sábado, 17 de janeiro de 2015

Assim morreu Henry Miller

Assim morreu Henry Miller.

Não foi o álcool, como dizem os idiotas da objetividade, com a licença de Nelson Rodrigues.

Fernando sentara à mesa. Acendera um cigarro. Ele era mestre na arte da sedução. As mulheres caíram aos seus pés. Certa vez, chegara a ter 4 mulheres, em uma noite. Ninguém acreditava. Todos se perguntavam o que tinha o cara. 

Há tempos Fernando não conseguia escrever. Cagava umas 4 vezes por dia, por falta de ter o que fazer. Ia aos bares ficar bêbado, pela mesma razão. “Estou morto. Não consigo escrever porra nenhuma há algum tempo”, dizia.

Renata, moça atraente e compreensiva, perdera a compostura. Questionara-o sobre um emprego:

- por quê não arranja um emprego decente?

- e quem disse que existem empregos decentes?

- porra Fernando, minha avó ganha mais dinheiro do que você.

Fernando respirara fundo. Contara até 10 em sua mente. Abrira uma garrafa de cerveja. E conseguira retornar à paz.

- estou acabado Renata. Você não tem capacidade para entender isso. Hemingway morreu assim, sem 
inspiração. Sabe quem foi Hemingway? Aposto que não. Burra!

Ela optara pelo silencio.

Mas na verdade, Renata não sabia nada de literatura, nem de arte. Apenas gostava de ver Fernando aflito, bravo, melancólico.

- nem uma história de amor consegue criar. Seu mundo se limita a bares, bebidas e putaria. Seu babaca!

- querida, tenho de esperar, apenas. E se o negócio nunca chegar, irei descer-me até a rua e ir atrás de 
alguma boceta para foder.

Renata olhara dentro da retina esverdeada de Fernando. Ele ficara quieto. Abrira mais uma cerveja. E fora ao banheiro, cagar. “Que cara estranho”, falava introspectivamente Renata.

- vou-me embora. Você nunca criará vergonha na cara para procurar um emprego digno. Escrever não é para você. Quando irá se tocar?

Fernando dera um goele profundo em sua cerveja. Acendera um cigarro. E falara:

- vá!

- vou mesmo, respondera Renata.

Ele vira-a passar pela porta. Fora à janela olhá-la arrastar olhares efêmeros pela rua ,de homens ávidos por uma foda.

Em sua frente havia a máquina de escrever. Sentou-se à frente dela. Batera o primeiro parágrafo: “Renata viera a minha casa. Encheu-me o saco com palavras fúteis. Mandou-me procurar um emprego decente. 
Disse-lhe que nem Henry Miller procurara um emprego decente. Ele queria saber da arte. Amava a arte. A sua vida era a arte. Foda-se o resto”.

Fernando estava cada vez mais convicto de que o seu mundo era o da criação. Que emprego porra nenhuma!

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