Assim morreu Henry Miller.
Não foi o álcool, como dizem os idiotas da objetividade, com
a licença de Nelson Rodrigues.
Fernando sentara à mesa. Acendera um cigarro. Ele era mestre
na arte da sedução. As mulheres caíram aos seus pés. Certa vez, chegara a ter 4
mulheres, em uma noite. Ninguém acreditava. Todos se perguntavam o que tinha o
cara.
Há tempos Fernando não conseguia escrever. Cagava umas 4
vezes por dia, por falta de ter o que fazer. Ia aos bares ficar bêbado, pela mesma razão. “Estou morto. Não consigo escrever porra nenhuma há algum tempo”,
dizia.
Renata, moça atraente e compreensiva, perdera a compostura.
Questionara-o sobre um emprego:
- por quê não arranja um emprego decente?
- e quem disse que existem empregos decentes?
- porra Fernando, minha avó ganha mais dinheiro do que você.
Fernando respirara fundo. Contara até 10 em sua mente.
Abrira uma garrafa de cerveja. E conseguira retornar à paz.
- estou acabado Renata. Você não tem capacidade para
entender isso. Hemingway morreu assim, sem
inspiração. Sabe quem foi Hemingway?
Aposto que não. Burra!
Ela optara pelo silencio.
Mas na verdade, Renata não sabia nada de literatura, nem de
arte. Apenas gostava de ver Fernando aflito, bravo, melancólico.
- nem uma história de amor consegue criar. Seu mundo se
limita a bares, bebidas e putaria. Seu babaca!
- querida, tenho de esperar, apenas. E se o negócio nunca
chegar, irei descer-me até a rua e ir atrás de
alguma boceta para foder.
Renata olhara dentro da retina esverdeada de Fernando. Ele
ficara quieto. Abrira mais uma cerveja. E fora ao banheiro, cagar. “Que cara
estranho”, falava introspectivamente Renata.
- vou-me embora. Você nunca criará vergonha na cara para
procurar um emprego digno. Escrever não é para você. Quando irá se tocar?
Fernando dera um goele profundo em sua cerveja. Acendera um
cigarro. E falara:
- vá!
- vou mesmo, respondera Renata.
Ele vira-a passar pela porta. Fora à janela olhá-la arrastar
olhares efêmeros pela rua ,de homens ávidos por uma foda.
Em sua frente havia a máquina de escrever. Sentou-se à frente
dela. Batera o primeiro parágrafo: “Renata viera a minha casa. Encheu-me o saco
com palavras fúteis. Mandou-me procurar um emprego decente.
Disse-lhe que nem
Henry Miller procurara um emprego decente. Ele queria saber da arte. Amava a
arte. A sua vida era a arte. Foda-se o resto”.
Fernando estava cada vez mais convicto de que o seu mundo era o da criação. Que emprego porra nenhuma!
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