José não queria saber de trabalhar. Escrevia, escrevia e
escrevia. E frequentemente participava de concursos literários, cujo resultado
ele já esperava. “Seus textos são muito obscenos, cara”, diziam os amigos. Mas
José continuava a escrevê-los mesmo assim: eróticos, pesados, sexuais. Assim
eram os escritos. Não pensava na complexidade da gramática. Optava pelo
sujeito, verbo e predicado. “Essas frases longas, não servem pra nada”,
afirmava.
- e aí Zé, quando que vai sair aquele texto fodástico? – diziam
os mais próximos.
– não sei - respondia, sem dar a mínima para os devaneios
dos colegas.
- cara, larga essa merda. Faça outra coisa da vida. Ultimamente
você fica só sentado em frente ao
computador, batendo nas teclas. Enquanto isso,
várias bocetas estão aí, bem na sua cara.
Ele refletiu. Pensou por noites e dias, enquanto enchia a
cara de madrugada. “Quero ser escritor. Mas todos me rejeitam, porra”, pensava
introspectivamente. “O quê há de errado com meus textos?”. Nem Zé sabia a
resposta:
- acho que vou deixar a literatura de lado. Não é pra mim
essa coisa de texto.
- mas....
- não tem ‘mas’, não. Quero fazer algo útil!
- e escrever não é ‘útil’? – disse João, na mesa do bar,
simbolizando as aspas com os dedos.
- é, mas de que adianta escrever para caralho, se ninguém me
lê?
- ué, desde quando cê precisa de alguém que o leia?
Veio-lhe a cabeça os mestres. Bukowski foi anos sem ninguém publicar-lhe. E neste período, passara a acreditar que era um gênio. Oscar Wilde afirmou que a arte é
individualista e que todo artista não deve pensar em seu público.
Zé levantara da mesa.
- me dê uma dose de Velho Barrero – pediu, gentilmente, com
a voz suave, ao garçom – preciso beber! – exclamou, alterando, imediatamente, a
tonalidade da voz.
O barman viera com o copo transbordando. A bebida,
felicidade do escritor. “Bukowski também faria a mesma coisa”, imaginou.
Bebericou o destilado. Fez careta e sentou-se à mesa com
João.
- vou embora – disse a João – agora sairá o livro.
- pô, tudo bem, cê que sabe...
Por alguns instantes, os dois ficaram se olhando. Ninguém
disse nada. Zé quebrou o silêncio:
- preciso escrever.
- então vai.
- cê não sabe como é complicado ficar semanas sem escrever
nada.
- suma daqui!
Zé fora embora, resmungando. Parou num bar, comprou uma
garrafa de conhaque e saiu predestinado a escrever um texto, que em sua mente,
iria abrir-lhe as portas para o reconhecimento do mercado literário.
Enquanto caminhava pelas calçadas esburacadas da cidade, ele parou, acendeu um cigarro e continuou a jornada. Não tinha carro, porque acredita que não servia para nada. E também não tinha dinheiro para comprá-lo.
Uma voz cálida chamou-lhe na escuridão da noite. Ele virou o
rosto e deu um sorriso, sem enxergar quem era. A garota foi se aproximando:
- não lembra de mim? – perguntou.
Zé olhou-a e emendou:
- lembro, lembro.
Alice estava deslumbrante. Cabelos soltos, balançando ao
vento. Cigarro entre os dedos e olhar sedutor. As unhas da mão estavam
coloridas por um vermelho cintilante. Ela era sinônimo de delicadeza. Zé, bêbado,
com a voz arrastada de destilados baratos, chamou-a para ir a sua casa ouvir um
disco.
Na verdade, Zé encontrava-se tomado por intenções sexuais. “Quero
fodê-la toda”, divagava. Alice, também sabia o que lhe podia acontecer. Quando
se bebe, os fatos se desenrolam com uma velocidade alucinante. Zé pôs a mão no
bolso. Tirou um cigarro, acendeu-o. Um beijo dera nela. Alice observou o fundo
da retina dele.
- que porra é essa? – questionou Alice.
- o quê foi? – disse Zé, se fazendo de idiota.
- como assim, cê me beija no meio da rua. Não te vejo há mil
anos, e você me fez uma merda dessas. Pirou, cara?
Novamente, ele estava preso no emaranhado de sua mente. O
quê dizer? Como falar? Quando falar? Será que agora é o momento? Zé não sabia
de nada. O tempo parecia ter congelo quando ele a beijou.
Zé sugeriu, num ato de brilhantismo e Inteligência raros:
- vamos lá pra casa, a gente pode ouvir um blues, beber um
pouco e nos amar. O quê acha?
- me parece uma proposta convincente – rebateu, sem deixá-lo
colocar o raciocínio no lugar.
Ela aceitou o convite.
Eles passaram por um semáforo e logo viraram à direta, numa
rua deserta. As casas dali eram todas soturnas. Não havia ninguém na rua. Zé
morava numa casa sombria.
- chegamos – disse ele.
Alice abriu um sorriso.
Quando ele terminara de fechar a porta, ela empurrou-o sobre
a cama que estava encostada na parede da sala. Zé batera com a cabeça. E Alice
fora pra cima dele. Tirara sua roupa. Beijara-lhe o corpo todo, com a feição de
quem está gostando.
Zé caíra na boceta dela, imediatamente. Chupara-a com respeito,
responsabilidade e dignidade. Então, quando ela já estava toda molhada, ele
meteu. Enfiou calma, tranquila, serenamente, lutando para não interromper a
transa com uma gozada indesejada.
Alice gemia.
E Zé seguia a meter.
- que boceta gostosa, caralho!
Alguns minutos depois, ele explodiu dentro dela. Ambos se
abraçaram e beijaram-se.
BB.King
cantava Summer in the city na vitrola.
É disso que um escritor precisa.
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