segunda-feira, 11 de maio de 2015

É disso que escritor precisa

José não queria saber de trabalhar. Escrevia, escrevia e escrevia. E frequentemente participava de concursos literários, cujo resultado ele já esperava. “Seus textos são muito obscenos, cara”, diziam os amigos. Mas José continuava a escrevê-los mesmo assim: eróticos, pesados, sexuais. Assim eram os escritos. Não pensava na complexidade da gramática. Optava pelo sujeito, verbo e predicado. “Essas frases longas, não servem pra nada”, afirmava.

- e aí Zé, quando que vai sair aquele texto fodástico? – diziam os mais próximos.

– não sei - respondia, sem dar a mínima para os devaneios dos colegas.

- cara, larga essa merda. Faça outra coisa da vida. Ultimamente você fica só sentado em frente ao 
computador, batendo nas teclas. Enquanto isso, várias bocetas estão aí, bem na sua cara.

Ele refletiu. Pensou por noites e dias, enquanto enchia a cara de madrugada. “Quero ser escritor. Mas todos me rejeitam, porra”, pensava introspectivamente. “O quê há de errado com meus textos?”. Nem Zé sabia a resposta:

- acho que vou deixar a literatura de lado. Não é pra mim essa coisa de texto.

- mas....

- não tem ‘mas’, não. Quero fazer algo útil!

- e escrever não é ‘útil’? – disse João, na mesa do bar, simbolizando as aspas com os dedos.

- é, mas de que adianta escrever para caralho, se ninguém me lê?

- ué, desde quando cê precisa de alguém que o leia?

Veio-lhe a cabeça os mestres. Bukowski foi anos sem ninguém publicar-lhe. E neste período, passara a acreditar que era um gênio. Oscar Wilde afirmou que a arte é individualista e que todo artista não deve pensar em seu público.

Zé levantara da mesa.

- me dê uma dose de Velho Barrero – pediu, gentilmente, com a voz suave, ao garçom – preciso beber! – exclamou, alterando, imediatamente, a tonalidade da voz.

O barman viera com o copo transbordando. A bebida, felicidade do escritor. “Bukowski também faria a mesma coisa”, imaginou.

Bebericou o destilado. Fez careta e sentou-se à mesa com João.

- vou embora – disse a João – agora sairá o livro.

- pô, tudo bem, cê que sabe...

Por alguns instantes, os dois ficaram se olhando. Ninguém disse nada. Zé quebrou o silêncio:

- preciso escrever.

- então vai.

- cê não sabe como é complicado ficar semanas sem escrever nada.

- suma daqui!

Zé fora embora, resmungando. Parou num bar, comprou uma garrafa de conhaque e saiu predestinado a escrever um texto, que em sua mente, iria abrir-lhe as portas para o reconhecimento do mercado literário.

Enquanto caminhava pelas calçadas esburacadas da cidade, ele parou, acendeu um cigarro e continuou a jornada. Não tinha carro, porque acredita que não servia para nada. E também não tinha dinheiro para comprá-lo. 

Uma voz cálida chamou-lhe na escuridão da noite. Ele virou o rosto e deu um sorriso, sem enxergar quem era. A garota foi se aproximando:

- não lembra de mim? – perguntou.

Zé olhou-a e emendou:

- lembro, lembro.

Alice estava deslumbrante. Cabelos soltos, balançando ao vento. Cigarro entre os dedos e olhar sedutor. As unhas da mão estavam coloridas por um vermelho cintilante. Ela era sinônimo de delicadeza. Zé, bêbado, com a voz arrastada de destilados baratos, chamou-a para ir a sua casa ouvir um disco.

Na verdade, Zé encontrava-se tomado por intenções sexuais. “Quero fodê-la toda”, divagava. Alice, também sabia o que lhe podia acontecer. Quando se bebe, os fatos se desenrolam com uma velocidade alucinante. Zé pôs a mão no bolso. Tirou um cigarro, acendeu-o. Um beijo dera nela. Alice observou o fundo da retina dele.

- que porra é essa? – questionou Alice.

- o quê foi? – disse Zé, se fazendo de idiota.

- como assim, cê me beija no meio da rua. Não te vejo há mil anos, e você me fez uma merda dessas. Pirou, cara?

Novamente, ele estava preso no emaranhado de sua mente. O quê dizer? Como falar? Quando falar? Será que agora é o momento? Zé não sabia de nada. O tempo parecia ter congelo quando ele a beijou.

Zé sugeriu, num ato de brilhantismo e Inteligência raros:

- vamos lá pra casa, a gente pode ouvir um blues, beber um pouco e nos amar. O quê acha?

- me parece uma proposta convincente – rebateu, sem deixá-lo colocar o raciocínio no lugar.

Ela aceitou o convite.

Eles passaram por um semáforo e logo viraram à direta, numa rua deserta. As casas dali eram todas soturnas. Não havia ninguém na rua. Zé morava numa casa sombria.

- chegamos – disse ele.

Alice abriu um sorriso.

Quando ele terminara de fechar a porta, ela empurrou-o sobre a cama que estava encostada na parede da sala. Zé batera com a cabeça. E Alice fora pra cima dele. Tirara sua roupa. Beijara-lhe o corpo todo, com a feição de quem está gostando.

Zé caíra na boceta dela, imediatamente. Chupara-a com respeito, responsabilidade e dignidade. Então, quando ela já estava toda molhada, ele meteu. Enfiou calma, tranquila, serenamente, lutando para não interromper a transa com uma gozada indesejada.

Alice gemia.

E Zé seguia a meter.

- que boceta gostosa, caralho!

Alguns minutos depois, ele explodiu dentro dela. Ambos se abraçaram e beijaram-se.

BB.King cantava Summer in the city na vitrola.

É disso que um escritor precisa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário