Um cigarro a queimar, em minha frente, no cinzeiro. Olho-o,
penso: por quê fumo? Eu preciso estar com algo aceso em minhas mãos. Tragar,
puxar, divagar em pensamentos, enquanto a fumaça entra em meus pulmões. “Cara,
você esta fodendo com tua saúde” – dizem. Mas eu não levo muito a sério este
raciocínio. Se o cigarro fizesse-me mal, por quê fumaria? Não haveria um motivo
certo, honesto e verdadeiro para fumar. Entretanto, os discursos já se tornaram
monótonos, típicos dos que a antena (televisão) compartilha. Deixem-nos com os
cigarros acesos, a fumar nos bares. Eu não faço mal nenhum, a não ser a mim
mesmo – disse Cazuza.
Abro um livro. Leio-o, devagar, sem pressa. As páginas
expressam-me uma mensagem verídica. Aprendo com a literatura. Ela comunica-me,
com sublime realismo, o mundo que cerca-nos. Descobri com os mestres a vida.
Henry Miller, Nietzsche, Dostoievski, James Joyce, Graciliano Ramos, Lima
Barreto, Satre – adoro-os. Convivo com eles, em meu dia-a-dia. Faço faculdade
de Jornalismo, em uma universidade particular – o símbolo da burguesia
decadente. Apesar de novo na aérea (simplesmente estudante), acredito que para
exercer a atividade jornalística com maestria, é preciso ler. Ter visão e
conhecimento de mundo. Escrever, escrever... O jornalismo nada mais é do contar
histórias. E as histórias, geralmente, pedem algo mais, uma veia humanística.
Junto com os livros, também tenho uma paixão especial com as
músicas. Como disse Schopenhauer, “a música é a representação sonora da vida”. Por
meio dela, aprendemos e somos apreendidos por ela. Os instrumentos, na
sincronia artísticas das canções, falam, dizem, expressam, brigam, denunciam. É
a arte e o seu poder, leitor. Não renegue-a. Porque ouvir um blues vai bem.
Jazz é sôfrego. Rock and roll não existiria sem ambos. Além da música
brasileira, que pra mim, é uma das melhores do mundo. Mas criticada por pseudo-intelectuais.
Isso é incontestável. Robby Kriger – guitarrista do The Doors – declarou que
inspirou-se na Bossa Nova para compor Break
on Through.
Simplesmente não consigo ficar um dia sem música. Sou
musicólotra assumido. Amo-a. Todos os dias quando eu chego em casa, depois dos
afazeres, ligo o rádio. Alterno entre Monk, BB King, Muddy Waters, Robert
Johnson, e depois, vou ao Rock: Stones, Doors, Airplane, Joplin. E acendo um
cigarro, com a música a entrar em minhas vísceras. A alma, os sonos, o barulho,
contamina minhas entranhas. Bagunçam meu emaranhado. E eu ligo o foda-se: “Amo
música, caralho”, proclamo.
Ontem cheguei em casa, bêbado e chapado, e coloquei um som.
Optei por Doors. Procurei Stranger Days,
segundo álbum da banda, lançado em 1968. Dormi ouvindo-o. Acordei hoje, com
ressaca, perguntando-me o que faz com
que eu adore a vida boemia. Deixei essas histórias pra lá. Hoje a noite promete.
Vou ouvir um som, fumar um cigarro. A minha vida é assim. E eu gosto, tenham
certeza.
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