sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Mais ou menos assim vivem os escritores

Mais ou menos assim vivem os escritores.

Porra. Sou escritor. Sou bêbado. Sou maconheiro. Sou corintiano. Sou uma porrada de coisas. Sou, na verdade, um cara. Sim, sou um cara do caralho. Eu larguei a merda da faculdade por achar que ninguém podia me ensinar nada lá, além de chavões acadêmicos. Literatura não se aprende com diploma teórico. Literatura se aprende na prática, na solidão, na loucura, na angústia, no medo, no sofrimento. E nem Letras, eu fazia. Fazia Jornalismo. Não foi uma escolha difícil, a da profissão. Sempre escrevi. Escrevo desde a infância, acho. Li Nietzsche aos 15, Baudelaire aos 16, Bukowski – especificamente Mulheres – aos 17. Aí, comecei a beber. Enchia a cara por falta do que fazer. Eu morava num condomínio enorme. Puta espaço pra lazer. Fumei muita maconha nos bancos, no bosque, nas garagens, fazendo um som. Trepei inúmeras vezes nesses mesmos bancos. Sinto saudades. Caroline, Agatha, Jéssica, Larissa, Luíza. Meus amores. Com vocês aprendi sobre a vida, sobre vocês – mulheres.

Cheguei em Goiânia há três anos. Comecei a estudar. Caí com a cara nos livros. E estudei pra caralho. Não saia, não bebia. Minha vida era monótona e apática. Todos tinham um lazer. Eu tinha a pressão do vestibular. Passei. E enchi a cara, ininterruptamente. Começaram as aulas, e eu segui a beber. No começo, era uma novidade. As pessoas. Os professores. As conversas. Depois, tudo me cansou. Comecei a perceber um conflito de ego nas rodas de conversa da PUC. Todos competiam pra saber quem tinha mais conhecimento. Eu os achava um bando de idiotas. Porra.. medir conhecimento é foda. É cúmulo da pobreza espiritual e intelectual.

Nesta época, arrumei um emprego num jornal. Uma colega de curso conseguiu a entrevista pra mim. Ela disse pros caras que eu tinha um bom texto, que eu era um puta jornalista – mesmo estando na faculdade ainda -, que era um tremendo desperdício eu não atuar. Bem, lá fui eu. Bolei um fino. Dei uns pegas. Aí, sim. Estava levemente chapado. Cheguei à recepção, apresentei-me e a moça pediu pra eu esperar. Sentei-me, e abri um exemplar do Diário do Cerrado.

Um cara se aproximou. Apertou-me as mãos. E falou pra subirmos.

Na redação, os jornalistas batiam ao computador numa velocidade frenética. O ritmo incessante do noticiário não dá trégua. O jornal tem de informar a sociedade. Porra, se pensar bem, jornalismo é uma profissão do caralho. Só meu pai, adora criticar minha escolha. Filha da puta. Nunca leu uma frase que escrevi, e fica me enchendo o saco. Dá raiva. Tenho, constantemente, vontade de mandá-lo à merda.

O editor me perguntou por que eu havia escolhido ser jornalista. Disse-lhe que por que adoro escrever. Ele arregalou a sobrancelha, e questionou:

- O que você gosta de escrever?

Meio fumado, fiquei pensando por alguns segundos, até responder:

- Tudo... até um romance curto já escrevi.

- Sério? – se surpreendeu o editor.

- Sim.

Seguimos a entrevista.

Então, ele me avisou de que eu teria de escrever um artigo pro jornal. Cheguei em casa, deitei em minha cama. Eu gosto das palavras. E elas simpatizam comigo. Retornei a minha casa, abri uma breja e fui escrever. Segui bebendo e escrevendo.

Aí, meu telefone tocou.

Era uma voz feminina:

- Alô – eu disse.

- E aí? – saudou a voz delicada e meiga, do outro lado da linha.

- De boa. E você?

- Bem.

Eu não fazia mínima ideia com quem falava.

- Seu idiota, cê não faz ideia de quem está falando, né?

- Não mesmo.

- Sempre do mesmo jeito, meu garotinho.

Quando ela pronunciou o vocativo, lembrei-me do seu rosto. Puta mulherão. Uma coroa sensacional. Bunda grande. Pernas de carne farta. Lábios beijáveis. Papo interessante.

- Exatamente como descreveu: do mesmo jeito.

- Escrevendo? Gosto do que escreve. É sobre a vida, sobre a existência.

- Obrigado – eu disse.

Continuamos a conversar. Ela me contou sobre sua vida, sobre seus medos e inseguranças. Disse-me que sua vida se tornou careta desde a minha partida. Caceta, bicho. Qualquer cara que receber essas palavras entra em colapso. É como um murro. Foda. Mas porra, Marcus. Quando há uma oportunidade decente, cê as dispensa. Diz que não consegue levar um relacionamento tradicional. Aí, elas entram e saem de sua vida. E você segue melancólico. E os outros andam com elas por aí, enquanto você anda com sua garrafa embaixo do braço. Sou artista. Sou foda. Eu escrevo, caralho. Escritor tem compromisso com a literatura. Compromisso com literatura? Cê chama isso que escreve de literatura? Um amontoado silábico, cheio de palavrões, criticando e ironizando Deus. Marcus, às vezes cê se comporta como um perfeito idiota.

Finalizei o texto.

“Tenho uma forte ligação com a contracultura. Descobri Satre – pai do existencialismo – e passei a acreditar que “estamos condenados a ser livres”. O francês iniciou sua carreira acadêmica nos anos 30, quando escrevera a A imaginação – um ensaio que transita entre Filosofia e Psicologia. “A imaginação é infinita”, afirma na obra. Nesta época – década de 30 – Satre era considerado alienado por não dar a mínima à política. Ele viva bêbado, quando estudante, junto de Simone de Beauvoir, sua esposa. O casal jamais constituíra uma família aos moldes da classe média. Satre viva a perambular de hotel em hotel, escrevendo ensaios, críticas, romances, teses, peças de teatro. Nenhum intelectual produziu quanto ele”, assim iniciava ele.

Dinheiro é uma merda, era o título.

Sou um existencialista, com um pé na contracultura, no ácido.

Mandei-o pro e-mail do editor. Alguns dias depois, ele me ligou e disse que eu estava contratado. O trabalho, a priori, era fácil. Ia pra rua, apurava a matéria, entrevistava fontes e redigia o texto.

Pela manhã, comia hambúrguer, fumava um e bebia uma breja. Era um café da manhã violento, e eu eventualmente chegava à redação pirado. Lá, participava da reunião de pauta. Lia os jornais. E saia pra rua. Depois, volta pra redação. Escrevia e ia pro Porcão, beber uma. Minha grana ia toda embora com breja, ácido e fumo.

- Desde que começou a trabalhar, a piração só aumentou, bicho – me disse Zeca.

- Pois é. Foda. Sabe como é, né?

- Meu, cê tem que parar. Cê pode morrer, seu idiota.

Morrer? Nunca vi, nem tive notícia de pessoas que morreram por causa de ácido. Se você encher a cara do bagulho, a única coisa que vai lhe acontecer é uma onda sem precedentes. Uma viajem muito maluca.

Na maioria das vezes, eu chegava em casa. Ligava um som. E caminhava pela casa, pelado. Marcus, seu babaca. Cê parou de escrever. E cê aí bate no peito e diz: “Sou artista”. Porra, artista que não escreve, que não pensa, que só bebe e toma ácido. Cê vive com essa tua filosofia aí. Cê vai se foder, cara. Se liga, bicho.

O telefone tocou.

- Pronto?

- Ou, cê vai fazer o que hoje, cara?

- Sei lá, Zeca. Acho que vou ficar em casa. Tenho que terminar uma matéria.

- Porra... que viadinho.

Zeca deu uma forte gargalhada.

- Vá se foder.

- Sério, brother. Sabe a Fernanda?

- Sei, pô. É a mulher do Carlos.

- Exato.

- E o que tem ela?

- Vai tá lá.

- Bem, foda-se... vamo lá, cara.

- Esse é o Marcus que eu conheço.

Desliguei o telefone. Liguei um Doors nas alturas.

Zeca, seu filha da puta.

Sou Jim Morrison. Sou Bukowski. Sou Henry Miller. Sou foda, porra.

Entrei em meu velho Passat. O carro tava fudido. Dava vergonha de andar nele, mas era bem melhor do que depender do transporte público. Cheguei na casa do Zeca. Ele já estava na porta. Entrou no carro, e tirou um. Insinuei que o baseado podia passar entre os dentes, de tão fino. Zeca me mandou tomar no cu.

- A mulher do Carlos é gostosa demais, puta que pariu! – exclamei.

- Ela é a rainha dos meus sonhos.

- Amor de nossas vidas – completei.

Fernanda era deslumbrante. Tinha um metro e setenta. Olhos castanhos. Cabelo ruivo. Lábios loucamente sexuais. Eu os olhava e ficava pensando como seria o boquete dela. Ela deveria ser competente na arte de chupar.

Ao chegarmos, Zeca esticou uma carreira. Deu um tiro. E deixou uma linha pra mim. Eu não cheirava, portanto lhe disse pra guardar o bagulho. Hotel California tocava no fundo. Ambos estávamos mais uma vez chapados. Zeca podia ser considerado o guru da loucura. Não deu certo na escola, nem no trabalho. Ele não gosta de coisas responsáveis. Zeca gosta de viver à beira do abismo. A loucura é o seu tesão.

Descemos do carro. Eu segurava minha latinha de breja. Zeca fumava seu Marlboro. Cumprimentamos a galera.

Light my fire começou a tocar.

Imediatamente, olhei pra Fernanda. Ela estava maravilhosa. Talvez mais que o normal. Bem, Fernanda é sensacional de qualquer jeito. Seu vestido lhe realçava a beleza, moldava seu corpo sinuoso. Fernanda estava pra matar.

- Porra – ladrou Zeca -. A Fernanda tá gostosa de demais.

- Puta que pariu.

Pensei num crônica. “Ruivas são demais”. Esse seria o título. Só preciso escrevê-la. Eu podia voltar pra literatura, aí. Marcus, cê deveria ter ficado em casa. Mas se eu ficasse em casa, a ideia não iria vir. E tudo iria continuar a mesma merda. Bloqueio do caralho.

Fernanda se dirigiu até mim. Deu-me, gentilmente, um beijo no rosto. A gente já se conhecia. Ela fazia faculdade comigo. Éramos da mesma turma. Aí, ela arrumou um namorado babaca, com cara de menino criado por vó.  Era certo demais. Bebia controladamente. Lia Stephen King. Achava Cinquenta tons de cinza um livro erótico. E Indie coisa de macho. O cara é ou não um mané, porra?

Acendi um cigarro. Fernanda também. Então, fiz-lhe um elogio:

- Cê tá estonteante.

- Obrigada, gatinho.

Refleti por alguns instantes, e emendei:

- Pô, a vida é curta demais. Então, foda-se: cê equilibra o mundo, com teu estilo. Quando olho pros 
teus lábios, sou tomado por uma louca vontade de te beijar.

- Gracinha – respondeu ela.

Beijei-a violentamente. Falei sacanagens no ouvido dela. E ela me deixou de pau duro. Eu esfregava meu cacete nela, que dizia em meu ouvido “aqui não, meu bem”. E eu me controlei, mas foi difícil.

Fernanda irradiava sexo.


It´s my life. 

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