sábado, 17 de dezembro de 2016

O ano da escuridão, da falta de lirismo e dos preceitos neoliberais

Tento escrever uma daquelas crônicas do louco amor, mas 2016 me surpreende com alguma notícia esdrúxula e eu sou obrigado a deixar de lado o lirismo baudelairiano.

É preciso falar dos feios, dos sujos, dos marginais que morrem antes dos inacreditáveis 49 anos de contribuição para patrões tão ensandecidos tanto o general Médici, nos tortuosos anos de chumbo.

Você aí, amigo, não se faça de frio ou desentendido, não me venha com esse papo de fazer reforma sem tocar nos bolsos dos ricos. Assim é fácil, ora pois, assim vira manchete nos jornalões, assim os banqueiros continuam assaltando a população com aplausos calorosos dos comentaristas dos telejornalões.

Rasgue teu carnê da dívida externa. O FMI tem muita grana, e não está nem um pouco preocupado com o bem-estar da galera dos países subdesenvolvidos, ou o dito capitalismo periférico, do qual o Brasil faz parte.

Cuidado com o discurso dos partidos políticos que sustentam a política institucional tão viciada quanto Keith Richards, o mítico guitarrista dos Rolling Stones. Cuidado com o lead do Cidadão Kane, digo, da família Marinho. Cuidado com a retórica fajuta dos Jabores da vida.

Cuidado, porra.

Quê é isso, seu cronista? Quanto palavrão nesta tua verborragia vazia.

É, a coisa está feia mesmo, raro leitor. E não é de hoje. É desde a Proclamação da República, em 1889. 

De lá para cá, foram golpes atrás de golpe. Cretinos histéricos por poder não soltaram o osso jamais. E, há uns meses, o estranhamente ridículo Michael Temer, brindado por seus mesóclises, está sentado na cadeira do Palácio do Planalto.

Negras tormentas não nos deixam ver, com diz a música Las Barricadas.

Ah, tá, não devemos nos esquecer da agenda econômica que bebe nos preceitos neoliberal da Escola de Chicago. Os neoliberais, vale frisar, não esquentam a cabeça com "assistencialismo barato". 

Tudo vendido página a página, coluna a coluna. Assim se constrói a narrativa do enredo golpista.

Que ano foda foi 2016, hein.

Primeiro Bowie e depois Gullar.

Fora os tantos outros gênios que nos deixaram, e fizeram de 2016 um ano norteado pela escuridão.

Mas algumas pessoas entram em nossas vidas, e a gente esquece o enredo golpista, o levante reacionário dos cretinos que são citados na lava-jato, o discurso de ódio, a falta de amor, de empatia, de compaixão.

A gente esquece, ainda bem, porque há abraços e beijos e prazeres, de pessoas tipicamente da geração do amor.

Que 2017 seja cheio de amor, paz e lirismo debochado e desenfreado.

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