quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Blues lisérgico

Eu sou o espião na rua do amor
Eu sou a voz que ulula de madruga
Eu sou o grito do poeta
Eu sou o poeta
E fechei o livro
E saí do quarto
E fui pra rua

Busco o autoconhecimento
Por meio do ácido. Escuto Doors
Enquanto o vizinho grita ao lado
Ele fala palavras ríspidas e agressivas
Eu aumento o som. Ele continua sua peregrinação
Pelos verbos e predicados chulos

Os homens perderam o lirismo
Os livros foram fechados
Os discos irão quebrar
Os filmes não foram escritos, nem filmados

Com meus versos quero que as pessoas pensem
E percebam a vida. E vejam o tempo que gastam com atividades deprimentes
Eu quero caos e inutilidade. Eu perpetuo no caos e na inutilidade
Ter estilo é fazer algo que ninguém faz
Arte pode ser estilo. Tolice pode ser estilo. Merda pode ser estilo

Blues lisérgico noite à dentro
Grito, sexo, drogas, loucura
O poeta busca o conhecimento
Experimenta a existência
E os homens continuam enclausurados em seus muros

Sinta o uivo da guitarra ecoar em sua alma
O mundo precisa de arte
O mundo clama por mentira
O mundo suplica por histórias

Ela passa ao meu lado
Puxo o ar para meus pulmões
E sinto seu aroma
Linda! Bela! Verdadeira pétala num jardim monótono
Alguém tem de apresentá-la à vida

Moça, você está na prisão que criou a si
Você precisa conhecer a poesia
Você precisa segurar minha mão
Você precisa me seguir para paraíso

Ouvi dizer que lá as pessoas são do caralho
Elas tomam ácido e ouvem Doors e Floyd e são todas malucas
E, além de tudo, a poesia é o combustível de suas vidas

Moça, posso declamar um poema ao pé do teu ouvido?
A qualquer momento bombas podem explodir
Os homens são ávidos pelo poder
Transformam-se, facilmente, em cães famintos por destruição
Com alguma grana em mãos
E caso você não queria entrar no jogo deles
O caminho será mais longo, dizem-lhe. Foda-se. Eu quero e anseio
Pelo trajeto mais longo

"A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria"

Rimbaud, Nietzsche, Blake, Ginsberg, Morrison, Bukowski, Leminski
Renunciaram a ordem imposta e foram viver suas vidas plena e unicamente
E a gente quer seguir
Sem ver a noite
A vida perde o sentido quando o sol nasce
Engravatados desfilam em suas fantasias
À noite os bêbados, os chapados, os loucos, os desvairados
Saem para viver, para pensar, para filosofar, para foder, para celebrar

Não há arte com engravatados
Ligue o som
Desligue o sol
E ouça o blues lisérgico do Doors

Marcus Vinícius Beck

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