sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Clássicos da literatura etílica



Tradicionalmente, jornalismo e literatura sempre apoiaram os cotovelos nos balcões dos bares. Mas lembre-se, caro leitor: Bukowski era um bêbado, porém nem todo bêbado é um Bukowski. 

Todo mundo sabe do velho mantra de que álcool faz mal, todavia o que faríamos para suportar a existência sem ele? Jaguar, um dos fundadores do Pasquim, disse que se sentiu traído pelo próprio corpo, quando tomou a decisão de parar de biritar.

“Fui corneado por meu fígado”, afirmou ao Marco Aurélio Canônico, em entrevista à Folha de São Paulo, em 2012. Jaguar, que segundo o jornalista biriteiro, Xico Sá, era um dos maiores beberrões que já viu, cuja energia era algo impressionante de se ver.

Já o Poeta marginal curitibano, Paulo Leminski, não teve a mesma sorte e morreu em decorrência do consumo excessivo de vodca. Outros, meros apreciadores anônimos da melhor invenção russa, também ficaram pelo caminho.

Mestres da prosa americana como Fitzgerald, Hemingway e William Faulkner escreviam com um copo do lado. Eles precisavam de uma garrafa, sobretudo Hemingway que contara suas memórias alcóolicas, em Paris é uma festa.

Aficionado pela orgia verbal e etílica, este que vos escreve adora enxugar algumas cervejas nas horas vagas. E não é de hoje. Desde a adolescência, ele pita e bebe com rara desenvoltura, dizem os amigos, companheiros da maldita vida noturna, digo, boêmia.

Vou lhe falar logo sobre os livros, porque preciso ir ali na esquina comprar uma:

1 - Diário de um jornalista bêbado (L&PM) – História do gonzo no caribe. Mergulhado no humor ácido, característica de Hunter, a obra lhe embriagará logo no primeiro capítulo. O protagonista Paul Kemp diz que “sentia a cerveja correr pelas veias” antes de entrar no avião que o levaria a San Juan.

2 - Pornopopéia (Objetiva) – Em cada esquina reside uma saideira. Reinaldo Moraes, autor do clássico Tanto Faz, obra que mudara a cara da literatura brasileira, descreveu o ciclo dos boêmios, em Pornopopéia, que semanalmente – ou melhor, diariamente – perambulam de bar em bar, atrás de “cerveja e mulher”. Reinaldo domina como poucos a arte de embriagar o leitor com palavras. Fora o trabalho que o escritor faz com a linguagem, repleta de neologismos e gírias. Texto instigante.

3 - Crônicas de um louco amor (L&PM) – Poderia ser qualquer livro do Bukowski, mas acabei escolhendo este por causa do primeiro conto, A mulher mais linda da cidade. Lírico e poético, o texto é um dos melhores do eterno velho safado, o bêbado mor da prosa em língua inglesa.

4 - Paris é uma festa (Bertrand Brasil) – O papa das letras americanas conta suas memórias parisienses neste livro que vai lhe deixar impressionado com a disposição etílica dele. Numa parte da obra, Hemingway descreve uma situação em que estava com Fitzgerald – autor de O grande gatsby. Hemingway, claro, biritou todas e mais um pouco.

5 - Paraísos artificiais: O haxixe, o ópio e o vinho (L&PM) – O poète malditi, Charles Baudelaire, considerado um dos caras que mudaram a forma de escrever poesia, no século XIX, era famoso por frequentar os cafés parisienses e enxugar absinto – a fama verde. Neste livro de ensaios, Baudelaire discorre sobre os efeitos do vinho sobre a percepção do ser-humano, além dos efeitos do ópio e haxixe.

Olhe que nem molhei a palavra, ainda.

Diante dessas obras, convém citar o alter-ego do velho Buk, Henry Chinaski: “É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa”, discorre Chinaski, em Mulheres.

Sem dúvida, tenho de concordar com o cartunista Jaguar, que afirmou que as maiores obras literárias, provavelmente, não existiriam se seus autores não cultuassem o hábito de se embriagar. “A maioria das obras-primas da literatura universal não ­exis­tiria se os seus autores fossem abstêmios”, disse em entrevista à Revista Galileu, em novembro de 2015.

O poetinha, Vinícius de Moraes, outro beberrão notório, coleciona uma das melhores frases sobre bebida. Admirador de um bom scotch, o poetinha escreveu: “O uísque é o melhor amigo do homem, ele é o cachorro engarrafado”.

Lima Barreto, autor do clássico O triste fim de policarpo quaresma, foi indicado por Machado de Assis para ocupar seu posto no antigo jornal do Commercio. Mas o escritor era um biriteiro profissional, e não conseguiu se estabelecer na redação.

Agora acho que vou ali na esquina comprar um goró. É justo, né?

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