quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O resto que se foda

Loucura. Falam tanta essa palavra. Mas quem são os verdadeiros loucos? O artista que procura a solidão, o sossego, a tranquilidade? Ou o homem moderno, cuja vida é sem graça, sem esperança, sem perigo, sem tolice, sem emoção. O homem moderno prefere ficar trancado sob quatro paredes a estar na rua às três da manhã. O homem moderno não sabe o quê é conquistar uma mulher pelo diálogo. O homem moderno acha que sua vida é perfeita e sublime. Então, a escancara na internet. O jantar com um amigo. O beijo na namorada. O grito de bêbado, na madrugada. Tudo está lá, para todos se deleitarem, a qualquer hora. A vida tornou-se um espetáculo, mas não se sabe quem é o protagonista. Ninguém faz tolice. Ninguém tem estilo. Esses homens, reféns tecnológicos, são controlados pelos aparelhos celulares, e não sabem o quê é pegar a carteira e só encontrar uma cédula de dois pila. Nesses momentos só há você e sua velha máquina de escrever e seus discos de vinil e uma mulher – se der sorte. E ela observa-o, com as pernas cruzadas. O sujeito vem em sua direção. Senta-se em sua companhia. Começa a conversar qualquer coisa. Eles se entendem. Ela o entende. E ele pega a mão dela, e dá-lhe um beijo. Olho com olho. Perna com perna, embaixo da mesa. Os dois tentavam celebrar a vida. Os dois queriam a vida, e queriam-na agora. Mas não há dinheiro na carteira. Há apenas sonhos e devaneios na cabeça. Ele chega em casa, fétido da vida boêmia. Sua mulher mandou-o à puta que pariu. Ele pensou. E pensou. E pensou. Contudo, nada podia ser feito. Ele acendeu um cigarro. Fumou-o com a mente carregada de constatações. As palavras que habitualmente escrevia eram constatações sobre a vida. “Careta”, pensava ele, “o mundo é careta demais”. “Meus heróis morreram de overdose”, completava, cantando. As pessoas têm medo do amor. As pessoas querem segurar seus aparelhos de merda, querem falar sobre merda, querem ser uns merdas com alguma grana no bolso. Porque ser um merda com grana no bolso, não é como ser um merda liso. Um homem sem dinheiro sabe que o materialismo patético deixou-nos tolos e idiotas. Agora, a gente acredita que nossas vidas são interessantes, que nada ao nosso redor vale a pena. E aí, um sentimento de medo nos ganha. Somos direcionados à mediocridade, à tolice, às frases feitas e chavões. Sócrates não era medíocre. Nem Nietzsche, nem Rimbaud, nem Henry Miller, nem Kerouac, nem Bukowski; eles tinham consciência, por isso viviam a vida plenamente e unicamente. Não há outra vida. Há o aqui e o agora. Essa é a única certeza de nossa existência. Satre era sábio: “A essência precede a existência.” Primeiro, devo existir. Depois, viverei.  O resto que se foda.

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