No bar. Lá estávamos, pra variar, bebendo uma cerveja atrás
da outra. Discutíamos sobre a crise econômica, a crise grega e o
conservadorismo pedante e prepotente de Eduardo Cunha. De repente, ouvimos um
grito. Era uma voz feminina que implorava por socorro. Virei à face. Um cara,
bem vestido, cabelos grisalhos e voz rouca, gritou:
- Não quero mais saber de você!
A moça não expressou alguma reação. Ela estava refém da
verborragia dele que, pelo jeito, não sabia nada sobre o sexo feminino. Ele
deveria ter passado sua juventude achando que as mulheres estariam aos seus pés
num estalar de dedos. Mas a garota, discípula de Balzac, sabia como se portar:
- E eu de você, seu idiota – bradou ela. – a gente não se vê
mais. Você não está nem aí pra mim, e nem nunca esteve.
- Como assim?
- Isso mesmo!
- Eu te dou tudo que quer, e é assim que me retribuí?
Ela sorriu. Era um sorriso sarcástico.
Advogada? Jornalista? Professora? Ela tinha jeito de professora, pensei. Levei um cigarro à boca. Fumei até a metade. Aí, apaguei-o e fui à sua mesa. Quando aproximei-me, ela adiantou-se:
- Quem entende os homens?
- Eles são estranhos mesmo.
- Mas não todos.
- Concordo. Só que a maioria tem um complexo de idiotice.
- Engraçado.
- Henry Miller disse que quando amamos alguém, renunciamos
tudo. Menos pessoa amada.
Ela arregalou os olhos com fervor, parecendo estar diante de
um poeta romântico. Completei:
- Esqueça esse cara – falei, colocando um cigarro à boca -,
ele nunca te amou, nem te vai te amar. Ele deve estar mais preocupado com os
negócios que vai fechar amanhã e as putas que vai comer amanhã.
Ao concluir, levantei-me. Ela levantou-se junto, e segurou-me
pelos braços. Fiquei estagnado, próximo ao caixa do bar.
- Obrigado por ser tão gentil – agradeceu.
- Por nada.
- Ninguém nunca fez isso.
- É o quê faço – finalizei, beijando-lhe o rosto.
Todas as mulheres são especiais. Todas escondem um charme
único. Seja gorda ou maga; alta ou baixa; ruiva ou morena; amo-as. Infelizes os
usuários das máquinas de masturbação, esperam por uma deusa das academias.
Estes não sabem nada sobre elas. E nem procuram saber.
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