Um
belo dia a Deusa das quatro linhas resolveu beijar os pés dos maltratados,
desprezados, excluídos. E desses pés nasceram vários jogadores, espelho
de muitos meninos. Sem muita escolha, vieram abraçados a uma lata de 350 ml de
Coca-Cola e com uma bola nos pés.
Mesmo
antes de aprenderem a andar, sabiam jogar. Na várzea, davam show. Os amigos,
claro, ficavam com raiva e começavam a apelar nas entradas. Mas os meninos,
criativos que só eles, conseguiam escapar dos carrinhos maldosos dos amigos,
que não foram escolhidos pela Deusa.
A
bola os procuravam, os reconheciam. Ela precisava deles. Eles a tratavam com
carinho, a chamavam para conversar quando todos pareciam tratá-la com desdém. No
peito de seus pés, ela descansava. E se embalava no ritmo de seus gingados e
molejos. Eles a davam brilho, a davam voz. E ela falava, e deste diálogo milhões
de pessoas eram iluminadas com tamanha beleza.
Mas,
na última terça-feira (29), os deuses do futebol resolveram ser cruéis. O avião
que transportava a delegação da Chapecoense caiu próximo a Medellín, na
Colômbia. A equipe disputaria a final da Copa Sul-Americana, na próxima
quarta-feira (30), contra o Atlético Nacional. Pela primeira vez em sua
história, os catarinenses chegaram à final de uma competição internacional.
O
voo levava aproximadamente 72 passageiros, além de nove tripulantes. Desses, 22
eram profissionais da imprensa. De acordo com o portal Fórum, apenas um
jornalista sobreviveu. Os outros seis trabalhavam na Fox Sports, emissora que
possui os direitos de transmissão da competição.
A
Federação Catarinense de Futebol (FCF) decretou luto de 30 dias por causa do acidente.
Ao foram ao menos 76 vítimas, incluindo jogadores da Chapecoense. A tragédia
ainda provocou a morte do presidente da Federação, Delfim Pádua Peixoto, que
era um dos vice-presidentes da CBF.
“A
diretoria da Federação Catarinense de Futebol manifesta pesar interminável aos
familiares, amigos, cidadãos chapecoenses, catarinenses, brasileiros e a toda
comunidade do futebol mundial pela maior tragédia do esporte brasileiro
ocorrida com a delegação da filiada Associação Chapecoense de Futebol”, diz a
entidade.
O
jornalista Juca Kfouri, em seu blog, afirmou que todos os clubes deveriam doar
algum jogador promissor para a Chapecoense. Ele ainda sugeriu que os times
entrem em campo, na última rodada, com as cores da equipe catarinense.
Realmente,
seria bonito e tocante, Juca.
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