iris era deputado quando os militares deram o golpe. Ele dissera que Mauro Borges e Leonel Brizola – então governador do Rio Grande do Sul – levantaram a “bandeira” ao João Goulart (Jango) e queriam que ele assumisse a presidência.

Jango assumira a presidência, e o sistema parlamentarista fora instituído no Brasil, com Tancredo Neves como Primeiro Ministro. Porém, o regime perdurou pouco. Jango retornara a ter plenos poderes, após plebiscito. Segundo especialistas, o erro dele deu-se no Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Lá, afirmara que iria acelerar as Reformas de Base (urbana, agrária e educacional). A elite, obviamente, se preocupou e saiu às ruas, pedindo intervenção militar. Na Praça da Sé, em São Paulo, milhares de pessoas protestaram, no episódio que ficara conhecido como “Marcha com Deus pela Família”.

Ele afirmou que toda ditadura é trágica. “Seja de direita ou de esquerda” – ressaltou - “o ideal mesmo é a democracia”. No decorrer da conversa demonstrou-se inconformado com a falta de politização do jovem. “O jovem tem de se interessar por política. Através dela é que se muda. Seja como candidato ou simplesmente na militância, eu aconselho os jovens a participarem da política” - assegurou.

“Esse pouco interesse por política” - continuou - “é herança da ditadura. Ditaduras, geralmente são elitistas, e a militar nem se fala”- completou. Para Iris várias gerações foram prejudicadas por conta do autoritarismo que vigorou no Brasil de 1964 a 1985. Os reflexos, de acordo com o ex-governador, se estendem até os dias de hoje. “Quando eu estudava no ensino secundário, nós éramos todos juntos. Sabíamos das falhas um do outro. Aí vem a ditadura e muda tudo. Ninguém tinha contato com ninguém” - frisou.

Iris elegeu-se prefeito pela primeira vez, em 1966, pelo MDB - partido de oposição ao regime militar. Neste governo, idealizou o mutirão de limpezas que trouxe da “roça”. Asfaltou os principais bairros de Goiânia, como os setores Oeste, Sul, Aeroporto e Bairro Popular. Criou o parque Multirama, cujos brinquedos vieram da Alemanha e dos EUA. Realizou festas de inaugurações, como a da Avenida Anhanguera, em Campinas. “Foram gestos bem pensados de construção da imagem de homem público” – disse Cileide  Alves, em dissertação de mestrado.

Em 1969, teve seus direitos políticos cassados por 10 anos. Ele acha que sua aceitação pela população incomodou os militares. Ele já estava em campanha nas ruas, com cartazes e santinhos. “Iris eleito, povo satisfeito” e “Bom para 70” – eram os jargões que circulavam pela cidade.

A primeira manifestação das Diretas Já fora em Goiânia. Iris falara em discurso, que se eleito, iria fazer uma mobilização. Cerca de 500 mil pessoas participaram do ato, na primeira vez. Na segunda oportunidade, o número de pessoas subiu para 700 mil, segundo a PM.

Ulisses Guimarães, expoente do MDB à época, ligou-o e parabenizou-o pela iniciativa. “Não é justo que tantos Senadores e Deputados se desloquem para prestigiar o movimento. Digam – referindo-se aos líderes – o nome e o Estado que são” – discursou num dos primeiros comícios pelas Diretas Já, realizado em 1984, na Praça Cívica. 

Nas eleições de 1998, Marconi abriu processo contra Iris no Ministério Público. “Durante seis anos o Ministério Público desgraçou a minha vida” - revelou. Nada foi provado contra ele. Mas Marconi seguia agredindo-o, e Iris recorria à sessão de carta dos leitores de O Popular para se defender. “Liguei para o governador (Marconi) e lhe disse: o que provaram contra mim? Nada!” - relatou.

"Só a Dona Iris sabe" - disseram membros que PMDB goiano, que estavam no escritório de Iris. Será que ele se aventurará a mais uma eleição? 

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