Já
tive duas mulheres de Câncer, melhor, duas mulheres de Câncer me tiveram, me
dominaram, fizeram gostoso e bonito.
Não
falo dessa coisinha broxante cujo status no facebook seria “estamos num
relacionamento sério”.
Falo
da boa e velha foda, cara, independentemente da temporada no inferno, meu caro
Rimbaud.
As
duas foram transas convencionais, daquelas que lubrifica o psiquismo,
rejuvenesce a vida e revigora o humor. As duas foram do tipo “quero me perder
no teu emaranhado, te abraçar o corpo inteiro”, morrer de amor e me perder em
tuas curvas.
Embora
meus conhecimentos astrológicos sejam iguais aos de um corintiano sobre seu
maior rival, consigo compreender um pouco sobre as cancerianas.
E,
amigo leitor, de uns tempos pra cá eu me considero uma espécie de guru do mapa
astral.
Vai
entender.
Outro
dia, até, abri o DM Revista, na sala de aula, e dei uma olhada no horóscopo do
dia.
O
professor, meio sem entender, soltou:
“Cê
tá vendo horóscopo, Beck?”
“Pois
é, professor”, respondi. “Quero ver o que esta quarta-feira braba reserva pra
mim.”
Evidentemente,
o cara deu uma contida gargalhada. Totalmente compreensível, inclusive.
Precisasse yo de uma desculpa intelectual, recorreria aos escritores hermanos, que amam pôr zodíaco no trem, digo, no texto, como Robert Arlt.
Mas
não é caso.
Este
vira-lata das letras que vos escreve não precisa ir tão longe, afinal é um
pouco complicado sensibilizar alguém nestes tempos em que negras tormentas não
nos deixam ver, nem ouvir, nem sentir, nem pensar, levando-nos ao enredo de Por quem os sinos dobram, de Hemingway.
O
amigo cético aqui, paranaense dos campos-gerais, ilustre frequentador das
espeluncas underground da noite goianiense, numa roda de saias por aí, ouviu de
uma amiga, canceriana:
“Não
aguento minha carência”.
“Por
quê?”, perguntei, no alto de minha habitual leseira.
“Porque
me sinto um pouco vulnerável.”
Que
nada! As cancerianas são carinhosas, e carregam consigo uma carga dramática
extremamente sensual, daquelas que deixariam o fodão do Henry Miller
embasbacado.
Sim,
eu gosto de te ver, canceriana. Com fome, então, a energia orgástica pode
acender um cigarro sem isqueiro, enquanto Something sai no som.
Nunca
tenha o desleixo de deixar uma canceriana magoada. Pode ser a tua única e
última vez. Dê atenção, converse, respeite-a, abrace-a. Se conseguir, cite
alguns poemas cretinos que lhe vier à cabeça.
Poemas,
e não músicas que podem provocar lesões nos tímpanos da moça. E nada dos clichês
bukowskianos que extraiu de Mulheres,
numa sexta-feira à noite em que estava sem grana e com os sentidos tomados pelo
famoso pé na bunda.
Música
é tudo, já disse o doutor Hunter Thompson. E as letras são - principalmente a
poesia - a linguagem da alma.
Nada
como o carinho canceriano.
Eu
quero é que você me aqueça nas tuas conchinhas astrais, canceriana!
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