sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Keroauc, o beat que não desejava ser beat

Escritor desprezava a cultura pop e não queria ser visto como ícone

Jack Keroauc

Ao longo de nove anos, Jean-Louis Lebris de Kerouac, mais conhecido como Jack Keroauc, viajou de Nova Iorque a São Francisco e do México ao Alasca. Quando não estava na estrada, ele passava seus dias com o poeta Allen Ginsberg e com o escritor junkey William Burroughs, autor de Almoço Nu, uma das obras mais importantes da geração beat.

Seus amigos já eram autores famosos nesta época, e Keroauc ainda trabalhava em seu primeiro romance. Pouco tempo depois de lançar On the road, sua oba mais famosa, o autor publicou a novela The subterraneans. Após o lançamento, o texto causou controvérsias pela forma com que relatou os afro-americanos.

Mesmo com todas as críticas que o acompanhavam, o potencial de Keroauc era inegável. Sobre efeitos de benzedrina, ele escreveu The Subterraneans em apenas três dias. Seus textos apresentava uma prosa espontânea, com frases longas, adjetivação empolgada e metáforas bem construídas, sobretudo em On the road.

Refugiado numa cabana nas imediações do Desolation Park, o autor passou dois meses sozinho. Nesse tempo, escreveu 12 novelas, produziu inúmeros haicais e escreveu cartas. De volta a São Francisco, celebrou seu retorno em um clube de jazz, gênero que esteve em sua obra principal.

Geração beat

Considerado um escritor delicado que desprezava a cultura pop, Keroauc é considerado o criador do termo geração beat. Quando On the road foi lançado, nove anos depois de ter escrito o esboço de The Weeks, um trabalho registrado em 36,5 metros de rolo de teletipo, que exigiu densa revisão, acabou sendo leiloado por 2,4 milhões de euros. Em seguida, ele se tornou o autor mais famoso da geração beat.

Na década de 1960, no entanto, Keroauc elegeu a bebida como uma de suas prioridades. E ela o levou a ruína. À época, deu várias entrevistas e provocou má impressão em todas. Declarou que os hippies eram um bando de comunistas. E causou ainda mais espanto quando afirmou que mulheres eram como demônios que deveriam ser mantidas em casa.  Chegou a falar, inclusive, que os negros e judeus eram problemas nacionais. Disse, também, que seu maior sonho era ter sido fuzileiro naval, na Guerra do Vietnã.

Visto como alienado, ele foi à contramão de seus amigos pacifistas, como Allen Ginsberg. Após ser informado que seu amigo, Neal Cassady, que o inspirou a escreveu On the road, se tornou motorista do grupo de escritores Merry Pranksters, Keroauc disse que ele foi sugado pelos hippies e pelo LSD. Cadassy, quando soube da declaração do amigo, afirmou que era triste ver como Keroauc havia desistido de tudo. “Agora ele é apenas um bêbado famoso em seus próprios termos”, frisou Neal.

Vítima de overdose, Neal morreu nas montanhas mexicanas em 4 de fevereiro de 1968. Perto dele havia uma bíblia e cartas antigas de Keroauc e Ginsberg. No mesmo ano, Keroauc finalizou a produção da décima quarta novela biográfica – Vanity Duluz. Na obra, ele recorda que era chamado de Memoru Babe pelks colegas de classe por causa de sua memória privilegiada. “Vivendo novamente em Lowell, sua cidade natal, Keroauc não conseguia se recordar de seus ataques de fúria em decorrência do alcoolismo. Numa noite, ele arremessou uma faca na parede atrás de sua mãe”, relata Steve King.

Morte

Jack Keroauc deixou esse mundo em 21 de outubro de 1969, um ano e sete meses após a morte de Cassady. A causa foi hemorragia gastrointestinal provacada pela cirrose. Mesmo com altos e baixos, ele foi considerado pelo jornal The New York Times como o mais importante escritor moderno desconhecido dos EUA.

“Durante o funeral de Kerouac, o padre escolheu uma passagem bíblica que fala da reflexão de dois discípulos que acompanhavam Jesus até Emaús. ‘Não era como um fogo queimando dentro de nós quando ele falava conosco na estrada?’”, cita King.

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