Não
restam mais dúvidas: quanto mais beira o irreal, com gritos à noite toda, como se vê e se ouve na tela do cinemão pornô, mais interpretativo, digo, fingido é
o tal do orgasmo.
A
gente se mata, pinga suor pelo corpo todo, mas não adianta: os gritos da moça
nunca são condizentes com a nossa performance que mais parece ter saído das
páginas de Mulheres, do dirty old man, Bukowski, bêbado numa madrugada
californiana.
Não
é à toa que os melhores orgasmos guardam um preceito educacional nos gemidos,
como Jane Birkin, em Je taime moi non
plus, do feioso Serge Gainsburg, a melhor música pra se ouvir durante a
copulação.
Una
canción muy bella, mi amigo.
Este
lesado e medíocre cronista de costumes que vos escreve já passou por situações
em que a moça por pouco não rachou as paredes do quarto. Todavia, estávamos no ímpeto
sexual, com ela mordendo levemente a boca e eu encarando seus olhos, e nada
parecia ter importância nessa porra.
Mas
quando a tua moça lhe gritar durante a hora agá, desconfie. Esta gritaria toda
só serve para causar inveja no casal do apartamento de cima, que não se dedica
a arte milenar do amor há uns dez, quinze anos.
Incrivelmente,
os gritos só costumar ocorrer quando o gozo não passa de truque, o tal
melodrama das mulheres – que elas desempenham com assombrosa facilidade, inclusive.
O
gozo desesperado, barulhento e fantasmagórico costuma ter origens remotas, como
me soprou o pai do amor livre, doutor Reich. O gozo desesperado, barulhento e
fantasmagórico costuma ter origens em alguma interpretação estranhamente
equivocada dos manuais do Actors Studios.
Agora,
meu ilustre leitor, os melhores orgasmos vêm das moças contidas no gemido, das
que puxam a cabeleira do amante e lhe dizem alguma sacanagem ao pé do ouvido, das
que contorcem a musculatura e depois dão um beijo caloroso na boca do amado,
pois como dizia o Nelsão Rodrigues: “sem dentadas, não há amor”.
Uma
coisa é a gritaria que mais se parece com alguma produção da Brasileirinhas,
que pode fazer um edifício pegar chamas ou algo do gênero. Outra, muito, muito
melhor é a gemedeira delicada, gostosa, lirismo corporal, decassílabo orgástico,
a asma do amor, dos corpos, a falta de fôlego, a respiração acelerada, Jesus!
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