quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ensaio sobre a vida, a morte, a sexualidade e a arte

A gente vive pensando na morte. O quê faremos amanhã? Será que as luzes vão se apagar? Será que eu vou conseguir terminar este texto? A gente têm alguns minutos de excitação sexual, e logo voltamos à rotina maçante e monótona, imposta pelo capitalismo. Em nossas cabeças só há “produção em série”. Ou “produzir para ser alguém”. Dizem por aí que o trabalho dignifica o homem. Mas não seria o ócio- o pai de todas as artes – que dignifica e sensibiliza o homem?

O filosofo Epicuro acreditava que o prazer e a dor são à base do sentimento humano. A dor seria o mal, enquanto o prazer seria o bem. Epicuro discorria sobre a morte, afirmando que o ser humano conseguirá viver em paz quando aceitar a morte, que simboliza, apenas, o fim da consciência. Por isso ela não pode ser emocionalmente dolorosa. A morte é a libertação da alma, sobre o plano existencial. É o fim, amigo, como diz a canção do The Doors.

A existência proporciona-nos experimentar algumas sensações. A cada orgasmo, temos a convicção de que deixamos a nossa marca na vida. Gritamos, porque parece, por alguns minutos, que somos eternos, e temos de gritar. Mas a moralidade e os bons costumes conseguiram transformar a nudez em algo banal, feio, obsceno. Henry Miller fora denominado como pornográfico, ao escrever a trilogia A crucificação encarnada. Nelson Rodrigues satirizava, em suas peças teatrais, os costumes da sociedade burguesa, como bem o fez em Toda nudez será castigada. Foi tido como louco, pela imprensa brasileira.

Só que a sociedade burguesa quer o trabalho rotineiro. A sociedade burguesa não permite a vida plena e criativa. Não é necessário criar, para eles. Na verdade, se você conseguir reproduzir o que querem, melhor. Eles vendem para você uma falsa noção de estabilidade, através de um salário no final do mês. Mas quem disse que queremos ter esta estabilidade? E se quisermos encher a cara, nos bares baratos? Deixem-nos com nossos poemas baratos, em nossos bares baratos, em nossa vida simples e incerta. A vida é incerta, meus amigos. A vida é um palco, cujos atores somos nós. A qualquer hora o enredo poderá chegar ao fim. E as luzes irão se apagar.

A gente quer gozar no ventre feminino. A gente quer contemplar e amar a beleza feminina. William Blake era sábio quando disse que o corpo feminino é a mais bela das obras de arte. Eles geram vida. Eles incendeiam prazer. Eles equilibram o mundo, como falara Truffaut, em O homem que amava as mulheres. Mas a lógica cristã culpa-nos por uma trepada libertadora. Contudo, os homens só vivem na bondade e negam que a forma de um povo está expressa no corpo humano. “A forma como um povo se expresssa nas palavras, no corpo, nos gesto é a maneira como ele se expressa na política e no social que consitui uma nação.”, disse Wilhelm Reich, discípulo da psicanálise freudiana.

Sábio Reich. Já Carl Jung, psicanalista que influenciou o filme oito e meio, de Fellini, acreditava que a mulher é um ser perturbador. “Ela própria, enquanto elemento perturbador, é perturbada”. Ele, ainda, afirmava que elas transformam e iluminam as vitimas da confusão, tornando-se o centro dos acontecimentos. “Como elemento transformador, ela mesma se transforma e o clarão do fogo que acende ilumina e clareia todas as vítimas da confusão.”

Gustave Coubert, em L’origine du monde, não escondera o corpo feminino. Pintara uma vagina. Aquilo chocara os moralistas franceses, que tomados pela lógica cristã acreditavam que o corpo deveria ser escondido e odiado. Edmund Monet, em seu quadro Olympia – nome escolhido pelo poeta Charles Baudelaire -, também pintara as curvas femininas. Como dissera Freud: “Os órgão genitais, cuja visão é sempre excitante, dificilmente são julgados belos; a qualidade da beleza, ao contrário, parece ligar-se a certos caracteres sexuais secundários.”

Henry Miller num trecho de Sexus – primeiro volume da obra A crucificação encarnada -, disse que a mulher esconde entre as pernas o paraíso do mundo. Miller fora um rebelde. Ele renegou toda a ordem imposta. “O poeta é o sacerdote do invisível”, definiu, brilhantemente, Wallace Steves. Miller fora um sacerdote que poetizou e viveu e amou. Amou a vida, acima de todas as coisas. Miller vivia para contar histórias, e não para colocar tostões nos bolsos. Tanto que em vários trechos de Plexus – segundo volume da obra A crucificação encarnada -, ele conta suas façanhas para conseguir dinheiro. Ele não preocupava-se com o que iria comer. Ele apenas queria viver plenamente e unicamente, como o seu mestre Rimbaud, que abandonou a poesia aos 19 anos, para ser traficante de armas na África.

A gente quer ver o sol nascer, sem compromissos banais e insignificantes. A gente quer a poesia. A gente quer o mundo, e o quer agora. Ainda temos tempo de amar e ser amado, cara. O espetáculo não acabou. O ator ainda está no palco, encenando e declamando o horror. Mas ele pode mudar este enredo. Ele pode declamar a poesia dionisíaca - a poesia do sofrimento e da libertação. Estamos perdendo tempo, indo para empregos inúteis, trabalhando oito horas por dia, todo dia. A gente precisa do teatro, da dança, da música, da poesia; a gente quer o teatro, a dança, a música e a poesia todo dia.

(Texto originalmente publicado no Diário da Manhã, em 25/10)

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