sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Salto alto não bastou ao Brasil

Minutos antes de começar o certamente, abri uma garrafa de cerveja e enchi meu copo. Jorge da Silva, 41, trabalhador da roça, estava fumando um cigarro, encostado numa num pilar de mármore. Estou no Alphaville. Casa de Paulo César da Silva, 57, magnata do futebol, irmão de Jorge. Ele vestia a camiseta do Atlético-GO, seu time do coração. Prontamente, teci uma piada: “Brasil vai se perder hoje, só por causa da tua camiseta”.

As afinidades com a Alemanha eram visíveis no ambiente. Meu pai, cujo sobrenome é “Beck”, natural de Sttugard, no oeste do país, bradava que “o Brasil merece perder a partida”. Neto de alemão, ele afirmava que a pátria de chuteiras ainda era “medíocre”. Mesmo com cinco títulos. Meu pai, porém, não entende rigorosamente nada sobre o esporte bretão, e eu, é claro, nunca perco a chance de alfinetá-lo, o que o deixa completamente fora de si.

“Não dá, de jeito nenhum, jamais”, brada Wesley, filho do dono da casa, enquanto teclava num aparelho que mais se assemelhava a uma tela de cinema do que um celular propriamente dito. “Só temos o Neymar, e ele está machucado”, lamentou, criticando a irresponsabilidade de Zuniga, lateral da Colômbia, que tirou o craque brazuca da peleja.

A casa era enorme. Parecia a residência de Jay Gatsby, o famigerado personagem de O grande Gatsby. Era fácil de perde-se nela. Para não ocorrer esse risco, maneirei a bebida no início. Mas, quando a seleção canarinho levou o primeiro gol, por volta dos cinco minutos do primeiro tempo, fiz uma avaliação completa de tudo o que acreditava naquela noite. E, imediatamente, enchi mais um copo de cerveja, e bebi uma dose de cachaça.

Gol da Alemanha. Jorge, coração selvagem, abaixou a cabeça, e acendeu mais um cigarro. O primeiro tempo já havia acabado, e a seleção alemã abrira cinco gols de vantagens, somente no primeiro tempo.
Jorge volta com um litro de aguardente. Dos bons. “Rapaz, acho que o Brasil não tem mais chance, não”, afirmou. Ao voltar para pegar a trilha ao banheiro, eis que senti uma pancada: uma porta caíra em minha perna, e por pouco não a partiu.

Tudo certo. Meu telefone toca. Bêbado, meu irmão esbravejou: “O Brasil é uma equipe safada, não sabe jogar futebol. Apostar num piá de merda é pra acabar”, assevera.

A bola rola. Segundo tempo. Oscar, o menino que é incapaz de olhar nos olhos de um jogador alemão, marca o tento de honra do escrete canarinho. “Ele não é ruim de bola, esse menino, acontece que o futebol dele é fraquíssimo. É impossível de imaginá-lo com a camisa da seleção, que é totalmente pesada”, pontua Jorge, zagueiro de futebol de várzea.

O jogo está próximo do fim. Não há nada para se fazer, a não ser sentar e chorar – ou se embebedar para esquecer o vexatório 7 a 1. Pior derrota e, certamente, a mais humilhante da seleção em Copas do Mundo. Até os cães devem estar chateados pelas ruas. Os prostíbulos devem estar lotados de gente atrás de um consolo, ou de alguém para lhe acariciar os cabelos. Alguém que escute o pobre diabo que diariamente é sugado pelo patrão.


Arrogantemente, a seleção brasileira, de Garrincha, Pelé, Rivelino, Gerson, Zico, Sócrates, Romário, Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho, entrou em campo com a convicção de que bastava empinar o salto e tudo estaria resolvido. Não. Salto final: Alemanha 7x1 Brasil. Que vergonha. No rádio, Jorge pôs um clássico da dupla Zezé de Camargo e Luciano.

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