Começo esse texto sem saber como irei termina-lo. Dizem que
arquitetamos o nosso pensamento – sobretudo quando escrevemos. Mas vou fugir à regra.
Gosto de pensar, divagar no emaranhado de minha mente. Penso e amo – porque o
amor é à base da vida. Às vezes coloco um disco para tocar. Geralmente
perambulo no rock psicodélico – pois considero-me um solitário da geração do amor. Adoro
ouvir o teclado de Manzarek. A poesia de Morrison. Para mim, The Doors é
inigualável. Gosto de apreciá-lo.
Vou ao meu maço de Marlboro e ponho um na boca. Acendo-o e
fumo. Olho para as paredes que me cercam. Elas não me dizem muitas coisas.
Porém, finjo prestar atenção em algo que não sei bem ao certo o que é. Preciso – como a humanidade – da ignorância. O
saber incomoda. Quem quer pôr seus valores em cheque? Ninguém. As pessoas pedem nas
ruas, nos bares, no trabalho, na vida, por sossego. Mas elas não querem uma
tranquilidade convencional. Elas estão cercadas pelo medo. Não amam. “Eu te
adoro”, quase nunca falam. E tem medo. Não conseguem chutar o balde e dizer: “Hoje
vou encher a cara até amanhecer o dia”. Se fizerem isso, ficarão,
provavelmente, desempregadas. E aí, como irão pagar as contas, no final do mês?
E o carro, que os faz transar com mulheres peitudas, bundudas e gostosas quem o financiará?
The Doors – o álbum – acabou. Vou ao acervo do youtube e
procuro um som para finalizar este texto. Acho que ele está bom. Há tempos não
conseguia escrever uma ideia original. Eu lia os caras fodas, e queria
reproduzi-los. Escrevi linhas e linhas, sem nenhum verbo, sequer, ser de minha
autoria. Porém, como disse Morrison, a copia salvou-me. Agora, livre da repetição, penso numa garota que está presente, há algum tempo, em minha vida. Seus
cabelos loiros levam-me para o paraíso. Queria falar sílabas de conforto em seu
ouvido, mas tudo o que me vem à cabeça são alucinações de um rapaz que cursa jornalismo,
e é um pé rapado.
O telefone toca. “Caralho, não vou conseguir terminar isso
aqui”, cogitei, por um momento. Deixei-o tocar. Recorrei à geladeira. Havia uma
cerveja. Abri, e ouvi o estralo da latinha. Provavelmente, os vizinhos também o
ouviram. “Foda-se”, pensei. Hoje beberei, sem compromisso, nem amargura. Quero
beber para celebrar o amor e a vitória e a arte, tão esquecida. Grace Slick
parou de cantar. Reproduzia a apresentação do Jefferson Airplane, no festival
de Woodstock, em 1969, em meu computador. “Somebody to love”, cantara Slick, em
minhas caixas de som. Novamente, o telefone tocou. “Que porra é essa”, disse a
mim mesmo. Não queria atendê-lo. Nem fazia questão de escutar
brincadeiras idiotas de gente igualmente. Eu queria amar. Queria sexo. Queria
um corpo feminino, nu, ao meu lado. Achei melhor não atender o telefone.
A vida imita a arte? Não, talvez. A ficção é a realidade
melhorada, dizia Bukowski. O velho safado escrevera vários contos, ensaios,
romances e poemas. Ele produziu, e tivera seus textos rejeitados. Meu escrito,
senti, está ótimo. Alguns vão chocar-se. Eu quero que eles se fodam. Eu sei
escrever, eu acho. Pelo menos assim dizem-me. Escrevo porque gosto. Se um dia
eu tornar-me um sujeito corajoso, virarei escritor. Por enquanto, vou à
faculdade e ouço palavras nada confortáveis dos professores, cujo ensinamentos são para tornamo-nos seres capitalistas. Dizem que não teremos tempo para nada e assim temos contato com o medo. Mas será que os 'mestres' sabem escrever um conto original? Não. E sabe por
quê? Porque eles vivem a acreditar que a pirâmide invertida é a salvação dos
textos jornalísticos. Este tipo de texto não precisa de criatividade. “Que
porra é criatividade”, devem conservar nas rodas de amigos. “O jornalismo não
precisa ser maçante”, afirmou uma professora. Ela sabe que a comunicação – e o
jornalismo está inserido aí – não precisa ser algo cansativo, repetitivo, que
não foge da fórmula das aspas e dos personagens baratos e clichês. Sábia.
Deixemos este assunto de lado. Ele não vale a pena.
Meu cigarro acabou. A vida está a acabar? Não sei. Certas
coisas não são para nós entendermos. Conformamo-nos com o raciocínio simplista.
E assim vivemos: sem questionar, aceitando tudo o que nos dizem para fazer.
Eles – os senhores da moral – frisam que se seguirmos seus ‘conselhos’, a vida
será leve. Quando deparo-me com isto, preciso deixar as palavras entrar por um
ouvido e sair pelo outro. Quem eles pensam que são?
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