sábado, 15 de agosto de 2015

LAMÚRIA MASCULINA

No bar. Lá estávamos, pra variar, bebendo uma cerveja atrás da outra. Discutíamos sobre a crise econômica, a crise grega e o conservadorismo pedante e prepotente de Eduardo Cunha. De repente, ouvimos um grito. Era uma voz feminina que implorava por socorro. Virei à face. Um cara, bem vestido, cabelos grisalhos e voz rouca, gritou:

- Não quero mais saber de você!

A moça não expressou alguma reação. Ela estava refém da verborragia dele que, pelo jeito, não sabia nada sobre o sexo feminino. Ele deveria ter passado sua juventude achando que as mulheres estariam aos seus pés num estalar de dedos. Mas a garota, discípula de Balzac, sabia como se portar:

- E eu de você, seu idiota – bradou ela. – a gente não se vê mais. Você não está nem aí pra mim, e nem nunca esteve.

- Como assim?

- Isso mesmo!

- Eu te dou tudo que quer, e é assim que me retribuí?

Ela sorriu. Era um sorriso sarcástico.

Advogada? Jornalista? Professora? Ela tinha jeito de professora, pensei. Levei um cigarro à boca. Fumei até a metade. Aí, apaguei-o e fui à sua mesa. Quando aproximei-me, ela adiantou-se:

- Quem entende os homens?

- Eles são estranhos mesmo.

- Mas não todos.

- Concordo. Só que a maioria tem um complexo de idiotice.

- Engraçado.

- Henry Miller disse que quando amamos alguém, renunciamos tudo. Menos pessoa amada.

Ela arregalou os olhos com fervor, parecendo estar diante de um poeta romântico. Completei:

- Esqueça esse cara – falei, colocando um cigarro à boca -, ele nunca te amou, nem te vai te amar. Ele deve estar mais preocupado com os negócios que vai fechar amanhã e as putas que vai comer amanhã.

Ao concluir, levantei-me. Ela levantou-se junto, e segurou-me pelos braços. Fiquei estagnado, próximo ao caixa do bar.

- Obrigado por ser tão gentil – agradeceu.

- Por nada.

- Ninguém nunca fez isso.

- É o quê faço – finalizei, beijando-lhe o rosto.

Todas as mulheres são especiais. Todas escondem um charme único. Seja gorda ou maga; alta ou baixa; ruiva ou morena; amo-as. Infelizes os usuários das máquinas de masturbação, esperam por uma deusa das academias. Estes não sabem nada sobre elas. E nem procuram saber.

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