sábado, 9 de maio de 2015

Ensaio de um jovem estudante

Começo esse texto sem saber como irei termina-lo. Dizem que arquitetamos o nosso pensamento – sobretudo quando escrevemos. Mas vou fugir à regra. Gosto de pensar, divagar no emaranhado de minha mente. Penso e amo – porque o amor é à base da vida. Às vezes coloco um disco para tocar. Geralmente perambulo no rock psicodélico – pois considero-me um solitário da geração do amor. Adoro ouvir o teclado de Manzarek. A poesia de Morrison. Para mim, The Doors é inigualável. Gosto de apreciá-lo.

Vou ao meu maço de Marlboro e ponho um na boca. Acendo-o e fumo. Olho para as paredes que me cercam. Elas não me dizem muitas coisas. Porém, finjo prestar atenção em algo que não sei bem ao certo o que é. Preciso – como a humanidade – da ignorância. O saber incomoda. Quem quer pôr seus valores em cheque? Ninguém. As pessoas pedem nas ruas, nos bares, no trabalho, na vida, por sossego. Mas elas não querem uma tranquilidade convencional. Elas estão cercadas pelo medo. Não amam. “Eu te adoro”, quase nunca falam. E tem medo. Não conseguem chutar o balde e dizer: “Hoje vou encher a cara até amanhecer o dia”. Se fizerem isso, ficarão, provavelmente, desempregadas. E aí, como irão pagar as contas, no final do mês? E o carro, que os faz transar com mulheres peitudas, bundudas e gostosas quem o financiará?

The Doors – o álbum – acabou. Vou ao acervo do youtube e procuro um som para finalizar este texto. Acho que ele está bom. Há tempos não conseguia escrever uma ideia original. Eu lia os caras fodas, e queria reproduzi-los. Escrevi linhas e linhas, sem nenhum verbo, sequer, ser de minha autoria. Porém, como disse Morrison, a copia salvou-me. Agora, livre da repetição, penso numa garota que está presente, há algum tempo, em minha vida. Seus cabelos loiros levam-me para o paraíso. Queria falar sílabas de conforto em seu ouvido, mas tudo o que me vem à cabeça são alucinações de um rapaz que cursa jornalismo, e é um pé rapado.

O telefone toca. “Caralho, não vou conseguir terminar isso aqui”, cogitei, por um momento. Deixei-o tocar. Recorrei à geladeira. Havia uma cerveja. Abri, e ouvi o estralo da latinha. Provavelmente, os vizinhos também o ouviram. “Foda-se”, pensei. Hoje beberei, sem compromisso, nem amargura. Quero beber para celebrar o amor e a vitória e a arte, tão esquecida. Grace Slick parou de cantar. Reproduzia a apresentação do Jefferson Airplane, no festival de Woodstock, em 1969, em meu computador. “Somebody to love”, cantara Slick, em minhas caixas de som. Novamente, o telefone tocou. “Que porra é essa”, disse a mim mesmo. Não queria atendê-lo. Nem fazia questão de escutar brincadeiras idiotas de gente igualmente. Eu queria amar. Queria sexo. Queria um corpo feminino, nu, ao meu lado. Achei melhor não atender o telefone.

A vida imita a arte? Não, talvez. A ficção é a realidade melhorada, dizia Bukowski. O velho safado escrevera vários contos, ensaios, romances e poemas. Ele produziu, e tivera seus textos rejeitados. Meu escrito, senti, está ótimo. Alguns vão chocar-se. Eu quero que eles se fodam. Eu sei escrever, eu acho. Pelo menos assim dizem-me. Escrevo porque gosto. Se um dia eu tornar-me um sujeito corajoso, virarei escritor. Por enquanto, vou à faculdade e ouço palavras nada confortáveis dos professores, cujo ensinamentos são para tornamo-nos seres capitalistas. Dizem que não teremos tempo para nada e assim temos contato com o medo. Mas será que os 'mestres' sabem escrever um conto original? Não. E sabe por quê? Porque eles vivem a acreditar que a pirâmide invertida é a salvação dos textos jornalísticos. Este tipo de texto não precisa de criatividade. “Que porra é criatividade”, devem conservar nas rodas de amigos. “O jornalismo não precisa ser maçante”, afirmou uma professora. Ela sabe que a comunicação – e o jornalismo está inserido aí – não precisa ser algo cansativo, repetitivo, que não foge da fórmula das aspas e dos personagens baratos e clichês. Sábia.

Deixemos este assunto de lado. Ele não vale a pena.

Meu cigarro acabou. A vida está a acabar? Não sei. Certas coisas não são para nós entendermos. Conformamo-nos com o raciocínio simplista. E assim vivemos: sem questionar, aceitando tudo o que nos dizem para fazer. Eles – os senhores da moral – frisam que se seguirmos seus ‘conselhos’, a vida será leve. Quando deparo-me com isto, preciso deixar as palavras entrar por um ouvido e sair pelo outro. Quem eles pensam que são? 

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